quarta-feira, 31 de março de 2010

Volta que eu cuido de ti e não te deixo morrer nunca...


"Porque meu coração dispara quando tem o seu cheiro, dentro de um livro?"
Um dia desses, minha irmã alugou um livro na biblioteca da sua faculdade, sobre esses assuntos de personalidade, muito antigo o livro, eu podia sentir em minha pele a textura dos anos e anos em que este ficou guardado. Abri. E quando abri, comecei a folhear e meus olhos perderam-se em meio a tantas escritas, letras, dígitos e rabiscos de alguém no qual provavelmente pegou para algum tipo de pesquisa, ou simplesmente para acalmar os ânimos. Onde em uma noite de céu estrelado porém clima ameno, deitaste na tua rede no qual tanto amas e, ao ver as estrelas em vastos tamanhos, lembraste de que tinhas que ler este livro e ao ler, marcaste o que achavas importantes. E esqueceste de que marcaste a caneta, e caneta não apaga-se. E encostaste o livro naquela tua calça de moletom surrada, e começaste a ler como quem começa a devorar. E a medida em que ias lendo, teus olhos enchiam-se com o brilho das estrelas no qual estavam tão distante de ti, mas contigo, pareciam tão próximas. E quando te vistes, estavas praticamente dentro do livro e perdeste o rumo. Mas logo acordaste e percebeste de que tinhas que o devolver no dia seguinte, na mesma biblioteca que hoje em dia minha irmã alugou o mesmo livro para ler. Deste um pulo da rede e, com esse teu jeito de mexer o cabelo meio desengonçado, fostes em direção ao banheiro e provavelmente percebeste que tinhas que fazer a barba. Mas eu gosto da tua barba assim, meio cerrada... Ah, deixe-a assim, a quem queres agradar além de mim?
Que coisa mais tola o que estou fazendo, falando de um passado no qual não sei se verdadeiramente aconteceu, mas como já mencionei, até a ciência vive de hipóteses. Porque não tu seres a minha hipótese? Minha dúvida na qual nem o melhor professor do mundo poderá explicar-me.
E, em algum lugar, estarás concluindo tua faculdade e escreverá um cartão postal vindo de Paris, para alguém no-qual-não-sabes-o-nome e escreverás que pensas nesta pessoa com carinho, cuidado, e muita afeição. Deve ser melancólico e ao mesmo tempo borbulhante alguém escrever algo de tão longe e mandar para um destinário no qual ainda não existe, em falar nisso, irei checar os correios para ver se existe uma carta perdida na qual não colocaram o endereço e por isso, ela ficou anos e anos presa, como se não estivesse autorizada a partir. E por isso, impossibilitou a tua volta, e decidiste ficar preso a suas cartas para ninguém e, ficaste por Paris.
Mas continuas andando pelas ruas com a esperança de encontrar a pessoa na qual tu escreves tuas cartas todos os dias. Mas não te preocupes, o que for de acontecer, irá acontecer.
Saibas que existe alguém que pensa em ti com carinho, todos os dias e, de algum jeito, consegue te sentir. Mesmo não sabendo porque.
Quando acharmos que está tudo passado, quando tiveres por um triz para rasgares tuas cartas...o longe se fará perto, tão perto que escutarás as batidas do meu coração.

terça-feira, 30 de março de 2010

Você é o que ninguém vê, ou és o que os outros vêem?


Engraçado é observar as pessoas em seus atos diários, ou conversas em uma roda de amigos. É questionável estar em uma mesa com vários amigos nos quais pensas em que conheces bem, porém faltamos com a inteligência maioria das vezes de que, nós nunca conhecemos o outro completamente, talvez porque nós não somos capazes de conhecer a alma de cada um. O coração de cada. Quem lhe garante que sou o que achas? E quem me afirma de que és aquilo que eu acho que és? Somos uma incerteza a cada dia em que se passa, nos tornamos mutáveis a cada manhã em que nos levantamos e fazemos nossas obrigações diárias, ou as vezes nem mesmo isso. E chegando um pouco mais longe, quem afirma-me de que conheço minha mãe? Somos meros humanos nos quais convivemos em um meio social e, para nos adaptarmos ou até mesmo nos incluírem em algo, precisamos na maioria das vezes modificar o nosso "ser" para poder assim, ser valorizada(o). Porém nos esquecemos de que, a coisa mais bela em que temos, é o interior no qual guarda o que verdadeiramente somos, e não o que os outros podem ver. Aliás, se não somos aceitos em determinados grupos, em vez de ser algo triste e doloroso, devíamos ficar contentes no fundo, pois sabemos de que não precisamos da aceitação social, mas sim de nós mesmos. Não sei se compreendes o que eu quero dizer. Nosso interior é composto de dores e alegrias. Repentinas, duradouras, longas ou curtas. Somos o que a maioria das pessoas não conseguem enxergar e muitas das vezes nos julgam por determinada coisa na qual passamos longe. Somos o choro calado de alguém que sente saudade de algo em que nunca viveu, porém nunca contou isso para ninguém. Somos a ausência de um ente querido no qual não está mais entre nós. Somos a falta de um beijo de bom dia ou de boa noite do pai que está distante. Somos o abraço partido de um avô que não vemos a um bom tempo. Somos o beijo de despedida do namorado(a) em que partiu levando todos teus sentimentos consigo. Somos a dor de uma distância, o cheiro de uma camisa, o perfume impregnado, o espaço entre dois corpos, a fala de uma pessoa, o sorriso bondoso, a briga com a mãe, o arrependimento com o pai, o orgulho preso dentro de si, o enxame de palavras que teimam em ficar presa em sua garganta, aquele bilhetinho guardado, o primeiro amor, o frio na barriga, o beijo da sua avó, o primeiro vestido de formatura, a primeira dança, a primeira vez, a primeira noite de amor, os questionamentos, as lágrimas contidas, o grito interno, a quebra de um silêncio, o vestibular, o primeiro trabalho, os sonhos, o banho de chuva, desejos, vontades, anseios, a liberdade.
E a cada dia que se passa aumentamos algo em nossa lista sem fim, partida do infinito rumo à eternidade. E eu lhe pergunto, quem vê tudo isso dentro de ti além de ti mesmo?
Nem mesmo seu melhor amigo que lhe conhece desde da época em que brincava de boneca, ou jogava futebol naquele campinho que hoje em dia nem existe mais, lhe conhece. Odeio quando te enganas assim. Podem até fingir, concordar, mas ninguém nunca irá compreender o que se passa dentro de sua mente, seu interior e seu coração. O pronome já diz tudo, é seu! Assim como nós fingimos que entendemos como tal pessoa está ao passar por uma fase ruim ou até mesmo como se sente ao passar em um concurso no qual tanto almejava. Não sabemos. Somos distintos. Cada um de nós temos um DNA, um material genético diferente. Cada um reage de uma maneira diferente diante de certas situações e, eu custei a compreender isso. Sou da maneira mais caótica possível, como já dizia meu grande Caio Fernando.
Muitas das vezes me senti uma mutante por ser o oposto de certas pessoas, mas me dei conta que, eu não sou elas. E elas não sou eu. Ninguém na face da Terra tem o direito de obrigar-te a pensar do jeito de tais pessoas, ou a agir de tal forma. Eles são eles! Você é você. Eu tenho minhas opiniões e não mudo porque uma pessoa não gostou e, para eu ser incluída em certos grupos de relacionamento amistoso. Se for para ganhar amizades ou amores desse jeito, prefiro ser como eu sou e não mudar para ninguém. Não tem porque. Não tem motivos para isso.
Nunca podemos julgar o que acontece no interior das pessoas além de nós. Nem nós mesmos podemos nos julgar, as vezes são coisas que só nosso coração entende.
Eu não sei quem sou. Não sei quem é a minha mãe. Não sei quem é o meu pai. Não sei quem é a minha irmã. Em outros termos posso dizer que vivo em casa com estranhos quase conhecidos, pois cada um pode ser qualquer pessoa a minha frente, mas por trás, quem sabe? Viver é um verbo fácil de conjugar porém difícil de decifrar. Há várias formas de entender e colocar em prática esta palavra, só depende de você. Nascemos separados para possuir nossas próprias decisões que virão pela frente. Somos criados por pessoas que um dia foram do nosso tamanho, mas com a vida, aprendeu coisas que para nós ainda estão vindo, e assim, tornam-se responsáveis por saber o que vem pela nossa frente. Assim como seremos daqui a alguns anos. E criaremos nossos filhos assim como nossos pais também nos criaram. E estes provavelmente farão a mesma pergunta que fizemos quando éramos jovens. O que realmente somos? Somos uma geração nova, que, no futuro, se tornará velha. Inovação é necessária, sim. Sempre? Acho que não. No futuro tudo se tornará o ontem, o hoje se tornará o ontem, o amanhã também.
E, ao longo dos meses, quinzenas, anos, séculos, dias, nossa vida irá se tornando um ontem resolvido ou mal-resolvido. Seremos vítimas do nosso próprio futuro no passado.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Dezembro 2009


Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.
E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido.
E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca.
E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.
E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro. (...)

Vinícius de Moraes

sábado, 27 de março de 2010

Tem espaço na casa e no coração...


Venha para que eu possa recuperar sorrisos, afagos, afetos, fotos, retratos, abraços... Venha para que a tarde de hoje não seja tão melancólica como a de ontem, onde o sol não tem hora para se pôr e, parece que o dia nunca acaba. Venha para que possamos contar as estrelas, deitar em teu colo, afogar minha cabeça na curva do teu ombro. Venha, porque juntos somos melhor do que a sós. Tu não vives sem mim e nem eu sem ti. Eis me aqui, com meus braços abertos em direção a ti, com uma cara tão cansada tão puta, tão frágil, tão quebrada e tão feliz, porque tu estás vindo. Traga-me de volta para ti, depois de tantos tempos e devaneios onde o ontem, o outrora e o algum dia nos separávamos, mas agora eis que estou certa de que, de algum modo, o tempo trouxe-te de volta para mim, e todas as coisas que eu temeriam acontecer, aconteceram. Mas lhe confesso de que são boas, oras. Deixa eu pegar-te pela tua mão e te conduzir rumo ao infinito em que nós podemos construir, se juntos estivermos. Meu bem, meu bem, não vês de que estou tão suja falando de amor? Tão jogada e tão desencantada com os fatos que me aconteceram ou ainda estão para acontecer, mas parece que nada disso me importa ao saber que ti não sabes delas. Parece que as coisas nas quais eu sei que existem, nunca tiveram valor porque tu nunca soubeste delas. Mas se tu vens, ah se tu vens! O dia amanhece sorrindo, o meu jardim é mais brando, meu sono é mais límpido, minha noite é mais clara, meu dia é menos quente, a minha vida rotineira torna-se sadia, minha vida passa a ser como uma véspera de partida onde, faço tudo hoje porque eu sei que o amanhã ninguém sabe, só Deus.
Então vem, para que eu possa em teu abraço fazer minha casinha de cobertor, para que possamos passar noites em claros fazendo nada, para que nos formássemos um só corpo, uma só alma. Perdoa o jeito sincero, bruto, talvez direto demais. Mas é que minhas mãos já estão ressecadas da tua ausência, nem a lua aguenta mais te esperar toda noite e por isso, ela troca de lugar com o sol, para ver se este dá mais sorte para mim em relação à ti. E mesmo assim, entra dia e sai noite, e minha cama ainda continua deserta. Minha casa continua fria. Meu piano está empoeirado, não sei tocar, tu sabes. A louça está dividida em pilhas, há roupa espalhada por todo canto da casa, as plantas morreram, deve ter sido a falta de fotossíntese, não deixo o sol entrar muito aqui em casa. O nounouse no qual me destes, não corresponde-me mais, acho que ele realmente é teu chapa. Porque foram-se dias e noites reclamando de ti para ele, até que o deixei de castigo no porão. Vai ficar lá por uns tempos, ou até pelo menos até voltares. Mas quando tu chegares, ah... Vou sair por aí anunciando que o sol não vai mais se pôr, minhas cortinas estarão abertas, o piano limpo e, teu sorriso ao encontrar meu olhos, mais brilhante que a lua e todas suas amigas estrelas. Mais bonito que um céu em dia de lua cheia.
Venha, chegue até a mim, me olhe, caminhe em minha direção, encontra-me! E se tu fores partir em algum momento, não te esqueças de me levar contigo, sobre tuas asas.
Mas venha, podes vir. Fiques a vontade. Espaço é o que não falta em nossa casinha pequena e vazia na qual tu fazes falta todo santo dia. E parece que ela só está completa quando tu existires dentro dela.
Deixo-te livre como o vento, para ires e vires quando quiseres, só peço-te uma coisa: carregue-me da forma que for, ou não. Mas guarde-me no mais profundo lugar do teu coração, para que dali, ninguém arranque-me e, possas sempre voltar.
Acho que poderias me ensinar novamente os caminhos que dão ao teu coração, pois acho que em algum lugar de tuas veias, eu me perdi. Desaprendi o jeito.
Aceito aulas particulares. Por favor entrar em contato com 5005-9234

"Só não se perca de mim..."

quinta-feira, 25 de março de 2010

Os olhos mentem dia e noite a dor da gente...


Seu único amigo era o Peter Pan. Contentava-se ao longo do tempo, nunca fez questão de que a Sininho também fosse uma de suas amigas, pois sua relação em amizade com outras meninas nunca dava muito certo, ela era sempre de fora. Ou de dentro. Por mais que não pareça, se notares bem e tiveres senso crítico, verás de que essa moça tão resguardada, possui algo que, seu corpo esconde, mas seus olhos denunciam.
Contemplava o espaço a sua volta com afeição e carisma. Não sabia o que veio fazer nessa vida além de viver. Mas era um caso incompreendido de alguém que vive sem saber porquê mas, mesmo assim, vive. Pinta alguns buracos, um aqui outro lá, algumas tocas de coelhos espertos, mas nada muito grave. Certo, as coisas eram graves, mas não nas ciladas, mas dentro de si mesma. Eu teimava a dizer para essa menina, essa moça na qual possui uns anos bem a menos do que eu, que, nessa vida, não importa o que faças, apenas faça. Faça que o amanhã nós veremos. Ou não veremos. Vivemos na incerteza do "quase" para o "quase sempre" porém ambos são do mesmo patamar. Faças o que tem que ser feito, contanto que não prejudique outra pessoa que nem ti... dizia a ela. Li um trecho que dizia mais ou menos assim "Ria quase sempre, uma moça magra controlando sua infelicidade" algo assim. Tinha seu jeito de admirar as coisas da vida, seus pequenos prazeres comparados ao da Amélie Poulain, porém um pouco diferentes: gostava de sorrisos. Seu mundo era pequeno pra quem via de longe, porém enorme para ela mesma. A quem queria agradar a não ser ela própria? Tinha cansado de viver tentando confortar as pessoas nas quais não davam a mínima importância para ti. E então, virou seletiva. Seletiva em amizade, em música, em lugares e principalmente em uma coisa: amor. Nunca foi uma das melhores da turma e, em seu curso, era sempre chamada atenção por sua falta de participação, uns até brincavam maldizendo o que ela estaria fazendo ou onde ela estaria no momento em que todos estão prestando atenção em uma coisa e ela, em nada. Talvez na cor do cadarço de uma pessoa, ou na covinha que um homem tem, ou até mesmo poderia estar na Califórnia visitando São Francisco e, ao mesmo tempo, poderia estar em lugar nenhum. Em hora nenhuma. Olhos fixos a distância, o que dirá?
Pegava-se volta e meia, questionando-se porque quando queres esquecer uma coisa, nunca consegues. Talvez seja justamente pelo fato de lembrares de esquecer certa coisa, certo assunto, certo rosto, e acabas lembrando toda hora. E aí vem nosso amado e tão querido Quintana fazendo versos e prosas para nosso texto hoje: "Será que nunca deixo de lembrar que eu já te esqueci?" e, com as mãos lentamente em seus bolsos, vira-se contrária a rua em que seguia e, com um passo de quem dá para outra coisa, ela dava este. Quero outra coisa, pensou.
Não sou metade mas também não me basto. Recitou baixinho, para si mesma, como quem canta uma melodia para acalmar teu corpo, tua alma, tua mente.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Esse relógio nunca me pareceu tão vivo...


