domingo, 4 de julho de 2010

Ausência Presente


E ele que me contemplava no silêncio, passava a mão sobre a minha cabeça, sorria-me um sorriso de paz, e sempre dispensava as palavras ao chegar-me. Não esperava uma atitude minha. Ele fora sempre tão dentro de si e dentro de mim, que de alguma maneira, falávamos entre as línguas, algo no qual ninguém entendera, apenas nós dois. Era um certo tipo de linguagem criada para a fala de duas pessoas vítimas de algo abominável e ao mesmo tempo, tão singelo. Suas mãos sempre foram grandes demais para assegurar-me em seu peito, e longas demais para afastar-me com um impulso vital. Nunca sentia sua ausência por entre meus lábios, e ele muito menos. Tínhamos um ao outro, o que mais poderíamos ter? Que se acabe o mundo, que a conta de luz venha o dobro da que era, corte nosso telefone, tire nosso apartamento, expulse-nos. Só não corte meu único laço umbilical que liga-me ainda neste mundo de gigantes. Sua presença era reluzente sobre meu dia, até o momento em que, ao chegar, ficou imóvel, apenas com aqueles olhos pretos fixos em mim, esperando um certo tipo de aproximação, ou atitude. E ali eu começara a sentir sua falta por entre meus braços, e minhas mãos tornaram-se ásperas pela espera dele vir em minha direção e tirar-me da inércia, puxando-me para um longo e forte abraço onde as palavras são descartadas. E ali me dei conta, sua ausência nunca foi tão dolorida como naquele momento. E o vi como eu nunca o tinha visto antes, e eu o desejei como se eu nunca tivesse o tido dentro de mim. Quebrei a distância dando um passo para frente e largando-me em seus braços, e ele, que sempre esteve ali, para mim era como se só tivesse presente, naquele instante.

sábado, 19 de junho de 2010

Depende de como você vê

A vida se inventa
A vida se cria
A vida se exala
A vida se esguia

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Poema para Sebastião

"Te fiz um samba de saudade
Dos acordes, minha metade
Da viola, meu divã
Pra te lembrar do meu desgosto, Sebastião."

Eu estava lendo uns versos alheios, quando me veio à mente, escrever um samba canção sem melodia. Um poema. Sebastião é o nome escolhido, para distinguir alguém que eu nem sei quem. Minhas táticas faceiras de demonstrar de que uma saudade pode ser exprimida em quatro versos. Fui buscando nas entrelinhas de palavras, alguma justificação no que eu iria transpor. E o desgosto, na parte final, é como se Sebastião tivesse aprontado tantas com ela, porém esta mesma não perdoa-se por sentir a falta dele e mesmo assim, ainda demonstra. Mas nunca deixa de relatar seu desgosto pela sua partida.

domingo, 6 de junho de 2010

Domingo


Você sai pela rua, na intenção de perder teus passos por algum lugar no qual não identificas. E entras em algum lugar mais quente, pois não só ti, mas teu coração também, está morrendo de frio. E as vezes, o frio interno parece não esquentar nunca. Seria engraçado, um frio esquentar. Paradoxo gostoso esse. Mas ainda não inventaram casacos para este tipo de frio, enquanto isso, tu pedes um café para ver se melhoras do teu frio. O inverno está chegando, mas parece que pra ti, durante toda sua vida, têm sido sempre inverno. Ou outono. Oscilam um pouco. Mas na verdade, tu sentes falta do verão. Mas não digo de estações do ano, mas estações do corpo, digamos. Mas dentro, tu me entendes? E não fora. Tem nada a ver com o que temos fora. Na verdade, é o que pouco importa. Todos sabem fingir muito bem, quando algo está apertando. É a coisa mais fácil, como diz o Caio, colocar um Band-aid no coração, um sorriso nos lábios, e tudo bem. Mas e quando esse sorriso, estiver sendo difícil de mostrar? O que fazemos?
O que acho mais graça, em escrever, é criar objeções. Você está feliz, porém estás triste, mas assim tu continuas fingindo sua vida e quando ficares um dia realmente triste, quando quiseres largar esse seu fardo, vão ser poucas as pessoas que aproximaram-se de ti. Acredite, eu posso ser nova mas nisso tenho alguma experiência.
Com todo perdão da palavra, meu caro, as pessoas cagam literalmente para os teus sentimentos, e para o que tu deixas de sentir ou pelo que tu sentes. Eles querem mesmo é que tragas benefícios para este, senão, te menosprezam como um cão. Mas as vezes, as pessoas menosprezadas são justamente aquelas que mais doam-se as pessoas em geral. E é uma das piores dores. A dois anos atrás, eu achava que tinha tudo, quando na verdade tinha nada. Tinha nem identidade. Meus amigos eram fantasiosos, e quando eu quis sumir, nenhum deles chegaram e perguntaram algo como: tu-estás-bem?-vem-cá-eu-te-ajudo... mas quando um deles passavam por alguma situação crítica, tu eras sempre o primeiro a estar ali ao lado dele perguntando o que este precisara, ou disponibilizando-se. A questão é: não temos que pensar em nossas recompensas, mas sim nos doar-mos cada dia mais. Mas desgasta. Desgasta demais. As vezes, tu quem precisas ser cuidada, mas aí guardas a tua dor e vai consolar o teu próximo. Como terás força para dar para alguém, se as suas estão quase extintas? Aprendi que não importa quantas vezes tu doe-se para alguém, a maioria das vezes é sempre ti mesmo quem vai sair com alguma conseqüência. Talvez porque exijas muito de ti. Tu preocupa-se com coisas que ninguém se preocupa, mas mesmo assim tu sustentas algo inexistente apenas com aquela esperança disto um dia existir, ou de alguma forma, isto existir para ti. Pode não existir para ninguém a tua volta, mas para ti sim. E o que importa?
O que importa a alguém ler o que eu escrevo? Mas eu escrevo. Porque eu tenho a esperança de alguém ler. E é assim que somos no nosso cotidiano. Todos os dias ao levantarmos, precisamos arrancar com todas as vísceras, sangue, e veias, algo para trocar de roupa, comer, e continuar. Mesmo isto sendo difícil, é necessário. Lei da natureza. Continuar. Essa palavra pesa para mim todos os dias, chego às vezes até a escrever em meu caderno, livros, ou algo que esteja em contato comigo, para ver se me encoraja. Não é questão de não ter motivos, é apenas...cansaço. Nós cansamos também.
Para mim dói. Aliás, tudo para mim anda doendo mais do que o normal. Como se eu estivesse me recuperando de uma dor nas costas e qualquer peso que eu levantasse, fizesse reflexo nelas. Como se seu lugar não fosse esse, tu não fosses tu, e nada disso é nada. É simplesmente um vasto caminho. E tu continuas andando. Con-ti-nu-ar.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Pra sempre ou só por um momento


Gostavam-se um do outro exatamente como eram. Ou como são. Não coloco no pretérito porque ainda não acabou, ou melhor, nem chegou a começar.
Seus dedos deslizavam sobre o corpo dela enquanto dormia, e a dedilhava marcando cada ponto seu. Ele gostava como ela costumava dormir. E os dois dormiam sempre juntos. Foi difícil para ela adaptar-se à sua ausência.
Mas comprovaram que, não era impossível amar e ser amado o tanto quanto amavam. Não tinha diferença de sentimento, amavam ambos em iguais medidas, em iguais pesos. E a cada dia apaixonavam-se por algo no qual ainda não chegaram a descobrir no dia anterior, mas que no dia seguinte ressurgira. As coisas mais simples foram as que mais deixaram a saudade bater na porta. Aquele sorriso perdido por entre um beijo de boa noite, ou até mesmo aquela briga no dia que tiveram que apresentar-se em uma exposição importantíssima, e ela como sempre se atrasava. E ele a esperava. Podia esperar o tempo que fosse, todos os dias, mas não naquele. Mas como sempre, cediam. Cediam porque nada era maior do que o sentimento em que um sentia pelo outro, pelo menos ali, era eterno. Poderia durar meio segundo, um quarto de segundo, mas eternizava-se.
Ele gostava do jeito como ela passava a mão por sua nuca e o puxava para perto repetindo que ele não passava de um guri muito bobo, ao demonstrar ciúmes. E ela gostava de quando ele falava que nunca tinha encontrado ninguém igual a ela, e gozado, pareciam se conhecer a tanto tempo, desde sempre, porém estavam juntos a cinco meses. Por entre tantas as outras coisas que um odiava e amava no outro, destacavam as características cotidianas, no qual conviviam todos os dias ao acordar.
Ele gostava de quando ela acordava sem nada em seu rosto, com sua cara totalmente limpa e totalmente com sono, e como ela passava a mão em seus cabelos, como se ainda tivesse o prazer de cuidar-se para ele, só para ele, pois não havia mais ninguém naquela casinha, além dos dois. E gostava de quando ela fazia seu chá em dias nublados e sentava com seu moletom cinza, que ficava gigante nesta, e ficava lendo um de seus livros estranhos no qual nunca foi muito seu estilo. Mas a contemplara mesmo assim, e contornava cada passo em que esta dava. Gostava também da sua timidez e de como corava quando a elogiavam. Gostava de como era baixinha e de como ficava irritada quando em seu primeiro encontro, jogava brincadeirinhas do tipo sem-nenhuma-graça para ver se a chamava atenção, e deu certo. Gostava do seu jeito de falar, e de não saber nunca resumir os filmes. Sempre acabava falando mais que o normal, e gostava ainda mais de quando esta ficava brava e dizia: porque-estás-me-olhando-desse-jeito-nunca-me-viu-antes? Adorava pegá-la no colo e cuidá-la como se fora sua jóia rara e tinha vontade de guarda-la de todo o mundo, e tê-la só para ele. Gostava de seu perfume espalhado pelos ares ao amanhecer, e dos seus beijos ao acordar. Adorava suas birras, erros, acertos, choros, caras, cada milímetro dela.
Ela adorava o jeito que ele sorria meio de lado, e o jeito que arrumava seu cabelo. Adorava como a cuidava e como a fazias sentir-se amada. Gostava de sua calça meio caída e de sua humildade com as coisas. Gostava de sua paciência e da sua atenção, e ainda assim, fazia de tudo para este perceber que era ela. Adorava o jeito que ele sentia ciúmes e do jeito que a provocavas. Adorava como tratava as pessoas e como tinha um certo tipo de pureza em seu coração. Adorava seu perfume ao sair e seu jeito de arrumar a casa. Adorava sua preguiça de sair de casa e seu sofá no qual não largava por nada. E gostava mais ainda quando a puxava para deitar-se com ele e ficarem juntos esquecendo-se assim do mundo que, porventura, ainda girava lá fora. Fora dos dois. Adorava seus cabelos molhados e suas covinhas ao sorrir. O jeito em que falava, e como pronunciava cada palavra dita por este.
Gostava de escutar sua voz ao dizer só-liguei-pra-ti-para-ouvir-tua-voz-mesmo-e-lhe-desejar-uma-boa-noite. Gostava ainda mais da sua maneira de viver, de dar-se com a vida.
Como se fosse um motivo mais além da vida ser colorida, devido ao seu cheiro espalhado pelo ar. Era gostosa a sensação de voltar para casa após um dia de trabalho e encontrá-lo sentado em seu sofá bege, ou então deitado, com aquele sorriso que derretia todos os satélites. Gostava das viagens inusitadas, e das músicas. Gostava de quando ele tentava ensiná-la a dançar e nunca conseguia. Gostava de seus poemas, músicas, poesias, versos, e frases. Mas de tudo o que ela gostava nele, gostava ainda mais do jeito de como a fizera sentir em tão pouco tempo. Não era apenas um marido, era um namorado, amante, cúmplice, amigo, irmão, companheiro.
Difícil era enjoar-se um do outro, podiam até ficar sem falar-se uns dias, mas sabiam que se falariam logo mais. Era muito raro um ficar sem o outro. Porém, um dia, tiveram que adaptar-se.
Um dia as coisas terminam, fisicamente. Sempre terminam. Não te enganes. Mas isto não quer dizer que o sentimento tem que terminar também...
Acostumava a sentar-se no sofá bege, sozinha. Assim como ele, acostumou-se a escrever para ninguém, porém sempre tendo alguém, o seu alguém, que era a tal guria dos cabelos escuros, dos olhos cheios de esperança, que pintava seu mundo com um pincel que só esta tinha e mais ninguém. E ela, pintou para si mesma, o retrato mais bonito que seu coração gravou do guri mais bobo que já conviveu. Mas o mais raro e o mais bonito que ninguém jamais terá. Não igual ao dela. Porque o dela, era só dela. Assim como a dele, era só dele. Feitos um para o outro, poderão percorrer todos os caminhos da vida, mas saberão em quem irão repousar o seu amor. E onde irão deitar quando estiverem cansados e abatidos.
Terão um ao outro, assim como têm a sorte.

sábado, 15 de maio de 2010

If i could be who you wanted, all the time...


Investir no mundo interior as vezes não é má ideia. Perder-se não é entrar em uma fria, ou esconder algo obscuro. É apenas...perder-se. Isso não quer dizer que a pessoa seja totalmente apta a saber o que quer e quem quer e aonde quer ir. Não teria graça nenhuma combinares tudo em sua mente, como um programa de computador, adotado para lembrar-te o que tu queres lembrar, e tu nunca esqueces devido a algum tipo de impulso nervoso, onde está tudo tão arquitetado que para ti, tu sabes exatamente o que és. Mas na verdade, estás mais perdido do que todos nós juntos. Apenas achas que encontra-se em perfeita simetria junto com a sua vida. E tu vives a sua vida exatamente como todos vivem, mas aí é que está o problema, pelo menos para mim. O meu ponto de vista é diferente do seu, as vezes até demais. Mas viver igual a todos, nem sempre é a melhor opção. Um dia escutei de um senhor, falar que a maioria está sempre errada, e a minoria sempre vence. Não respondi nada de início, as vezes o silêncio fala por nós. Mas logo em seguida pensei que, como de costume, a maioria sempre engana-se com os fatos que no caso, acham que está certo, porém só os poucos, só aqueles que realmente criticam tudo e todos, conseguem discernir certas ocasiões apresentadas ao longo de nossa vida. Não sei se compreendes onde eu quero chegar. Na verdade, quero chegar a lugar nenhum. Escrevo porque não tenho muito a fazer, claro. Tenho uns exercícios de química, de física, matemática I e II, e tenho que ler um livro de literatura. Mas na verdade, minha vontade é de ficar sentada sem fazer absolutamente nada. Quando temos muita coisa para fazer, tendemos sempre ao nada.
Ficamos estagnados diante de tantas coisas que nos colocam em nossa frente e nos cobram isto, que ficamos dispersos e acabamos fazendo nem o que queremos nem o que nos mandam fazer. Eu pelo menos, fico apenas...parada. Não tem o que dizer. São as regras. Que regras? Ter que tirar notas boas e passar no vestibular. Certo. Passar de ano. Certo. Ser correta. Certo. Falar bonito. Certo.
Mas é isso tudo o que realmente queres? Ou na verdade tu queres descobrir a si mesmo descobrindo o mundo. Andar por aí, na tentativa de encontrar algo que não esteve e nunca esteve dentro de ti, mas sim perdido por algum canto no qual tu nunca passaste, mas ao mesmo tempo tu precisas passar para descobrir que parte é essa que tanto te falta no cotidiano. Essa parte pode estar no ar em que respiramos, em alguém que nem sabemos e nem ousemos saber se iremos conhecer ou não, ou em cada estrada que partimos rumo a algum tipo de lugar, não precisa estar em mente. Mas é um lugar.
Impõem sempre um tipo de personalidade que nos enquadrariam no nosso roteiro cotidiano, no qual as pessoas iriam lhe aceitar melhor. Mas quem são eles? Apenas rostos desconhecidos que te julgam por tal imagem passada de ti para eles, e nem sequer esforçam-se para pelo menos saber se tu gostas de quente ou frio. Querem o que lhe dão benefício. As pessoas andam cada dia mais perdidas dentro de uma imagem construída não por eles mesmos, mas sim quem os rodeiam. Não estou julgando o jeito de ninguém viver, estou falando como um todo. Em minha opinião. Não quero e nem preciso que ninguém obtenha o que eu penso. Pelo contrário, somos seres ímpares e nascemos separados um do outro justamente para termos liberdade de pensarmos o que quisermos. Mas muitas vezes nossas mentes ficam limitadas em um mundo concreto, onde só acreditam no que vêem e não no que pode acontecer. Se tu queres um dia voar, alguém certamente chegará para ti e dirá que tu nunca poderás fazer isso. porque nunca ninguém conseguiu, e está provado. O que na verdade está provado? Provas são papéis concretos de alguém que pesquisou sua vida toda dedicando-se especialmente naquilo que lhe impôs. E aí tirou a conclusão real: impossível.
Quem tem uma mente pequena, tem um mundo pequeno. Acredito em tudo que podem dizer ser impossível, mas isso não quer dizer que muitas vezes eu consiga. E isso, não vou mentir, desgasta. Desgasta muito, meu caro. Dá uma vontade de sair correndo e e procurar algum tipo de abrigo para sua dor e sua frustração, mas sempre continuamos. É lei da vida. Acordamos, tomamos café, escovamos os dentes e continuamos. Seja lá como estiver o dia, tua dor pode estar gritando dentro de ti, mas tu terás que uma hora, levantar da sua cama e enfrenta-la por si só. Eu não vou curar sua dor. Isso é coisa tua com ti mesmo. Ninguém irá chegar para mim e dizer olha-só-estou-aqui-com-um-remédio-que-é-tiro-e-queda-para-dor-emocional, antes fosse.
Mas se eu falar-te uma coisa, certamente irás me achar louca, mas é verdade: a dor as vezes não é tão ruim assim. Quer dizer que estamos vivos. Sentimos algo. É muito ruim ficar sem sentir nada, meu amigo, muito ruim. É pior do que sentir uma dor no membro do teu corpo no qual tu não o tens mais. É pior do que qualquer tipo de dor física. Acho que sim, sentir é perigoso. Mas ficar inerte, é mais perigoso ainda. Eu já fiquei assim. Foram dias onde, nem mesmo o que eu mais gostava de fazer, adiantasse algo. Meus passos pelas ruas eram em vão, como se meu corpo estivesse aqui porém minha alma já tivesse sido levada a muito tempo. E eu estaria simplesmente em processo de decomposição. E doía. Doía sem remédio. Não podia falar. Não podia chorar. Não podia rir. Não tinha como, era travado. Era vontade de tudo e nada ao mesmo tempo. Ainda tenho isso, na verdade, isso nunca cura-se totalmente. Mas sobrevivi. E sobrevivo todos os dias pela manhã. Seja triste ou feliz. São virtudes que tivemos o privilégio de ter.
Sendo que somos todos os dias algo diferente. Nos afastamos. Nos aproximamos. Ficamos distantes. Ficamos eufóricos. Mas são poucas as pessoas com paciência de compreender o estado de humor do indivíduo. Nem todas irão suportar quem tu és hoje e amanhã ser algo diferente. As pessoas acostumam-se muito rápido com as coisas. E não é para sermos assim. Eu sou assim. Eu odeio me acostumar, por exemplo, com a ausência do meu pai. Mas acabo que estou aos poucos me acostumando. E não posso. Tenho que todos os dias arrumar um jeito de cultivar a presença dele mesmo sem ele estar, pois assim torna-se um jeito de traze-lo para mais perto de mim, mesmo estando longe. E isso serve para qualquer tipo de situação. As coisas, como as pessoas, apartamentos alugados, carros e imóveis, foram feitos para serem esquecidos um dia, abandonados, deixados. Mas não é o normal. Como também não é normal nos apegarmos a coisas de necessidade mínima. Acredito muito no amor, embora eu esteja no meu estágio normal. E o amor, querendo ou não, é a única coisa que fica. E ainda assim, há pessoas que esquecem. Esquecer hoje em dia é normal demais. As coisas passam, certo? Tudo passa. Se tudo passa, quem sabe um dia, tu passes por aqui...

sábado, 1 de maio de 2010

Guarde-me sempre contigo, e leve-me aonde tu fores...


Era sábado a noite. Havia muitas pessoas, transitando de um lado para o outro, como verdadeiras perdidas, rumo ao nada. Música alta. Sorrisos demais. Alegria (falsa) demais. Bebidas demais. Cigarros demais. Tudo demais. Ela logo sentou-se. Estava sozinha, e não fazia questão de companhia. Isso era o que esta dizia para si própria, quando na verdade seu coração era um órgão carnívoro, como se precisasse de alguém 24hrs do dia para ela. Ficou bem. Seguiu em direção à janela, como se necessitasse de ar puro, novamente. Tinha claustrofobia. Ficou por lá uns instantes observando as estrelas, o céu do equador, e tentando traçar rotas e destinos para seus planos que borbulhavam dentro dela. Começou a falar sozinha por impulso próprio, não tinha ninguém, começou a inventar.
Aproximou-se então, um rapaz alto, magro, com um cabelo que movimentava-se de acordo com o vento, parecia que eles dançavam uma melodia tão bela, em uma harmonia...
- Gosta de estrelas? - perguntou ele.
- Gosto, mas elas nunca estão a favor de mim - respondeu ela soltando em seguida um riso leve, quase como a brisa.
- Ora, mas porque não? Uma moça com tantos mistérios em seus olhos, as estrelas encantam-se com isto. - respondeu ele, admirado com sua franqueza.
(Silêncio)
- Mas quem és tu? - indagou em seguida, como quem quisesse livrar-se da monotonia da conversa.
- Sou isto aqui, o que estás vendo neste exato momento. - disse ela, com uma de suas mãos ajeitando seus cabelos.
- Então se não definiu a ti própria, creio que poderei tirar minhas conclusões. És tu então, uma garota como todas as outras preocupada em ajeitar o seus cabelos. Ou podes ser tu, uma moça no qual habita um mistério em seus olhos tão profundos, que, ao encarar-te, vemos um certo tipo de labirinto no qual dá diretamente ao seu coração. Certos caminhos tortuosos, ventos, tempestades, fúrias... És um liquidificador de sentimentos, no qual posso sentir daqui as suas pernas trêmulas, ao me veres falando tudo isto. - silenciou-se.
Demorou um pouco a digerir o quem sou eu traçado, então, no perfil deste homem, no qual ela nem conhece, apenas por três minutos, um homem no qual veio falar com ela perguntando sobre estrelas, e terminando em seu íntimo. Mas fora o único que, para ela, perdeu o tempo tentando decifrar o que esconde em seus olhos, escuros como um abismo para quem conhece, e claro como sol para os que nem sequer dão-se o trabalho.
- Não irei definir ao meu ser, se não tenho conclusões exatas. Assim como fizeste comigo, poderei fazer contigo. Dizendo-lhe quem és tu, ao meu ponto de vista. - tomou fôlego e logo prosseguiu - És um homem cujo interesse está em buscar algo no qual nem ti mesmo sabes o que é, e teu coração está tão quebrado e pisado, que tentas o reviver todos os dias, dando-o um certo tipo de impulso vital, algo como choque. Mas tu te deparas com um problema no qual não há médico que resolva. Teus sentimentos tão maltrapilhos, que tens vergonha de dizer o que passas, com medo de ser repreendido pelas pessoas que o cercam. Nunca estás sem ninguém. Mas sempre estás sozinho. - parou em seguida, e fitou-o por um momento.
(Silêncio)
- Eu procurei-te por todas as ruas, esquinas, travessas, cruzadas. Depois de tantos naufrágios, te procurei em minha cama, em meus sonhos. E nunca estivestes em meus braços, mas é como se fostes tu quem fazia ausência entre eles. - ele vomitara seus sentimentos para fora, sua busca tão vã em encontrar algo perdido.
- Eu andei perdida este tempo todo até tu vires ao meu encontro nesta noite, nesta janela, diante destas estrelas nas quais nunca foram a favor de mim. - respondeu ela.
- Como se, as coisas existissem de um jeito amplo porque tu sabes da existência delas. Mas se tu não estás por aqui, parece que tudo fica sem som, até o tempo arrasta-se de tão cansado ao ver-me procurando-te em cada canto da minha vida. Agora se tu vens, as coisas ficam mais bonitas. Os jardins florescem. As flores se abrem. A primavera bate na porta... Ai! Já enfrentei tantos invernos sem fim, com tua ausência... - prosseguiu.
O tempo era rápido. O tempo devorava em fração de segundos o encontro de duas almas perdidas. Levando sempre ao fim, algo com dificuldade para construir-se.
Ela riu consigo mesma, mas não achando graça do que este a dizia, mas achando graça da peça no qual o acaso ou destino a pregou, sem nem mesmo desconfiar.
- Quem diria tu estás no meio de tanta gente chata, sem nenhum conteúdo, no meio disto tudo, você... Irei ter que partir. Mas levo um pedaço de ti para a saudade não apertar-me mais do que já estou. Levarei tua presença para que ao partir, eu nunca esteja indo mas sim voltando. E cravarei teu nome na lua para que esta, conduza-me e ao voltar, traga-me a ti novamente. Ao aconchego do teu peito, no qual encontrei um abrigo. E que, sempre ao olhar para esta, verei nela o teu sorriso, e tua face dizendo-me o que dizes, assim, bem como tu falas... - respondeu ele com pressa, como quem precisa ir embora, mesmo sem querer.
- Eu insistirei em cultivar tua presença mesmo sem saberes. E procurarei o teu perfume, sem encontrar. Pois parece que ele existe apenas em ti, ou será que tu existes apenas para mim? - perguntou ela, com um olhar triste e distante, como quem não encontrava-se mais ali.
- Se minha existência é apenas para ti, sorria. Pois ao acordar, lembrarás que existe um guri no qual tu conheceste em uma festa inexistente, que existe só dentro de ti. De ti, do teu coração. Ao sentir saudades, procure um jeito de avisar-me, levando suas palavras as estrelas, estas que hoje a noite, ficaram a favor de ti, e que acompanharam-me todo este tempo enquanto eu a procurava. Ao cair da noite, voltarei para ti, para contar-te sobre os lugares no qual freqüentei e aonde tu te fizeste presente, bem ao lado da minha cama. E o teu sorriso será como o meu caminho iluminado no qual eu irei seguir para que um dia eu possa voltar para ti. - encostava uma de suas mãos sobre a face dela, como quem toca em uma jóia rara.
- Eu estarei te esperando. Sobre a presença das estrelas. - disse ela, com uma voz que mal saía.
- Agora terei de ir. Te cuidas, por favor, te cuidas bem. Eu voltarei para te buscar, e levarei a ti comigo. Aonde eu for. Agora, sustenta-te. E levanta-te. Irei te cuidar bem, quando eu, novamente, estiver contigo. Algum dia. - disse ele, já desviando seu corpo em direção a multidão que ali encontrava-se, e perdendo-se entre eles.
Ela já não o via mais. E disse consigo, só para ela escutar, e a noite que ali lhe fazia companhia: - Volte logo...por favor.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Assinado eu


Embolo-me sempre com a pergunta que todos fazem uns aos outros quando logo conhece alguém: quem és tu? Certo. Nem todos perguntam isso, mas simulam. Querem saber de ti a cada dia que passa. Quem tem amigos, sabe disso. E até mesmo quem tem amores. Alguns conhecem-te melhor até do que tua própria mãe. Mas aí vem a pergunta chave: será que te conhecem mesmo, ou tu passas uma imagem?
Ora, convenhamos, ninguém conhece realmente ninguém. Não me venha com aquelas palavras nas quais tu lês em rótulo de papel higiênico, logo ao conheceres alguém: "adorei te conhecer, mesmo. Vamos manter contato!" Larga disso. Conhecer é algo muito mais profundo. Tem a ver com alma. Sentimento. Saber o que passa-se verdadeiramente dentro das pessoas. Algumas têm uma facilidade imensa em fingir que está tudo ótimo, mil maravilhas, viver é uma delícia. Quando na verdade, só Deus sabe o que ela passa dentro de si própria. Eu sou assim. E tu és assim também. Pode não ser sempre, mas algumas vezes. Acho que nunca conheci alguém. Claro, convivo com meus amigos, e dou-me muito bem com eles. Acho que a base da vida tem a ver com amizades, mas saudáveis. Não vale a pena misturar-se com pessoas que não possuem cérebro. Não perca seu tempo. Elas só te induziram ao fundo do poço, e quando estiveres lá, nem uma mão irão estender em tua direção. Tenho dito. Por pensarem que nos conhecem, acham que podem tudo sobre nós. É assim sim. Pelo menos para mim em relações a amizades literalmente falsas. Todos temos esses tipos de amigos. É inevitável não tê-los por perto. Mas temos que saber cultivar e cativar pessoas que podem nos ajudar quando estivermos mal. Não é apenas rir contigo, e divertir-se contigo, mas sim, ao estares triste, alguém que toque em tua mão e olhe em teus olhos e diga "eu estou aqui, eu te toco. Não te deixarei, confia em mim.", confie. Temos que confiar, podemos nos estrepar na frente, mas foi por um bom motivo. Temos que depositar nossa confiança em alguém fisicamente, certo? Se não, o que será?
Mas voltando ao assunto do conhecimento... Para mim, uma pessoa não é julgada inteligente por quanto ela tirou em tal prova, ou se ela consegue relacionar-se sem dificuldades com algo, ou ter facilidade nas coisas que para muitos é extremamente difícil. Uma pessoa é julgada por quanto ela ama e por quanto a amam de volta. Em etapas, claro. Ninguém é feito para agradar a todos. Mas nos esforçamos a fazer isso ao longo dos nossos dias. Não negue. Até mesmo tentamos ser simpáticas mesmo sem a mínima vontade de ser, esboçamos aquele sorriso amarelo, e tudo bem.
É tão estranho andar por tanta gente pelas ruas, e todas elas serem uma incógnita para ti. Como se fossem verdadeiras interrogações perambulando por aí. Assim como tu és para elas. Como eu sou para elas.
Meu caro, quem me vê, deve achar-me uma lunática, verdadeira estranha. Mas a minha busca a cada levantar, é saber um pouco mais de mim e tentar ser feliz, cara. Acredito que em cada coisa por aí perdida nesse mundo, eu encontro-me. Principalmente naquilo que gosto. Já me considerei como uma escória da sociedade. As vezes sou mesmo. E faço questão. Não digo que sou diferente. Mas não faço o padrão.
Meus ataques de risos são estranhos, sou desastrada, dramática muitas vezes, faço bico até hoje, muitos acham que não ajo de acordo com a minha idade, esqueço-me de tudo muito fácil, sou desligada, uma verdadeira mendiga de atenção, pareço mais um cachorro de tão carente que sou, não sou boa em física, matemática, química, nem biologia. Choro por tudo muito fácil, pessimista, e inconstante. Nunca sei o que eu quero. Mas quando eu sei, acho que não vai dar certo. Para falar-te a verdade, odeio que me prendam. E muitas vezes odeio prender as pessoas, sempre acho que elas sentem pena de mim, e por isso são simpáticas ou falam comigo. Exceto com meus amigos nos quais deposito confiança. Sou um verdadeiro desastre em casos amorosos. Platônicos então... nem se fala. Tenho vergonha de tudo, até de mim. Mas todos por me verem sorrindo, acham o contrário. Eu rio de tudo, falo sozinha, converso com estranhos, adoro idosos, odeio pessoas efusivas que acham que tudo está mil maravilhas e a vida é um grande carro alegórico. Tenho complexos, e acho que tudo é um sinal. Falo demais, as vezes até além da conta, e canso de tudo em um piscar de olhos. As coisas parecem que vão me cansando. Tenho amnésia precoce, e esqueço das coisas mais importantes. Nunca sei o que eu quero, e na maioria das vezes as coisas que eu quero não acontecem. Minha mãe diz que sou bipolar, que sou complicada, um caso sério. Já pensou em colocar-me em um psicólogo, mas meu problema não está na cuca. Está aqui ó, no coração. É tanta coisa para dizer, tanta coisa para vomitar pra fora, perdoe-me a expressão. Eu tenho tanto pra falar, e tanto para ser escutada, porém ninguém pára ou se pára, têm pressa, ri das minhas teorias ou muitas vezes acham-me uma esquisita.
Não tenho necessidade de grandes coisas materiais, apesar de ser consumista sim, assumo. Mas não dependo disto. Não faço minha unha toda semana, porém estou deixando-a crescer para ver se fico com cara de gente. Meu cabelo sempre foi curto, e eu odiava, até que eu o caguei inteiro pintando as pontas de vermelho em 2007. Agora ele está natural porém para mim continua estranho. Meu perfume é Johnson&Johnson, acordo para escola em cima da hora, e sempre tive a vontade de ir de pijama para ter mais tempo para dormir, ou então ir dormir na noite anterior já com o uniforme, para não ter trabalho. As vezes acordo me amando, outras vezes me odiando. Passo a maior parte da minha vida dormindo, escutando música, lendo os meus livros do meu querido Caio Fernando Abreu, vendo meus filmes ou tocando violão. Aprendi a tocar ano passado, pela internet. Nunca fiz aula, e não toco muito bem. A primeira música direita que eu consegui tocar foi "Acima do Sol" do Skank. Acho essa música tudo a ver comigo. Adoro tomar banho de chuva, porém fico gripada muito facilmente. Por tudo eu fico doente, e inclusive, a saudade me deixa doente. Se achares que estou mentindo, pergunte a minha mãe. Ela diz que eu tenho que morar em uma bolha. Tudo me afeta. E eu odeio tanto isso. Minha meta é ser auto-suficiente, passar em comunicação na federal, encontrar o meu par (im)perfeito, não pretendo casar muito cedo. Odeio ter que depender de alguém, e acredito que em uma relação de amor entre um homem e uma mulher, necessita-se da liberdade de ambos, e da confiança inclusive. Quando amamos alguém, devemos expulsar esse amor de nós para o deixar livre. Tenho sempre em mente que se esse alguém for nosso, ele voltará. De alguma maneira. Se ele for um dia, claro. Mas como tudo vai-se um dia, tenho dito. Sou paranóica, tudo eu acho que está errado. A lei de Murphy persegue-me. Sou especialista em dar-me mal pelas ruas, e as vezes acho graça da minha própria vergonha. Tenho ciúmes, porém nunca demonstro para a pessoa. É sempre para outra que tem nada a ver e por lá fico lamúriando-me até o sol raiar. Tem dias que eu acordo com vontade nem de pentear o cabelo, e passo o dia de pijama dentro de casa. Adoro uma música do Vinícius de Moraes, chamado "Para uma menina com uma flor" que digamos, é um poema. E por causa disso apelidei o meu ursinho cujo presente ganhei de natal, do papai noel em 2007, Nounouse. Não tenho vergonha dos meus pais, e os amo de paixão. Volta e meia brigo com a minha mãe, discutimos, eu penso em fugir de casa, mas no outro dia sempre tem aquele sol para nos acordar, certo? Meu pai sempre foi e sempre será o meu exemplo. Não tenho como agradecer tudo que estes fazem por mim. Porém acho que nem eles próprios me conhecem. Nem eu me conheço. A cada dia vou vendo o que faço no meu cotidiano para ver se em algo eu encaixo-me. Pura ilusão. Sempre vejo-me fora de tudo, porque nunca consigo entrar. Não digo em sentido total. É ideológico mesmo. Não faço questão de sair para cantos que não sou interessada só para fazer social. Não sei dançar, e danço muito mal. Acho que sou uma piada na pista de dança, ou quase isso. Não fumo e odeio fumantes. Não bebo e odeio quem bebe e tira aquela foto para dizer "Olha mamãe, eu bebo! Tá na moda." O que está na moda é o meu saco, isso tira-me do sério. Mas voltando ao assunto, muitos devem achar-me uma hipócrita, pois não sabiam ou não sabem ou acham que eu não sou nada disso que escrevo. Mas sou. Encontrei na fotografia uma forma de expressar o que eu penso sem falar. Se é que me entendes. Não criei um blog por criar, muito menos para ficar conhecida, mas fico grata com as pessoas que o lêem. E penso sim em passar para outras. Gosto da opinião delas. Por acharem que eu falo demais, muitos devem me julgar como efusiva, por favor! Não me xinguem. Chamem-me de tudo menos isto. Não suporto pessoas crisentas.
Já falaram do meu jeito de vestir, que pareço um homem só porque uso blusa social, e certamente são mais largas que eu. Eu sentia-me uma lésbica. Mas ando me acostumando porque é o meu jeito. E eu não vou mudar. Já me disseram que seria bom. Mas por onde começar? Tenho espinhas e odeio elas. Tenho vergonha de olhar na cara das pessoas porque sempre acho que elas vão ver as espinhas, meus defeitos, meu sorriso que é grande demais, minha cara que é pequena, meus olhos que são estranhos, mas enfim. Uso mais tênis do que sandálias. Minha mãe anda adestrando-me para usar sapatilhas. Tento, mas elas têm cheiro de chiclete e dá vontade de comer. Eu era extremamente vaidosa na minha época de RBD e coisas à parte. Agora também, mas as vezes me dá preguiça. Preguiça de escolher uma roupa e acabo saindo igual. É sempre a mesma coisa: Blusa, calça, tênis. Eu adoro. Mas eu estou variando ultimamente. Tenho coleção de all star, pretendo aumentar mais. Não uso brinco, eles me incomodam. Mas as vezes eu uso. E eu sempre esqueço-me deles também. Uso os moletons, casacos e blusas do meu pai que fica extremamente largo, e fico sem peito. Não tenho peito. Não tenho bunda. Sinto-me estranha na praia, e não gosto de ir. Tem muita gente, e eu tenho fobia de aglomeração de pessoas. Rio de tudo, até nas horas mais impróprias (já passei por cada sufoco por causa disso...), quando fico nervosa nem falo direito, sai tudo errado. Odeio falar em público. Odeio esportes. Sei jogar nada oficialmente. Ainda não sei no que sou boa, todos têm um dom. Cadê o meu? As vezes pergunto para minha mãe se nasci com algum problema, o que tem de errado comigo? "O que tem de errado em ser tão errada assim?".
Mas aonde eu estava mesmo? Ah sim! A parte do conhecimento. Tudo isso que eu escrevi sobre mim, é nem um terço do que eu sei. Ou do que não sei. Não sei quem eu sou.
Vivo cada dia como se fosse o primeiro (vamos sair um pouco do comum né?) Acordo cada dia com uma opinião diferente. Nunca acordo a mesma. Mas sempre acrescentando algo.
Acho que sou a raposa do livro "O pequeno Príncipe", tenho a leve impressão...
Somos vagalumes vagabundos. Voando em linha reta. Porém nunca indo muito longe, em certos casos.
Vivi nem metade da minha vida, e até agora, não sei ao certo o que descobri de mim. E ti, o que descobriste de ti?

terça-feira, 27 de abril de 2010

Vida social encontrada no lixo. Literalmente.

"Minha querida agenda badalada, ui! Sou tão pop. Hm, vamos ver o que temos quinta: sair para beber com os amigos, ai menina! Claro! Não posso perder essa oportunidade, tenho que dar uma de adulta, ninguém pode saber que sou abaixo dos dezessete ainda! Imagina, que mico. Ai, se mamãe não deixar eu fujo de casa, ora ora, quem é ela para mandar em mim? Não quero mostrar que sou dependente, tu "sabe" né, só vai ter gente cool. Sexta feira, vamos ver o que teremos.. hm.. Uau! Sexta é aquela "festona" que tanto o colégio todo aguarda? Ai, tenho que comprar a melhor roupa da loja mais cara, tenho que chegar arrasando né, não posso chegar lá com um vestido que tenho guardado que foi da minha mãe, imagina o que vão falar de mim! Óh. Tenho que ver o sapato, sim aquele sapato, super caro, daquela loja super do momento, não posso deixar de ir lá! Todos têm que apreciar minha roupa tão descolada, uuh!! Não posso ir com um vestido com menos de 5 cm né, tenho que mostrar bem minhas coxas para seduzir os gatinhos que lá vão estar, e claro!!!! Com aquele decote, apertando bem meus peitos para dizer que sou super adulta. E gostosa, claro. Como eu ia me esquecer da câmera??? Pra depois colocar as fotos no meu orkut, fazendo "hangloose" com a mão, ou com aquela cara bem de chapada para dizer que bebi todas, e claro, com o copo na mão. Eles tem que ver que sou uma garota moderna e que bebo todas até cairrr, e colocar na legenda um trecho da musica "i gotta feeling". E dançar bem sensualmente para atrair os gatinhos né, e dizer que peguei geraaaaaal!!! e só dos bons. HAHA, porque não pode ser aqueles que não são pop né? Porque se não, pelo amor!!! minha reputação já era. E quem sabe posso acabar na cama com um deles ao amanhecer, aiai. Na hora da conquista, eu arraso. Tem que fazer aquele joguinho né, dar umas indiretas (mas tem que ser bem discretas, ele não pode sacar assim, ô), estar no meio dos amigos dele, ligar? nem pensar! só se ele ligar primeiro. Não posso demonstrar interesse né. E no encontro, tenho que caprichar no visu! Ir com uma sainha super curtinha, para deixar ele babando, wow. Ou então com aquela roupa da moda, tipo, calça de cintura alta para dizer que sou uma garota de estilo. Coisas largas? Nem pensar!!!! E se ele me achar um homem? Colocar um quilo de maquiagem na cara para esconder minhas espinhas terríveiss. Rímel, lápis, batom, pó, base, blush. Aquele perfume francês que não podia faltar né, e fazer aquela chapinha no cabelo para tirar os frizz. Ai odeio eles. Fazer minha unha, porque ela está "UÓ", pintar de 40 graus, ui. Ir na praia para ficar com marquinha de bíquini e ficar vermelhinha e claro, ter uma ajudinha do blush para dizer que meu vermelho é natural, hehe. No colégio? Ah! tenho que ser pop, porque se não for, ninguém olha para minha cara. Se juntar com lerdões? NUNCAAA!! nunquinha. Eca. A parada é tratar esses moleques bem mal sabe, eu hein. Imagina se alguém me ver falando com eles?! ui. Tenho que ser a mais bonita e a mais estilosa. Para todo mundo babar nos meus pés e conseguir o "cargo" de garota mais popular da escola. Sabe como é, eu acordo todo dia uma hora antes, para dar tempo de me arrumar, me maquiar, esconder minhas olheiras e tal. Estudar? pffff. Isso vemos depois, agora estou ocupada com a minha tia que está em Paris no telefone, ela quer que eu peça alguma roupa para ela de lá, aí! Acho que vou pedir uma bolsa Prada, para depois exibir para meus amiguinhos (hihi tadinhos, vão morrer de inveja) que sou super rica. Tenho que ter tudo antes, para as pessoas verem como ando atualizada na moda lá de fora. Ah quanto a assunto sou especialista! em falar nisso, tenho que ligar para aquela vadia da minha amiga, para dizer que nasceu uma espinha no meu nariz!!!! estou horrível, aquele gatinho nunca mais vai dar bola para mim.
(No telefone) Tirim, tiriiim...
- Alô?
- AMIGAAAAAAAAA!!!!! Ai. Você não sabe sua vaca!
- OIIIIIII AMIGA, diga gostosa!
- Nasceu uma espinha no meu nariz, tô horrível!!!!! não saio mais de casa, parei de comer. Engordei amigaaaaaa, estou com 10 gramas a mais que meu peso antigo, já mandei minha mãe ir para longe com essas comidas. Preciso ir no shopping fazer umas comprinhas para ver se me alegro.
- AIIIII, PARA COM ISSO NÉ AMIGA. Mas vamos sim no shopping porque eu queria comprar um filme que eu MOR-RI VENDO! Um amor para recordar!!!!!
- AMIGA, esse filme é lindo!!!!!!!! ai, chorei caixas d'agua aqui.
- Vou desligar agora bitch! estou fazendo as unhas, depois te ligo. kisses
- TCHAUU BITCH! bye bye

Ai amo amo amo música!!!!!! Sou bem eclética. Adoro funk, vou sempre para o castelo escondido dos meus pais, hihi, sou tão corajosa!!! eles nem desconfiam, tadinhos. Pego todos lá, sou uma gata da night. Tenho SEMPRE que tirar foto das roupas que eu visto para ir para os lugares né? E peço para todos comentarem, para ser super badalado meu orkut!!! Não sei o que vou fazer para vestibular ainda, isso a gente deixa para depois, pff. É tão idiota falar sobre isso, só tiro nota baixa HAHAHAHAHA, tirei 0 em uma aí, eu tinha ido dormir tarde aquele dia, e estava com ressaca! Carnaval?! me fantasio de coelhinha, e vou com minhas amigas do colégio zoar com as pessoas, hahahaha é tão legal!!!!! Tenho que mostrar que minha vida social é super ativa. Meu papi adoraaaaa os namorados que eu trago pra casa. Cada mês eu amo um diferente. Sabe como é, coração ninguém manda! Agora estou com o meu 9845798792384789234º namorado, só nesse ano hihi, perdi a conta já de quantos estão atrás de mim, mas sou muito direita. Meu filme predileto é "um amor pra recordar" o filme mais tristeeeeeee! amo amo ele. Choro sempre. Leio muito, já li todos aquele do crepúsculo, EDWARDDD!!! ai lindo de morrer. A música mais romantica que eu gosto, que é a musica que eu deito na minha cama e fico pensando no meu gatinho é "A gente" da diwali, aiiiiiii amo amo. E pra balada é sempreeeeee tik tok da ke$ha, muito boa... "

Continua (...)

Vai dizer que estou errada?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Só se vê bem com o coração...


É preciso o contato de dois corpos ou de dois pensamentos, para unir-se em uma só pessoa. Não existe essa de amor à primeira vista. Existe acaso. Existe destino. Existem linhas tortas que cruzam-se no infinito, certas linhas paralelas que te levam diretamente a uma pessoa insuspeita em que achavas que nunca ia conhecer, e logo esta, tu a conheces. Os paralelos um dia cruzam-se. Não digo no nosso tempo limitado dentro de nossa mente, mas sim no infinito. Não estou fazendo plágio do Caio Fernando Abreu, não te preocupes em julgar o que escrevo. Estou apenas formando a idéia em que me veio a cabeça. As pessoas muitas vezes cruzam por outras e acham que nunca mais a podem ver de novo, mas engano nosso, ou delas, ou seu mesmo. O nosso "amanhã" é muito mais complexo do que uma pequena rotina em que constitui: acordar, escovar os dentes, tomar banho e continuar... mas sim, somos todos os dias vítimas de coisas e acontecimentos inesperados. As vezes o que queremos não acontece. O que esperamos não acontece. O que ficamos ansioso por, não acontece. E aí está o segredo da coisa: quando estamos ansiosos ou aflitos por algo, teimamos em pensar nisto o dia inteiro, e nosso cérebro capta que, quanto mais pensarmos, mais chances de não acontecer. Não é pessimismo. É realismo. Não há nada a ser esperado além de continuar. Seguir em frente. Somos raízes superficiais levadas para todos os cantos em que somos arrastados pelo vento. Nossa vida? Um grande livro aberto. Agora quem lê, pouco interessa. Estamos sempre preocupados com a platéia na qual assiste a nossa vida, porém não nos preocupamos verdadeiramente com nosso devidos papéis que exercemos nela. O que fizeste hoje? Algo que tenha feito diferença... provavelmente dirás que frequentaste a tua academia de classe média alta, saístes com teu grupo de amigos, preocupaste com teu cabelo que está ressecado, e estudaste para não tirar zero naquela prova de física. Não digo que isso seja banal, mas digo que há coisas mais importantes do que nossa pequena vida social, dentro de um mundo onde nos limita a enxergar a expansão lá fora, onde realmente vivemos. Isso aqui, que estamos agora, é nada. Não pertencemos a nenhum lugar, não te enganes! Somos feitos para voar pelo mundo todo, e um dia finalmente retornarmos ao nosso planeta, e nisto, descansarmos e fazermos nossa própria origem. Origem que eu diga, procriar. Cuidar. Vivenciar. E passar para estes, as experiências em que já passastes. Não fomos feitos para ficarmos estagnados, olhando tudo de longe, como quem assiste nossa própria vida, sentados.
Há dias em que nos sentimos verdadeiros trapos, e não temos coragem para nem sequer levantarmos da cama. É tão misterioso o país dos sonhos! É mais fácil. Mas ao acordarmos, damos de cara com uma realidade totalmente diferente. Amarga. Dura. Mas doce quando sabemos o motivo em estarmos aqui. Muitos não sabem. Eu sei. E posso afirmar com todas as forças de que alguém, e sabes exatamente de quem estou falando, Deus, nos colocou neste mundo para fazermos além de sua obra, nossa própria obra. Nossa essência. Não sou de falar em religião, mas hoje abrirei uma exceção pois fico admirada como têm pessoas capazes de crer em algo tão fictício e não crer Nele. No único e poderoso, no que pode secar tuas lágrimas e renovar-te a cada manhã. Não me venha com religião-não-se-discute, e é por isso que a cada dia a humanidade afunda-se. Assim como creio no único e poderoso, o que reina sobre toda Terra e Céus, podes ter o teu ideal também e dizer como posso ter certeza de tudo isto. Não tenho certeza. Vida de cristã é viver pela fé e não por vista. Todos são capazes de crer. Se tu crês que uma cadeira é uma cadeira, tu és crente. Essa é a diferença entre ser cristão e ser crente. Crente todos são. Eu não sou. Se estiveres lendo, dê uma pausa e pense na sua vida. Não estou fazendo apologia dizendo que és abominável por aceitar outros deuses e não a Deus. Mas penses. Assim como achas que este Deus que eu sirvo não existe, como tu podes ter certeza que o teu "deus" existe? Porque tu matas algum animal para oferecer, ou até mesmo gasta rios e rios de dinheiro para conseguir tal magia ou tal trabalho que abre as portas para conseguires aquilo que queres, se existe um Deus que não quer nada disso, não precisa nada disso, precisa apenas da tua fé? Não entendo. Cheguei a esse assunto pois me veio ao coração. Muitos acham careta, ou tão "ultrapassado" falar sobre religião em um site virtual. Mas eu acho que toda oportunidade é bem vinda para falar sobre o amor que Jesus tem por ti. Mas continuaremos com nosso raciocínio...
As pessoas andam cada dia mais ocupadas com aquilo que a traz dinheiro, do que com acontecimentos que podem lhe trazer experiências, ou podem lhe ajudar a pensar, porém ficam bitoladas naquilo que precisam concluir pois tal dia, seu chefe, ou seu professor, ou seu coodernador, seja lá o que for, irá pedir. E nisto, se tu faltares tal coisa, não ganharás teu salário, não terás teu conforto, levarás bronca ou não sei. Acontece que somos robôs de uma sociedade praticamente obrigatória, é impossível não viver nela. Mas para os que querem, é. Tudo é possível aos olhos do que crê.
O amor virou banalizado, digamos, uma nova tática de dar "bom dia". Encontramos alguém, e por essa pessoa parecer pintosa, dizemos algo que, muitas vezes nos fica engasgado na garganta, porém mesmo assim dizemos. Mas porque dizemos? Confundimos a paixão com o amor. E muitas vezes nos decepcionamos. Amor é algo calado, centrado, amor é o silêncio de palavras porém compreendido em ações. O amor é mais do que palavras proferidas da boca de alguém, mas sim, gestos que podem marcar. Paixão é mais comum. E a grande causa para separações. Muitos entregam o que tem de mais importante, seu coração, a alguém no qual pensas que amas, pois aquela pessoa lhe despertou um certo tipo de sentimento diferente, fez teu coração bater mais forte, não que eu diga que no amor não tem-se isso, mas na paixão isso é mais...digamos... clichê. Somos bobos quando ficamos apaixonados, e esquecemos de pensar. Pensar muitas vezes é pregado como algo "frio" pela sociedade, porém é algo que nos previne a decepção, que temos tanto orgulho de dizer aquele ditado rodoviário "decepção não mata, ensina a viver". Realmente, em certo caso sim. Pois aprendemos muitas vezes com nossos erros, porém ao passar do tempo, estamos o cometendo novamente, sem perceber que um dia já nos machucamos. Quer dizer então que somos ensinados a viver com decepções... isto me parece um tanto quanto melancólico.
Sem contar na parte que somos seres masoquistas. A maioria dos casos, a pessoa que nunca aconteceu isto, que atire a primeira pedra, apaixonar-se por alguém que não gosta de ti. Amor platônico. Paixão sem a reciprocidade. Todos nós sonhamos em nos apaixonar por alguém que goste de nós assim como gostamos desta, e assim vivermos felizes para sempre, assim como nas fábulas. Mas a pessoa na qual iremos gostar, será aquela que menos nos dá atenção, e será justamente por esta que entregaremos nosso coração. Que estaremos por ali, sempre que esta precisar, para mostrar nossos cuidados, nossa presença. E elas nunca nos notam. É muito fácil ter alguém na qual gosta de ti, atrás de ti. É fácil, até em um momento, perder. Quando perdemos, damos valor a tudo. Ou a quase tudo. Quando tivemos nossa chance de poder ser ensinada a amar tal pessoa de tal maneira, crau, fugiu por entre nossos dedos, assim como tentamos segurar a água. Amor a distância é difícil também. Mas é o amor mais verdadeiro para mim. Paixão, seja lá o que for. Só que, detrás daquela tela de computador, existe uma outra pessoa na qual está encantada por tal pessoa de tal lugar, e nisto, não incomoda-se de como ela é, de como ela acorda pela manhã, do que ela faz, de seus defeitos, de seus medos, de seus complexos, para ela está tudo bem. Tudo bem. Só precisa de seu silêncio seja lá por trás de um telefone ou de certos fios e cabos que o separam. Precisa daquela pessoa mesmo, sabendo que no lugar em que está, há mais cinco mil pessoas iguais a esta, porém, são todas vazias. Pois aquela pessoa no qual conheceste, é a que conseguiu cativar-te. De mil maneiras, uma esta acertou. E lhe ganhou. Portanto, pouco importa suas espinhas, a cor do seu cabelo, seu tamanho, sua idade, altura, nada disto afeta. Nada. O amor é muito além do nosso pensamento, é algo de mais próximo da magia. Nossa sociedade não sabe mais diferenciar beleza de amor. Para estes, todos os bonitos, com caras bonitas, são amorosos, legais. Digamos, "sociáveis". E aqueles diferentes, bravos de coração, que não se enquadram no padrão, são excluídos e apelidados de feios, pois ninguém conhece tua alma. Nós não nos conhecemos. Como podemos dizer quem é bonito? Mas não conseguimos. É preciso vê com o coração, e não com os olhos que nos foram dados como brindes de nosso corpo humano.
O coração é a nossa verdadeira vista. Nossa verdadeira essência.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Paralelos que se encontram no infinito...


O vento carregava consigo um certo tipo de lembrança dolorida e ao mesmo tempo gostosa de sentir-se, para ela. Como se de alguma forma, ele resgatasse o menino que o acaso levou para longe desta, e assim, trazendo em seu leve balanço, os beijos perdidos que um dia este a mandou, de tão longe. Ao cair da noite, colocava a rede ao lado de fora de sua casa e deitava ali, sozinha, aliás... com a presença dele. Que para muitos que a viam, era só. Nunca foi de inventar estórinhas, contos para si mesma, mas passou a fazer isto. Só assim saciava de certo modo e a fazia acreditar um pouco mais, que um dia, quem sabe, na calada da noite, ouvirá outra vez a porta encostar-se suavemente, sendo acompanhada de passos suaves em direção a sua cama, sentido novamente a presença de teu guri, ao chegar do trabalho.
Não parou de viver. Ainda vive. Coração pelas tabelas, rasgado, perfurado, apertado, pequeno, mas vive. Já passaram-se cinco meses e para ela parece mais 5 dias. Ou cinco horas. Não acostumou-se. Não iria acostumar-se assim, tão depressa, tão de repente, tão recentemente.
Ao mover-se pela casa, ainda podia assistir a cenas passadas em cada canto, em momentos utópicos onde encontrava-se embalada, coberta e de certo modo protegida, pelo seu amante, amor, marido, homem, menino. Sentou-se no sofá no qual era tão gigante só para ela, e riu de si mesma, ali, tão patética, burra, alienada, vivendo de passado, ou não conseguindo enxergar o presente. Mais antes o passado do que o presente.
Ele prometeu-a voltar. Acreditou. Acredita. Acreditará. Enquanto espera pela sua volta, estará bem onde ele a deixou. Com o coração na mão. Toda noite deixando a porta encostada para que o vento possa o trazer novamente para seus braços, e assim, antes do sol vir a aparecer, vê-lo ali, bem em seus braços para nunca mais sair. E em noites de frio, o cobertor não será o suficiente para cobrir-la, tendo assim necessidade do calor humano daquele que um dia a ensinou a dormir como ninguém. E no que pensas, o tempo arrasta-se cada dia mais devagar, alimentando-a cada dia com mais esperança, de poder sentir novamente os lábios dele em seus, selando assim o amor tão esperado ou inesperado.
"Espere por mim, morena, espere que eu chego já. O amor por você morena, faz a saudade me apressar..."
25 de janeiro de 1989

domingo, 18 de abril de 2010

- Mãe - Ele começou. A voz tremia. - Mãe, é tão difícil - Repetiu.


