quinta-feira, 25 de março de 2010

Os olhos mentem dia e noite a dor da gente...


Seu único amigo era o Peter Pan. Contentava-se ao longo do tempo, nunca fez questão de que a Sininho também fosse uma de suas amigas, pois sua relação em amizade com outras meninas nunca dava muito certo, ela era sempre de fora. Ou de dentro. Por mais que não pareça, se notares bem e tiveres senso crítico, verás de que essa moça tão resguardada, possui algo que, seu corpo esconde, mas seus olhos denunciam.
Contemplava o espaço a sua volta com afeição e carisma. Não sabia o que veio fazer nessa vida além de viver. Mas era um caso incompreendido de alguém que vive sem saber porquê mas, mesmo assim, vive. Pinta alguns buracos, um aqui outro lá, algumas tocas de coelhos espertos, mas nada muito grave. Certo, as coisas eram graves, mas não nas ciladas, mas dentro de si mesma. Eu teimava a dizer para essa menina, essa moça na qual possui uns anos bem a menos do que eu, que, nessa vida, não importa o que faças, apenas faça. Faça que o amanhã nós veremos. Ou não veremos. Vivemos na incerteza do "quase" para o "quase sempre" porém ambos são do mesmo patamar. Faças o que tem que ser feito, contanto que não prejudique outra pessoa que nem ti... dizia a ela. Li um trecho que dizia mais ou menos assim "Ria quase sempre, uma moça magra controlando sua infelicidade" algo assim. Tinha seu jeito de admirar as coisas da vida, seus pequenos prazeres comparados ao da Amélie Poulain, porém um pouco diferentes: gostava de sorrisos. Seu mundo era pequeno pra quem via de longe, porém enorme para ela mesma. A quem queria agradar a não ser ela própria? Tinha cansado de viver tentando confortar as pessoas nas quais não davam a mínima importância para ti. E então, virou seletiva. Seletiva em amizade, em música, em lugares e principalmente em uma coisa: amor. Nunca foi uma das melhores da turma e, em seu curso, era sempre chamada atenção por sua falta de participação, uns até brincavam maldizendo o que ela estaria fazendo ou onde ela estaria no momento em que todos estão prestando atenção em uma coisa e ela, em nada. Talvez na cor do cadarço de uma pessoa, ou na covinha que um homem tem, ou até mesmo poderia estar na Califórnia visitando São Francisco e, ao mesmo tempo, poderia estar em lugar nenhum. Em hora nenhuma. Olhos fixos a distância, o que dirá?
Pegava-se volta e meia, questionando-se porque quando queres esquecer uma coisa, nunca consegues. Talvez seja justamente pelo fato de lembrares de esquecer certa coisa, certo assunto, certo rosto, e acabas lembrando toda hora. E aí vem nosso amado e tão querido Quintana fazendo versos e prosas para nosso texto hoje: "Será que nunca deixo de lembrar que eu já te esqueci?" e, com as mãos lentamente em seus bolsos, vira-se contrária a rua em que seguia e, com um passo de quem dá para outra coisa, ela dava este. Quero outra coisa, pensou.
Não sou metade mas também não me basto. Recitou baixinho, para si mesma, como quem canta uma melodia para acalmar teu corpo, tua alma, tua mente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário