domingo, 4 de julho de 2010

Ausência Presente


E ele que me contemplava no silêncio, passava a mão sobre a minha cabeça, sorria-me um sorriso de paz, e sempre dispensava as palavras ao chegar-me. Não esperava uma atitude minha. Ele fora sempre tão dentro de si e dentro de mim, que de alguma maneira, falávamos entre as línguas, algo no qual ninguém entendera, apenas nós dois. Era um certo tipo de linguagem criada para a fala de duas pessoas vítimas de algo abominável e ao mesmo tempo, tão singelo. Suas mãos sempre foram grandes demais para assegurar-me em seu peito, e longas demais para afastar-me com um impulso vital. Nunca sentia sua ausência por entre meus lábios, e ele muito menos. Tínhamos um ao outro, o que mais poderíamos ter? Que se acabe o mundo, que a conta de luz venha o dobro da que era, corte nosso telefone, tire nosso apartamento, expulse-nos. Só não corte meu único laço umbilical que liga-me ainda neste mundo de gigantes. Sua presença era reluzente sobre meu dia, até o momento em que, ao chegar, ficou imóvel, apenas com aqueles olhos pretos fixos em mim, esperando um certo tipo de aproximação, ou atitude. E ali eu começara a sentir sua falta por entre meus braços, e minhas mãos tornaram-se ásperas pela espera dele vir em minha direção e tirar-me da inércia, puxando-me para um longo e forte abraço onde as palavras são descartadas. E ali me dei conta, sua ausência nunca foi tão dolorida como naquele momento. E o vi como eu nunca o tinha visto antes, e eu o desejei como se eu nunca tivesse o tido dentro de mim. Quebrei a distância dando um passo para frente e largando-me em seus braços, e ele, que sempre esteve ali, para mim era como se só tivesse presente, naquele instante.