Escrevo-te para dizer que meus dias ultimamente andam muito ímpar, mãe. É difícil demais, eu tenho medo de ter desaprendido o jeito de viver, está sendo duro, está sendo cruel, está sendo resumidamente, difícil demais! É duro acordar todos os dias e tentar arrancar algo, nem que seja uma gota, meia gota, para mim serve até metade de uma gota, para continuar o dia. O cotidiano está me corroendo os ossos e eu acho que meu organismo está com falta de cálcio. Eu sei, a senhora sempre me pedia para alimentar-me direito, fazer as dietas, olhar os lipídios, exames de sangue todo mês, eu sei, eu sei. Mentira, eu não sei. Estou sempre dando uma de saber-tudo quando na verdade sei nem porque meu nome é meu nome, ou talvez nem mesmo o porque que fui parar aqui. Logo aqui. Sinto tua falta, minha mãe. E pai, como está? Diz a ele que estou bem, aos trancos e barrancos, mas muito bem. Afinal, viver é assim, certo? Como sempre me diziam, iremos encontrar vários caminhos ao longo dos nossos dias, ao longo da nossa jornada que pode ser pequena ou curta, mas de algum modo irá marcar a nossa vida. Mas o que esquecemos é que, como diz aquele autor que a senhora me chamava de louca por gostar, Caio Fernando Abreu, não há caminhos a serem procurados fora de nós, eles são dentro e não fora. Ora mãe, não te enganes, odeio quando te enganas assim, tão inconsciente.
Estou enfrentando minhas próprias tormentas, tempestades, chuvas de verão e aquilo tudo mais que estudei em geografia, acho que finalmente agora entenderei o porque de tantos climas e massas de ar. Eu sei que nunca fomos muito de conversar, e a senhora sempre me chamava de fechada ou que eu não gostava de ti, pois eu nunca chegava para conversar contigo, mas mãe, tu não sabes a falta que me faz até mesmo o nosso silêncio, sentadas naquele sofá bege de frente para televisão, sem nenhuma de nós dar uma palavra sequer. Mas o silêncio muitas vezes faz mais falta do que uma conversa, entenda-me! Mas arrependo-me de ter tido a oportunidade de contar-te tantos planos que eu projetava em minha mente, que quebrava minha cabeça tentando contar para alguém que dissesse que eu não era louca, e eu sempre me decepcionava! Sempre. É uma coisa histórica já, as pessoas nos decepcionam todos os dias. Eu achava que...na verdade eu não achava nada mãe, eu tinha vergonha, medo, sei lá o que estava dentro de mim. Eu era jovem, inconseqüente, não sabia que a verdadeira opinião que conta para mim, a primeira sempre será de Deus e a segunda tua e de pai. Não era para eu ter confiado tão severamente nas pessoas nas quais me rodeavam, a maioria delas só querem puxar nosso tapete ou nos despertar do nosso sonho, tão brutalmente. Elas não possuem sensibilidade, isso me assusta tanto. Ainda sou aquela criança na qual tu criaste, que tem medo do escuro, que não gosta de ficar sozinha em casa, que não dorme sem cobertor, e que ainda todos os dias pela noite, espero pelo beijo teu e de papai, mesmo sabendo que ambos não irão me dar. Mas eu espero.
Sabe mãe, passamos por tanta coisa, e nunca perdemos a nossa fé. Isso é tão bonito, é algo tão grande que para muitos parece ser nada, mas não ligue para eles. Eles sabem de nada. Aprendemos tanto uma com a outra, nós três naqueles momentos duros nos quais olhávamos para o céu e achávamos que não tinha mais solução, que era aquilo e acabou. Mas Deus nunca nos desamparou, e eis que estamos aqui. Todos nós. Juntos. De novo. E eis que ambos seguiram os caminhos que eram para seguir-se, e provavelmente deves estar chorando que nem uma criança aí lendo essa minha carta que mando-te de tão longe, mas de onde exatamente a uns 5 anos, era onde eu mais queria estar. Não chores. Guarde tuas lágrimas que são preciosas. Eu estou bem, estou viva. Sobrevivo. Ainda ando com aquela fé que aprendemos a ter. Mas diga-me, como anda pai? Mande um beijo enorme para ele e diga-o que lembro dele todo domingo chuvoso no qual aqui acordo. Diga-o também que ainda escuto Roberto Carlos, não iria me esquecer deste nem tão cedo, certo? E quanto a minha irmã, fiques tranquila, encontrei com ela a uns dias atrás, e o sorriso dela está que me dá gosto de ver! Quem diria né, mamãe?
Mas tem umas coisas que eu queria lhe dizer, antes que acabe a tinta nessa máquina antiga de escrever no qual uma colega de quarto emprestou-me, não me pergunte o porque estou escrevendo nela, eu estava querendo guardar ainda o gosto das coisas antigas, entendes? Ninguém dá mais tanto valor a estas, mesmo estas sendo tão mais lindas e findas do que a tecnologia moderna, na qual ainda sou uma verdadeira iniciante, desde dos meus tempos de ginásio. Mas continuando... me sinto tão só, tão só, que me dói só de pensar na solidão na qual estou sentindo esses dias. Digo fisicamente, sabes? Aí, agora lembrei-me de um episódio, quando eu estava na quarta série, tu me dizias que eu não tinha muitos amigos, que eu era muito só, e eu ficava com uma raiva tão grande de ti, mãe, que minha vontade era juntar todos os meus trapos e brinquedos, fazer uma pequena mala e ir embora lá de casa, essas coisas de crianças que assistiam muita SBT, esse domínio da mídia sempre muito forte, não é. Mas sabes, agora te dou total razão. Não sou de muitos amigos, são pouquíssimos os verdadeiros. Porém mãe, tenho para mim que o problema não está nas pessoas, mas sim em mim. Nunca fui ligeiramente igual a ninguém e sempre me martelava perguntando-me o porque eu tinha nascido daquele jeito, claro, que para uns eu era uma guria como qualquer outra guria, mas comigo não era assim. Eu assistia as pessoas e pensava tão diferente, que, naquela época eu ainda não sabia lidar com aquilo, e nisso eu acabava brigando, tem coisa mais egoísta? Mas ao crescer, aprendemos um pouco. Não sinto-me atraída por nada, incrível isso mãe! Só por aquelas coisas que eu sempre fui, na minha época de transição, acrescentada com umas coisas a mais de agora que eu fui descobrindo. Quanto ao coração? Um cactus. Não importo-me mais. Pelo menos ele ainda funciona, que eu diga, ainda faz o meu sangue circular pelo meu corpo inteiro. Quem sabe alguém que seja tão alguém para fazer ele ter mais alguma outra função além da biológica. Por favor, não te preocupes comigo. Eu ficarei bem. Aquela menina na qual tu cuidaste a vida inteira, não irá decepcionar-te, isso é a ultima coisa que eu quero. Ou nem ultima. Ainda tenho esperanças quanto essa coisa aí de amor, tu sempre me dizias para parar de me colocar para baixo, e é isto que ando fazendo, não sou tão repulsiva assim, como diz naquele filme lá, que tem um bom tempo que não assisto, Amélie Poulain, até alcachofras têm coração. Mas ainda sou nova demais, mãe, para minha vida. Há coisas que eu nem imagino o que são, que irão vir à tona, e nisto quem sabe me trará algumas surpresas? Vivo cada dia com uma certeza de que não será atoa o levantar da cama, temos que fazer todos os dias de nossas vidas valerem a pena. Inclusive o seu. Estou programando uma viagem para ti e para papai, os dois juntos, quem sabe uma outra lua-de-mel? Aguardem e eu darei notícias. Mas é assim mesmo mãe, estou te contando coisas que tiveram raíz na época em que eu ainda gostava de bandas mexicanas. Coisas que ficaram guardadas comigo, e que eu nunca tive coragem de contar para ninguém. Nem mesmo para ti. Agora que vejo que sempre tive uma melhor amiga todo esse tempo e nunca vi. Bem que tu dizias, "melhores amigos são seus pais", direi isso aos meus filhos. Queria tanto mãe, tanto, poder deitar no teu colo e chorar como uma criança que chora por estar com fome, e tu me preparares aquela comida que só tu sabes fazer, e gastar nossos tempos jogando UNO, ou cartas, fazendo "adedonha", que falta me faz teus cuidados! Que falta faz o meu pai, dando-me dicas do que poderei encontrar no futuro, pois ninguém sabe do futuro, só Deus. E sem contar dos nossos domingos sentados naquela mesa, tomando café-da-manhã, que era mais café-da-tarde, pois terminava as 13:00hrs, e tu ficavas toda brava com papai, e ele sempre tentando acalmar-te. Saudades do vô e da vó, como eles estão? Ai, que saudades dos meus velhos. Falta faz-me pedir dinheiro a eles todo fim de semana para comprar balas, ou chorar por causa de um brinquedo que todos-tinham-menos-eu. E meu quarto? Ah, se tiveres tempo dá uma passeada nele, guarda tantas lembranças aquele cômodo. Tantos papéis velhos, palavras nunca ditas, choros, lágrimas, risos, sorrisos... Saudade de no meio da noite ir dormir no meio de ti e de pai, com medo. E poder acordar e ver os dois bem ali ao meu lado. É difícil demais mãe, eu não sabia que era tão difícil assim viver. Dói como uma facada no estômago nunca retirada. Que lateja dia e noite.
Quanto ao dinheiro, estou aprendendo a me virar, uns bicos aqui outros ali, a faculdade toma-me tempo completo. Aqueles trabalhos que Camila fazia sabes? De madrugada, agora sou eu. As vezes falta dinheiro, mas Deus sempre supre-me. Coisa maravilhosa ter um Papai do céu. Com ele não sinto-me abandonada. Nunca.
Agora eu sei o que sentias, quando a senhora dizia que naquele mês o dinheiro estava contado, nem mais nem menos. Aquilo era um corte no meu coração, pois eu era sempre muito consumista, tu me dizias isso todos os dias. Mas agora estou sendo mais...digamos... consciente. Dinheiro não é tudo. Nunca foi. Claro, para algumas coisas, conforto, lazer, algo que pode proporcionar a felicidade. Mas em si, a felicidade podes tu mesmo proporcionar, se já tiveres esta plantada dentro de ti, e regá-la todos os dias. As vezes ela murcha sabes, pelo menos dentro de mim, dias que estou viva por estar. Sem nenhum sentido. Sem nada. Mas acostumo-me, pois nem é de pão e vinho que vive-se um homem, certo?
Mas agora me despeço de ti. Se sentires falta de mim, procure-me em qualquer confusão, estou dentro de cada coisa lembrada da tua mente, mãe. Não te afobes, como diz o Chico, nada é para já. Um dia vejo se faço uma surpresa para vocês. Enquanto isso, escreverei todos os dias, para contar cada passo meu por aqui. Obrigada pelo carinho, e pela atenção. Guardo vocês comigo, espero que vocês guardem-me por aí também, não esqueçam de mim, imploro. Obrigada por ter cuidado todo esse tempo de mim, e pelas noites em claro por conta das minhas gripes e doenças. Meu sistema imunológico sempre muito baixo, irei me cuidar direitinho. Prometo-te. Mande-me notícias se puderes.
E para ti, deixo um forte abraço e um beijo demorado. Manda para pai também. Diz que estou com saudades, morrendo de saudades, melhor. Um dia iremos nos assentar naquela mesa novamente e conversar até o fim raiar. Como nos tempos antigos.
Te beijo. Te abraço. E te amo.
Um grande beijo,
da tua filha, Carolina M.

P.s.: Está na hora de fazeres algo por si mesma, mãe! Chega de esperar por algo. Faça acontecer. Torço por ti.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Controle (vital) remoto


Podemos considerar as pessoas como passageiras de uma embarcação chamada de vida. Paro para pensar em quantas pessoas eu já conheci e já abandonei, em quantos apartamentos eu já morei e já deixei, em quantas cidades já vivi e já saí. Somos nômades da nossa própria vida, seja ela pacata ou movimentada. Pouco importa. O que importa é que vives. E viver é espantoso, não diga-me o contrário.
As coisas, pessoas, cidades, amores, apartamentos alugados, foram feitos para serem deixados para trás. Não me venha com esse ditado no qual vistes naquele filme onde a mocinha vive feliz para sempre com o mocinho, dando ênfase no "sempre". Não estamos na fábula da Carochinha. Não somos os mocinhos da nossa própria história embora haja tantas madrastas e bruxas. Passamos por situações na qual achamos que estamos literalmente sem saída e, dia após dia as coisas amenizam e aí tu já podes respirar fundo e sentires o ar penetrar em seus pulmões tão sujos de cigarro de quinta categoria, no qual fumaste de nervoso. O que tenho para dizer é, durante toda nossa trajetória, passamos por pessoas que nos ensinam o que ao longo do tempo aprendemos, e quando achamos que aquela nossa professora que nos ensinou o Bê-a-bá é nada comparado aos inúmeros problemas de trigonometria que tens que fazer ou geometria descritiva, estás enganado(a). Muitas vezes aquelas pessoas que nos falha a memória, são as mais importantes para justificar aonde chegamos. Há quem diga conselhos, há quem explica certas situações, há quem ama, há quem cuida. Sempre há um tipo de pessoa para tudo em nossa vida. Mas não te enganes: nós também somos isto para elas.
Não passamos de uma imagem embaçada no espelho de um banheiro, um futuro mal previsto, um protótipo de uma pessoa recém chegada na vida. Somos a sensibilidade de alguém que vive sem saber o porque realmente vive.
Muitas pessoas irão marcar nossas vidas, a maioria delas nos farão chorar e a minoria sorrir. Não te iludas confiando em todos que vês pela frente, a maioria deles são lobo em pele de ovelha, no qual esperam uma oportunidade certa para transformar-se. Todos passamos por este bote um dia. E com isto, aprendemos que as pessoas são menos misteriosas do que pensam que são. Deves perguntar-se o porque do título e o que tem a ver com o que estou falando nesta discursiva. Acontece, meu caro, que nossa vida toda ou a maior parte dela, está baseada em pessoas nas quais cruzamos todos os dias pelas ruas e nem sequer sabemos o nome. Há pessoas que tornam-se incapazes de serem esquecidas e outras, que em um estalar de dedos conseguimos nem mesmo lembrar o nome. Por pura vontade. Nós quem escolhemos quem fica e quem saí, as vezes com muitos erros, não digo que sois perfeitos. Somos feitos a base de erros. Porém muita das vezes julgamos pelo que vemos e não pelo que conhecemos. Somos bombardeados todos os dias com fofocas e disse-me-disse no qual afeta nossa relação (in)diretamente com as pessoas. Dificultando-nos a aceitá-las do jeito que são e tendo assim dificuldades para nos entreter com as diversas diversidades humanas, devido ao que plantamos.
Estava observando um dia, o que já ensinaram-me durante esse percurso que tenho feito em minha vida, e notei que, algumas coisas que aprendi no tempo em que eu ainda nem sabia falar direito, prevalece até hoje em dia. Cada um de nós sabemos o verdadeiro significado de alguém em nossas vidas, um lugar, um cheiro, uma foto, uma lembrança. Somos feitos de pequenos pedaços de saudades misturado com desejo de ser alguém. E quando olhamos para trás e vemos quantas mulheres e homens nos ajudaram, nos apoiaram, nos ensinaram, nos amaram, nos cuidaram, nos trataram, nos apoiaram... percebemos que algo não fizemos em vão. Que o que viemos fazer na Terra, se ainda não está completo, metade já está, pois o mais importante que aprendemos na vida foi o fato de acumular afetos, carinhos, amores. O resto é resto. Ninguém precisa de restos para ser feliz. E enquanto isso, nossa vida vai passando como um trem parando em cada estação, descendo e subindo pessoas, rostos, faces, diferentes corpos, transitando pelo meio de nós na tentativa de nos ensinar alguma coisa no qual já aprenderam e querem nos repassar. E assim poderemos ensinar a nossa geração e assim por diante. Nada dura para sempre. O sempre não existe e nunca existiu. Não somos para sempre, então, como podemos achar que algo ou alguém é para sempre? Não sejamos tolos. Mais dia menos dia estaremos junto com outros ciclos sociais e, aquele nosso ciclo antigo, amigos antigos e amores antigos, servirão apenas de passatempo e um certo tipo de melancolia no qual irá nos perturbar todo domingo pela tarde, batendo a nossa porta, nos chamando para compartilhar com estes os momentos nostálgicos que passamos juntos. Enquanto o tempo passa, as coisas movimentam-se, nós mudamos, o mundo fazendo sua rotação e, as pessoas sempre indo e vindo de nossas vidas, fazendo de nós abrigo temporário para um alojamento de momentos e ao sair, saí por completo. E sempre nos deixa com espaço para um novo tipo de alojamento para uma pessoa totalmente diferente, uma ocasião inusitada. E nisso, nos damos conta de que nunca soubemos o verdadeiro significado do "para sempre" e falávamos isso porque era bonitinho transmitir um certo tipo de intensidade para o(a) algo que está recebendo, sentir-se querido. E, nossa vida, sempre sendo cenário de um curta-metragem onde o fim é o que tem-se de mais certo.

