segunda-feira, 8 de março de 2010

Vocês que fazem parte dessa massa...


Chegas em casa, em um calor de 40º no Rio de Janeiro, entra em teu quarto e liga o ar condicionado e fica ali, estagnado, de mau humor por conta do imenso calor e da onda de ar quente estacionada em seu estado, e ficas torcendo para chover, chover muito. Enquanto reclamas do calor ou se o seu ar condicionado não gela e que estás desanimado para estudares ou trabalhares porque o ar está tão quente que consegues nem respirar, tu esqueces de lembrar de que pelo menos tens um lugar cômodo, um ar condicionado e, uma localização não tão ruim assim. Ou literalmente não-ruim. Enquanto ficas estagnado, bufando de raiva, lá no sertão, ou até mesmo no teu estado, existem pessoas no qual não param de trabalhar um minuto sequer, debaixo de sol ou chuva. E aí te pergunto: porque? Sabes a resposta, provavelmente deves ter estudado em geografia, sim, aquela aula no qual deve te dar sono ou então ficas tentando dar um de engraçado para sua turma, em vez de prestar atenção no que lhe é dado, pois são raras as pessoas com a oportunidade de estar em uma sala de aula. A população que trabalha na área rural, os trabalhadores rurais, não escolhem estar ali. Não escolhem o que devem ou não fazer. Apenas fazem, no silêncio, porque sabem que se reclamarem, nem aquilo podem ter mais. O que seria uma catástrofe para estes, pois necessitam do pouco dinheiro que lhes é dado para trabalhar naquele local inapropriado ou até mesmo desumano. Se assemelham ao gado, onde são conduzidos por homens que dizem ser ou ter grande posse e, ao contrário deles, ter uma grande conta bancária. - Acho que deves saber o sistema do nosso país e do mundo inteiro, as pessoas se preocupam mais com sua conta bancária, com o que tens, do que pelo que és. Nas entrelinhas, seria: ter para ser. - E por estes 'donos' terem uma conta bancária triplicada ou quadruplicada, acham que podem mandar ou dar ordens às pessoas que nada disso possuem? Para que? Para produzir mais dinheiro e ir mais cédulas com valores imensos para seus bolsos nos quais eles devem gastar todo fim de semana com bebidas das mais caras ou até mesmo em uma roda de amigos comendo do bom e do melhor enquanto aqueles seus trabalhadores, que não têm nem sequer um par de roupas direito para vestir-se, passam fome. Isso é Brasil. Mas não é só no Brasil não, meu caro. Isso acontece com o mundo inteiro, desde a eclosão do pensamento capitalista.
Sabes por quais mãos passaram o leite que tomas pela manhã? Ou a carne que comes no almoço, teve que passar por algum processamento ou até mesmo aquele boi no qual morreu, teve que ser cuidado por alguém. E ainda desprezas as pessoas que te alimentam? Sim, porque são esses trabalhadores miseráveis, que a maioria das vezes não tem um pão para comer e vai trabalhar faminto, que te alimenta. E mesmo assim você ainda teima em dar valor ao homem com grande posse, sendo que, são os homens com o salário negativo que tem uma extrema importância. Esse Brasil que vivemos é resultado do suor das classes baixas, ou nem baixas, das classes miseráveis, que seus patrões ainda enchem o peito para falar que estes são seus subordinados. Na verdade, subordinados são eles, que não conseguem fazer o trabalho que estes outros povos podem. Eles não têm a capacidade de cortar a cana para obter o seu próprio açúcar, e para isso necessita de alguém, e ainda se dizem ser auto suficientes só porque possuem uma Mercedes em sua garagem. Mas esquecem-se de que, para poderem ter o que têm, precisam passar por cima dos seus princípios, se é que têm princípios. Enquanto têm idosos dando seu sangue para ter um balde de água em sua casa no meio do sertão nordestino, estes a jogam pelo ralo.
Quem esses seres humanos que se acham superiores pensam que são para destratar sua raça? Não pode ter compaixão um pelo outro nem um segundo, porque um segundo para eles é dinheiro. Tempo se resume a dinheiro. Então, dão de ombros para aqueles que se machucam no trabalho canavial, ou até mesmo morrem com algum tipo de insolação no trabalho agrícola, para eles é fácil, só substituir. Mas agora me diz, será que estes que sofreram tais danos, irão poder ser substituídos para a família? E aqueles filhos destas gentes que os aguardam ao chegar em casa, na esperança de ter um quilo de feijão ou até mesmo um quilo de farinha para enganar o estômago da fome? Me explica, como deve ser para essas pessoas passar dias com a água escassa e, suportar aquele calor de mais de 40º. Me explica, como deve ser para um pai trabalhador rural, chegar em casa sem um centavo no bolso para o filho, sem poder dar o que o filho queria, porque não pode ou porque não tem. Porque na verdade, seu patrão o paga covardemente mal, para trabalhar o dia inteiro, e chegar no fim da noite com o suor no rosto e ainda com o brilho nos olhos de ter a esperança de um dia poder dar ao filho um estudo adequado ou até mesmo uma bola de futebol que ele nunca teve. Me explica, como deve ser para mãe de uma família, ir trabalhar e deixar seus três filhos em casa, sendo a mais velha ter 7 anos de idade, porque tem que dar o sustento para estes. Mesmo o sustento sendo 5 reais por dia ou 20. O que seria 20 reais para uma família sem ter nem onde dormir direito? E as pessoas ainda têm coragem de abrir suas bocas para falarem de direitos iguais, sendo que elas próprias não olham para o próprio umbigo, e não percebem que seu mundo não se resume à apenas sua academia, seu colégio de classe média alta, e suas festas de socialite. Mas sim, por esse Brasil afora, possui um número gigantesco de pessoas que não possuem nem um par de sapatos para irem trabalhar. Onde os idosos não possuem direitos. Onde as crianças são escravizadas até hoje para produzir o tênis que você usa para jogar futebol. Um país, ou os países, onde a democracia é apenas uma válvula de escape e, a poeira é toda debaixo do tapete.
Agora eu me pergunto todos os dias: quando é que vão dar uma faxina? Ah, me esqueci! estão ocupados pedindo uma pizza.

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