sexta-feira, 5 de março de 2010

Astrounauta, diz pra mim...cadê você?


Toda carta de amor é ridícula. Se não fosse ridícula, não seria carta de amor, como já dizia Fernando Pessoa.
Calma aí, me ouça, eu quero te dizer, antes de pegares esse avião, que meus dias têm sido melhor. Eu tenho gostado mais de mim, para aprender a gostar mais de ti, espera um pouco, não quer tomar um capuccino? Poderíamos conversar sobre isso melhor, e não aqui nesse portão de embarque. Essa moça falando toda hora que seu avião está partindo daqui a uns minutos está me enlouquecendo. Mas deixa eu concluir, já estou terminando, te juro. Presta atenção, minha dor no peito melhorou muito desde que te conheci. Eu tenho visto as coisas de um jeito diferente, sabes? Eu ando vendendo amor, o amor que tu me deste, e eu queria te dar mais. Lembra daquela pedra que eu tinha dito pra ti antes de nos conhecermos? Então, ela quebrou-se. Não digo que tenha sido quebrada sozinha, mas sim, tu quebraste ela. Antes eu me via como uma enorme iceberg sem previsão para derreter-se, e aí veio ti, com teu calor, derreter-me. Agora me diz, tens mesmo necessidade de ir? Deves estar agoniado dentro dessa sua jaqueta de couro, a minha favorita claro, e deves estar com aquele All Star surrado já. Acho que estás esquecendo-se de alguma coisa que estás levando contigo por engano. - Por engano? Não. Mas do mesmo jeito, devolva-me meu coração no qual carregaste contigo para essa sala fria em que esperas para pegar seu vôo às 20hrs rumo à lugar nenhum. Quisera eu que ele fosse rumo ao meu coração. De volta. Irei voltar para casa com as mãos no bolso da minha calça, sim aquela calça destroçada na qual amas. E irei sentar-me na cama, e lembrar de todos os gestos, e carícias que trocamos durante sua curta duração ao meu lado. Ainda tens que ir? Ainda tem os teus dedos finos deslizando-se sobre a minha cintura, enquanto me dedilhas parecendo que sou seu violão. Boy, tu és meu acorde mais bonito. Nossa casinha de cobertor, nossa luz de cada manhã, seus beijos ao pé do meu ouvido, cantando uma melodia gostosa de se ouvir, sim! Aquela música que tu amas, e sempre dizias que lembrava de mim ao escuta-la, era aquela assim: é, morena, tá tudo bem. Sereno é quem tem a paz de estar em par com Deus. Pode rir agora que o fio da maldade se enrola. E repetias no meu ouvido sempre ao acordar, com ênfase: para nós, todo amor do mundo, para eles, o outro lado (...) Ser assim, eu não. Prefiro assim com você, juntinho, sem caber de imaginar, até o fim raiar. E no fim dessas palavras encontrar teus braços que enlaçam os meus, e apertavam-me contra ti em um gesto de não querer largar-me mais. E tua camisa de botões, me servindo de pijama, e lembro que sempre implicavas, dizendo que eu era muito pequena. E eu fazia um bico deste tamanho, sentada na cama, e logo com esse teu sorriso, chegavas perto de mim e me roubava milhões de selinhos seguidos, e abraçava-me, meu Deus! Me diz como vou ficar sem teu abraço capaz de tornar para mim um abrigo? Um refúgio dentro dos teus braços.
Nossos dias de preguiça, onde ficar em casa era sempre a melhor opção. E enquanto eu arrumava o quarto, ficavas sentado com aquela tua bermuda que eu detestava, tocando violão, e sempre acabavas na mesma música, e repetia com esses teus olhos de jabuticaba, fixos em mim: do nosso amor, a gente é quem sabe, pequena! E ao mesmo tempo em que eu ria, ficava emburrada também, porque não parecias se importar com nada, eu sei, eu sempre reclamava da bagunça, da sujeira, e tu me vinhas e me puxava para dentro de ti, do teu ser, e me acalmava, e me apertava, e me beijava, e me repetia o que eu estava cansada de saber. - Mas acredite, eu nunca cansei das suas repetições. Lembras daquele dia em que fomos dançar? Eu nunca fui boa em passos, já ao contrário de ti, que era ótimo. Lembro que ficamos sentados um fazendo careta pra cara do outro, até que cismastes em querer dançar e me perturbaste durante séculos de horas para te fazer companhia, até que desististes e fostes dançar com uma moça de cabelos cacheados e super bonita. Me Distorci de raiva. Ao término da música, estendeste a mão para mim e, com um olhar de ciúmes, peguei-a. Me conduzistes até o centro da pista, e disseste bem baixinho só para eu ouvir que eu ficava linda com raiva. Eu nunca gostei do poder que tinhas sobre mim. Mas confesso que eu no fundo amava. Amava como sabias me decifrar, amava o jeito que me olhavas, o jeito em que me tocavas, amava a nossa música, nossos beijos em dia de frio, nossos banhos de chuva, nossa cama sempre desarrumada, nossos lençóis brancos, seus beijos de bom dia, seu abraço de boa noite. Seu lugar ao meu lado. Que, agora, não é mais.
Mas, eu vou me adaptar. De algum jeito, nem que eu cometa um ato de morte, não te preocupes, eu ficarei bem. Bem, com a alma rasgada. Bem. Agora, me prometas uma coisa: não te esqueces de mim?
Agora as linhas estão acabando, e provavelmente teu avião estará decolando uma hora dessas. Boa viagem. Prometas se cuidar e ligue-me, se quiseres. Meu celular continua o mesmo. Nosso plano de fundo também. Ligue-me até quando não quiseres ligar, só o teu silêncio do outro lado da linha me fará contente.
E ah! Antes que eu me esqueça, eu adorei dançar com você...
Te beijo. Te espero. Te cuido.

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