domingo, 11 de abril de 2010

O inventário do Irremediável


O que dizer? Que te amo, que te espero, que te aguardo todos os dias a noite mesmo sabendo que não vens, que ainda te espero do mesmo jeito em que te vi partir de mim, que ainda encontro-te mesmo sendo em meus sonhos e acordo com a sensação de que passaste por lá e fostes embora pela manhã logo cedo, assim como quando a lua se vai para dar lugar ao sol. E nisto, tu se vais junto com esta, e parece que só me apareces quando o sol já está abaixo, e aí me bate aquela melancolia de fim de dia, aquela lamúria de como-eu-era-feliz-e-nunca-soube-disso, e escuto Maria Bethânia até o dia raiar com um copo de vinho na mão, e as almofadas jogadas ao chão. Acho que não seria recomendável dizer que minha porta estará sempre aberta para ti mas sim, perguntar se a tua estará aberta para mim. Eu sei que estou meio atrasada e ando meio desligada em meio a nossa (ex)relação, mas quero lhe informar de que, eu espero que o tempo ainda me sirva para dizer-te que eu sei que andava errada e a tua ida nunca foi uma surpresa para mim. Aliás, tu nunca fostes uma surpresa para mim. Nem eu para ti. Nós nunca fomos nada um do outro mas ao mesmo tempo fomos tudo. Não me aches louca, estou sendo breve e curta, tentando não rodear tanto por entre meus rodeios e devaneios frenéticos que sempre tenho pela noite. Mas como eu estava mencionando, meu vinho sempre acabara lá pelas cinco da manhã e eu inventava de ligar para alguém e dizer olha-eu-estou-tão-sozinha-vamos-ver-o-nascer-do-sol-no-arpoador. Eu sei, meu bem, não adianta. Nunca irá adiantar os esforços que eu faço para preencher algo no qual só eu mesma poderei fazer.
Não queira me entender, apenas me entenda. Mas dentre tantas idas e vindas, deixa eu te dizer de que tu perdeste uma parte da minha vida, ou uma fase. Não sabes mais de nada sobre mim. Muito menos eu de ti. Não sei se ainda continuas gripando no inverno e usando esse seu casaco de lã que eu sempre dizia que era isto que te dava alergia, e não sei se ainda ficas com o nariz vermelho de tanto espirrar. Não sei se ainda tens essa voz meio rouca na qual ficara mais rouca ainda ao acordar, e me acordar com a tua boca na minha orelha fria repetindo que está tudo, tudo bem. Assim como tu não sabes mais nada sobre mim. Tu não sabes de que meu aperto no peito diminuiu e, de que, aprendi a tocar violão. Tu não sabes de que fostes tu quem me incentivastes a escrever em segunda pessoa do singular e de que fostes tu quem me ensinaste a ser romântica, junto com teu romantismo medieval. Tu nem imaginas de que estou fazendo pinturas para mim mesma e me socializando junto comigo. No quesito, digo que ando mais eu-comigo mesma. Acho que estou seguindo teus passos quando tu eras presente. Sempre gostei da tua singularidade e do quanto tu te tornavas responsável por tanto carisma em pouco tempo. Tenho achado viver tão bonito, meu caro. Tão bonito. Ando com uma felicidade meio louca, como eu queria que estivesses aqui! Tirar de ti essa imagem de menina deprimida, na qual tu me conheceste. Viver me enlouquece! Acho que estamos em um constante Pinel a cada dia que passa-se. As pessoas são loucas, lunáticas, umas com uma cabeça longe outras perto. Umas conseguem ser distantes e irremediáveis. Outras sonhadoras, outras realistas... Deves perguntar-se o que teria me dado para uma troca de opinião tão rápida assim. A resposta, meu amigo, está em ti mesmo. No meu caso, só estou tentando ver as coisas um pouco mais bonitas, mais arrumadas, mais memoráveis. Eu não iria conseguir expressar nenhum sentimento com a minha falta de sentir. Eu não sentia mais nada a um bom tempo, meu amor. Era uma coisa oca, dentro e fora. Movimentava-me meio sem rumo, meu olhar andava perdido, ainda anda, mas isso nós resolvemos depois. Muitas pessoas acham que sabem tudo sobre mim, acho isso tão gozado! Pois nem eu mesma me compreendo. As vezes, nem eu mesma me suporto. Mas estou peixe, afinal, o que há depois? Vivo um dia de cada vez, o amanhã, quem sabe o que me trará, por enquanto estou resgatando-me, para depois resgatar-te. Deixa eu te ensinar como viver é bom... Pode ser bom, as vezes. Não digo sempre. Sempre pinta algumas desavenças, uns poços aqui outros ali, mas é só pular, certo? Fomos presenteados com um belo par de pernas no qual nos leva além do que achamos que somos levados. Até mesmo para as estrelas, mas aí já é demais. Claro que não! Nunca é demais. A vida foi feita para ser explorada e não para viver em uma imaginação limitada. Quem tem uma mente pequena, possui um mundo limitado diante de seus olhos. Vivemos de realidade todos os dias. Desde da hora em que acordamos até a hora em que nos recolhemos para dormir. Uns acham um jeito de sair desta realidade na música, televisão, arte, lua, e outros mais. Porém outros fogem da realidade na escrita, onde tudo podes realizar. Onde tu és o autor da tua própria história, assim como faço. Escrever é colocar para fora tudo aquilo que pensas sem seres questionado. Tá, as vezes és. Mas é o que pensas. Podem tirar tudo de ti. Tudo. Mas nunca conseguirão te tirar aquilo que tens aqui ó, na cuca. Escrever é nascer para dentro, meu amado. É onde tu podes fazer acontecer.
Gosto de falar que nasci em nenhum lugar, mas sim pelo mundo. Ou dentro de mim mesma. Nascer todo mundo nasce. Difícil é viver. Assim como querer morrer, quando a coisa está preta, todo mundo quer. Achando que assim é uma fuga para tudo, mas vai enfrentar teus próprios medos e vencê-los, que terá vitória. Não moro no Rio de Janeiro. Não moro no Brasil. Não faço parte da América. Não pertenço ao ocidental. Não faço parte do planeta Terra. Faço parte de mim mesma. Não tenho tribo. Minha tribo, sou eu.

Mas ah! Como eu estava lhe dizendo... permita-me perguntar-te uma coisa: tu ainda cogitas a possibilidade de poder voltar?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Bloco na avenida, um samba popular...


As cidades são sempre muito cheias e aglomeradas ao chegar sexta-feira. O que tem de tão diferente entre sexta-feira e os outros dias da semana? Pensemos: Todos possuem "feira" depois, menos o sábado e o domingo. Talvez por ser um final de uma semana na qual provavelmente passou arrastando-se pelas tabelas, aquela semana difícil em que ao dormir não vias a hora de acordar para chegar logo a tão esperada sexta. E aí, as multidões e aglomerações espalham-se pelas ruas na tentativa utópica de esquecer-se pelo menos durante apenas três dias da rotina dura na qual enfrentam durante um longo período até chegar aquele finalzinho.
Enquanto nas ruas as pessoas sempre falando alto demais, gargalhadas, abraços, beijos, sorrisos com validade de três dias, por favor, não adotem isso após ter passado os três dias pois poderás correr sério risco de contaminação. O movimento de entra e sai de um lugar para o outro, de um bar para o outro, a procura de cerveja barata e diversão demasiada. Onde o famoso ditado em que usam geralmente seria: hoje-é-sexta-feira-tudo-pode. E nisso dançam como se fossem as últimas pessoas da face da Terra e bebem como se a bebida fosse algum tipo de oásis no meio do deserto da calamidade. Certamente, pessoas em modo geral e literal, vivem em um verdadeiro deserto, onde qualquer outro tipo diferente de fazer certo tipo de coisa, aderem. Na tentativa frustrada de não permanecer na real e cinzenta realidade de segunda-feira.
Digamos que todo final de semana seja considerado como um bloco de carnaval que estará para passar na avenida tocando um samba de acordo com a faixa etária ou estilos variados de cada ser. A busca constante pela felicidade irreal. A felicidade cujo sentimento seja momentâneo porém melhor do que nada. Qualquer pretexto é aceito para sair um pouco do cotidiano. Sair da rotina de acordar sempre seis da manhã e ir tomar aquele banho no frio/calor, vestir aquela roupa na qual não desejas porém és obrigado, sair de casa e cruzar com outras pessoas nas quais fazem a mesma coisa que ti, porém em lugares diferentes e em ambos casos, as vidas são monótonas e pouco divertidas. Onde a responsabilidade se faz como um peso no qual carregamos toda semana nas costas e contamos os segundos para poder descansarmos destes.
Esta é a busca incessante das pessoas nas quais procuram um lugar onde possam dançar um rock até cair, e provavelmente, até o amanhecer.
A inconstante sede de ser feliz antes que os ponteiros de domingo cravem às 00:00hrs.
Porque todo dia é a nostalgia das besteiras que fizemos no fim de semana, passado.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Que é pra ver se você volta...


Sentados na mesa, um de frente para o outro, ambos apreensivos com a reação ou com o que o outro irá dizer, onde o nervosismo estava à flor da pele, e o coração dos dois pulsando como uma bomba pronta para explodir a qualquer momento.
- Ora, quebre este silêncio e diga-me logo o que tens para dizer! Não faça tantos rodeios, parece que não me conheces... anda, qual foi o motivo em que me trouxeste aqui?
Ela dizia quase sem ar, como se o ar estivesse denso demais para esta respirar, ela via através de teus olhos que havia algo errado, e seu nervosismo foi todo para suas mãos, mexendo-as aleatóriamente.
Com um gesto quase bruto, tomou suas mãos e prendeu-as com as dele. Queria sentir sua pele junto com a dele um pouco mais, só mais um instante, ele sabia que isso não iria acontecer mais. Olhou-a nos olhos e, tomou uma respiração profunda e disse:
- Estou aqui para dizer que, primeiro de tudo, és maravilhosa. Ensinaste-me a amar e a me amar, antes que meu ônibus parta, queria deixar-te ciente de que, meu coração nunca foi tão bem cuidado como foi cuidado por ti, e agradeço-lhe desde já, pois todos aqueles machucados que ele possuía quando te conheci, sumiram junto com minha amargura, pois fostes tu quem conseguiste tirar cada ferida desse orgão que durante muito tempo, só pulsou por ti. Conhecer-te foi o que a vida me trouxe de mais esplêndido, foi um presente no qual eu não merecia, tu és uma pessoa no qual pouca gente merece, e sinto-me honrado por te ter. E antes que eu levante-me daqui, saibas de que, acordar e ver de primeira o teu rosto, todo início de manhã, não possui preço. Se eu acordo antes mesmo de ti, como sempre reclamavas pois as vezes eu acordava-te sem querer, era só pra ver-te dormir, me trazia paz de certo modo. Tu me traz paz. Sempre trouxe, e sempre irás trazer ao lembrar-me de ti. Tu me fizeste ver a minha vida de um outro ângulo, onde eu, tão cheio de pompas e orgulho forte, e um coração no qual ninguém jamais penetrou, fostes tu pela primeira vez, que conseguiu tudo isso. Eu cheguei a humilhação em confessar para outra pessoa feito eu, que necessito desta para viver. E eras tu. E és tu. Deixei no nosso antigo armário, que agora será só seu, minha camisa no qual tanto gostavas, e eu adoro como ela fica em ti, portanto, deixo-te com ela, para lembrares toda vez que vestires, a cara que eu fazia quando a colocavas, tu sabias exatamente como me deixar louco, mesmo sem jeito. Realmente, Lua, tu não sabes seduzir. Quando te conheci, ria tanto contigo, tens esse teu jeito tão... calmo e ao mesmo tempo agitada, tão desligada e, vindo de outras pessoas, isso é comparado a idiotice, mas vindo de ti, é tão...lindo. Adoro como te confundes ao tentar explicar algo e acabas se enrolando mais ainda, e adorava o teu orgulho, mas as vezes me tirava do sério, nunca vi tanto gênio assim em só uma pessoa, mas ao mesmo tempo, adoro tua humildade, como tu consegues ser tão pura e ter tanto amor assim, me ensinas, vai? És mais do que um grande amor, és um orgulho, és uma meta de vida para mim mesmo, ser que nem ti. Mas voltando aos teus defeitos que são qualidades, tu és engraçada demais tentando me provocar, por favor, não faça isso com seu próximo marido, certo? Não quero que ele vá embora com medo de ti. Mas também se ele for, não ligues. Pois ele não era suficiente e tu mereces alguém tão grande como ti. E ah, esqueci de mencionar teu sono quase inatingível? Não és muito de noite, e tive que me acostumar estando contigo, acho que irá ser difícil para mim ao me chamarem para ir para um boate. Não sei se irei ou se chorarei com saudades de ti, meu amor. Eu adorava te pegar no colo e te colocar na cama, porque sempre acabavas dormindo em um canto inesperado, como o sofá da sala, ou tu dormias na casa da tua avó, ou na casa daquele nossos amigos de Santa Catarina, e eu sempre tinha que te carregar no colo, porque se te acordassem, tu ficarias toda enjoada e acabaríamos brigando e como sempre tu colocando toda a culpa em cima de mim. E eu ficava furioso e batia a porta na sua cara, e depois tu se arrependias e abria a porta com aquela sua cara de cachorro-sem-dono e eu não resistia e te cobria de beijos, e tu ficavas toda manhosa ao meu lado e eu achava a coisa mais linda, ainda acho. E porque tu não sabes dançar também e, quando tu danças animada, é capaz de expulsar todas as pessoas da pista. E eu irritava-te dizendo que as outras meninas dançam bem melhor e tu ficavas toda bravinha comigo, e com aquele teu bico que só tu sabes fazer. E ficavas calada o resto da noite toda, e quando ias dormir, dormias a um metro de distância de mim e eu adorava rir dessa situação. Mas ao acordar, já estavas toda linda com esse seu sorriso capaz de iluminar até mesmo a lua, Lua. E tu iluminavas meus dias, meu trabalho, eras minha motivação, não preciso dizer que meus quadros todos foram pintados baseados em ti, né? Tem até um que está aqui comigo, que irei te dar para pregares naquela parede que eu acho horrível que tu pintaste, tu és tão sem jeito, Lua... ele é uma foto tua, dormindo. E concluindo nossa conversa, porque o relógio está quase com os ponteiros em 18:00hrs, o que eu queria te dizer era isso. Não sabias que eu iria viajar, eu sei, mas me perdoa, não queria te machucar. Eu te prometi nunca te deixar, mas acho que somos grandes suficientes para saber que nossas vidas são feitas de imprevistos e agora, eu fui vítima de um deles. Espero que um dia possas me perdoar, era a minha última intenção te magoar...
(Silêncio)
Com os olhos presos ao horizonte, ela não disse nada. Seus olhos pareciam se encher e se esvaziar de lágrimas, mas foi forte. Nesse ponto, seu orgulho era um mérito.
- Tudo bem. Vai. As pessoas sempre prometem o que não pode cumprir-se, e elas simulam uma conversa super bem-bolada e despeja palavras de amor ao mesmo tempo esclarecendo as coisas, em cima de ti, porque já sabes que não poderei fazer algo para fazer-te ficar. Mas voltando ao assunto, era isso que tinhas para me dizer, certo? O que esperavas que eu pudesse dizer? Ah-meu-amor-não-se-vá-preciso-de-ti-todos-os-dias-da-minha-vida-estou-perdida-sem-ti-blá-blá-blá-. Não te preocupes quanto ao quadro, irei quebrar. E espero que tenhas uma ótima viagem. Estou-me indo.
Levantou-se como quem carrega um peso em seu coração, mas ninguém vendo, tranquilizou-se e, saiu tão depressa que esqueceu-se de seu casaco.
Ele continuou sentado, olhando-a ir embora, sem nem um último beijo, e perguntava-se como iria conseguir partir sem a sua menina. Levantou-se também e, notou que esta esqueceu-se de levar seu casaco. Pegou para ele. Encostou-o em sua pele do rosto e fechou os olhos, podendo sentir o cheiro de sua amada. A vontade de ficar apertou.
Não viajou. Ficou. Ficou pois quem deixa algo, precisa ficar para resgatar esse algo, e no caso, era ela. Percebeu que não podia viajar sem ela.
No dia seguinte, resolveu ir até seu apartamento. Bateu uma vez na porta. Bateu duas. bateu três. Notou que não tinha ninguém em casa. Sentou-se na frente da porta, com sua mochila de viagem, e dormiu. Acordou com o barulho da porta do elevador abrindo e a viu. Ela por sua vez, ainda não o tinha visto, estava meio desastrada como sempre tentando procurar as chaves em que ela jurava ter colocado em sua bolsa. Deixou esta cair. Ele logo se apressou e pegou para ela. - Obrigada - Disse com um meio sorriso, ainda estava abatida pensando ter perdido para sempre seu amor. - De nada - Respondeu.
Ficou estagnada. Conhecia aquela voz, aquele perfume... Olhou para cima e o viu, não acreditou, continuou olhando, encarando, tentando achar significados e tentando acreditar que aquele era ele, ou não. Não queria iludir-se novamente, depois de tudo que ele a disse no dia anterior, ele não ficaria. - Ele não ficaria - Repetiu para si mesma, como quem fala sozinha. Ele aproximou-se dela por trás e falou em voz baixa, só para ela escutar. - Fiquei só por ti.
Logo, deixou seu orgulho, dores, rancores, mágoas, tristezas, lágrimas, chaves, bolsas, compras e ali, o abraçou tão forte, o mais forte que podia, fazendo este sentir seu coração já tão ferido de amar, mas reconstituído pela sua volta. Ele levantou-a vagarosamente, e apanhou as chaves que havia caído, entrou pela porta onde saiu e deixou as chaves em cima da mesa. Colocou-a na cama e logo se assentou ao seu lado. Vendo-a ali, tão linda, tão bela, tão pura, tão dele. Estendeu uma de suas mãos para tocar sua pele que parecia mais porcelana, e a olhando disse: - "Ser assim? Eu não. Prefiro com você, assim, juntinho, sem caber de imaginar..."
Aproximou sua boca da dela e, falando entre um beijo ela o perguntou: - Não me faças ter que ficar sem ti... E ele a respondeu cuidadosamente com suas palavras: - Agora eu te prometo, até que a morte nos separe.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A bailarina e o Soldado de Chumbo


O dia estava raiando e, suas sapatilhas marcavam caminho em direção ao sofá. Um sofá largo, de cor meio desbotada, bem típico burro-quando-foge. Enquanto dormia, os braços dele a enlaçava como quem enlaça um presente precioso e, distribuía beijos a partir da sua nuca até seus ombros, como quem cuida de uma jóia rara. Não demorou muito, os ponteiros do relógio cravaram as 15:00hrs e ela despertou como quem desperta do sonho da branca de neve com o beijo de seu príncipe. Porém ela não estava em um conto de fadas, mas ele era seu verdadeiro amado. Conheceram-se em uma abertura onde ela apresentou sua dança clássica e este ficou tão admirado que precisava tê-la de algum jeito, e conseguiu. Mesmo que fosse por um dia, dois. Uma hora, um instante, como se a pele dela e a sentir em um só corpo fosse sua cura de tantos outros machucados.
Tentou pará-la, segurando em seus braços e tentando a prender para não ir embora, como se ela já fizesse parte de sua casa e sem esta, a casa ficasse pequenininha e toda a magia daquela noite fosse junto com ela. - Ah... Pensou. - Não me deixe só, o sereno dói.
Ela se assentou do lado dele e o olhou nos olhos, procurando achar algum sentido para tudo aquilo ter acontecido, achou-se fácil demais por ter sido levada para cama em uma noite só, porém tinha algo de muito diferente na história, era como se eles se conhecessem muito antes de saber que iriam conhecer-se ainda. E nisso, ela levou uma de suas mãos ao rosto dele, tão marcado pela expressão de tristeza ao vê-la arrumar suas coisas para partir, e ficou acariciando-o. Durante um largo tempo de silêncio entre ambos. Mais uma vez a fala dos dois fazia-se desnecessária nesse momento. Logo, ele colocou suas mãos sobre a dela, e fechou os olhos como quem não quer acordar, e a beijou. Seus lábios eram como labirintos nos quais estavam dispostos a explorarem cada canto, cada gosto, cada textura. Mas o relógio os interrompeu novamente. Em um minuto vestiu-se, arrumou o cabelo e pegou sua bolsa. Ali, já era tarde demais para contestar qualquer tipo de possibilidade em que esta poderia ficar. Ele apenas ficou parado, naquele apartamento quarto e sala em que suou tanto para conseguir comprá-lo, e durante dias procurava uma razão para não morar sozinho, e encontrou esta razão, porém ela estava indo embora, novamente. Partindo e enquanto partia tentava não olhar para trás, como se fosse um gesto de não deixar nenhuma parte lá dentro. Tentativa em vão. Ao partir, deixou seu perfume e, esqueceu-se de levar suas sapatilhas de ballet. No mesmo momento, pensou em correr atrás dela, mas logo percebeu que tinha esquecido seu nome. Mas para ele, ela era Bailarina. Não tinha como confundir-se com outra. Era a sua menina na qual ele tanto esperava ao passar dos meses. E a encontrou. Porém, a teve que deixar ir, pois a amava. E tudo no qual amamos devemos deixar livres, para que estes possam sempre voltar um dia. Pode demorar, não digo que seja rápido, mas se realmente for seu, tem volta. E ele a aguardava ali, naquele pequeno apartamento onde se fez menor ainda com a ida dela. E ele a espera voltar, do mesmo jeito em que a esperou entrar...


Baseado em: Juliana Marvila