Preciso muito. Preciso tanto. Quando começo a escrever as palavras vão se amontoando em minha mente e, como um furacão de sentimentos, me leva para aonde eu não sei, a um lugar no qual só ti-mesmo pode me resgatar. Não vens me salvar? Não tens idéia de quantas aulas mal assistidas e quantas noites mal dormidas já perdi por causa de ti.
Hoje me bateu lembranças de ti, meu amor desconhecido, meu querido e tão singelo inexistente. Me fazes uma falta que não tem tamanho. Deixaste um buraco, uma cratera em meu coração e fostes assim, sem despedir-se. Fostes e levastes contigo as chaves nas quais davam entrada para dentro de mim. Esqueceste contigo. Eu estava lendo teus e-mails, tuas fotos, teus rostos e teu sorriso. Foi engraçado que, repentinamente, entrei naquela minha antiga conta de mensagens e, tinha umas 300 mensagens tuas, daquela época tão gostosa na qual costumávamos viver. Inclusive, a tua declaração. Tu és cruel demais. E ainda quando brigávamos, fazia questão de ser mais cruel ainda comigo. Dizias ter me entregado o que tens de mais precioso, mas quando na verdade, nunca o fizeste. Mas sim, eu. Eu me entreguei. Eu te amei. Eu amei uma pessoa na qual não sei se existe, não sei teu cheiro, não sei que roupas costumas usar, que tênis, quais são os teus sorrisos, nunca me sentei ao teu lado, nunca te vi chorar, nunca te abracei e nunca te conheci. Neste momento, tu vives apenas dentro de mim, chegou aquele momento no qual tu não existes, só existes para mim. Tu ainda vens me visitar em meus sonhos, tu ainda me tiras a atenção, ainda imagino-te ao meu lado e, vezenquando, sou capaz de sentir teu abraço. E tu me embalas em teus braços, e tu me beijas, e tu me apertas e tu me aquieta, com essas tuas dóceis palavras, nas quais são comparadas a um certo tipo de canção para dormir, daquelas que nossa mãe cantava quando éramos menores. Tu me tiravas de órbita e, me fazias esquecer os barulhos ao meu redor, as sirenes, as britadeiras, os carros, buzinas, telefones, celulares, vozes, pessoas e, me conduzes para dentro de ti. De nós. De mim.

"ei, meu presente mais lindo! vi tua ligação, dei um toque no teu pra falar contigo a toa mesmo mas a festa surpresa que organizaram pra mim começou logo em seguida. fiquei sem jeito de sair pra conversar contigo e tudo mais. eu me vi numa das situações mais bobas do mundo ontem. aquela torta e o tradicional ritual de enfiar o dedo no bolo antes de partir e fazer pedido. enquanto cantavam o parabéns eu fiquei naquela divisória: desejar a gente junto ou não? mas o que importa é que sem medo algum coloquei o dedo lá e pedi por ti. pedi que estejas onde estiveres, com quem for, que estejas feliz que é o que prezo pra tua vida. e mais do que isso, que nunca me apagues de tua vida. eu vou estar pensando em ti. talvez nem eu saiba que eu esteja pensando, assim como nem sei exatamente como é o ritmo do batimento do coração, uma vez que só descubro quando tô junto de ti. obrigado pela a espera de tantas vezes pra te ver, pela euforia quando já nos teus braços e mais ainda pela confiança que tiveres ao se entregar pra uma pessoa que é assim mesmo, muito mais coração e alma que qualquer outra coisa. eu hoje afirmo que meu coração está em boas mãos. é gostoso de te ter. é gostosa a espera durante a semana sentindo até teu cheiro na camisa que tu nem tocastes. eu sou apaixonado pela singularidade que és, pelo teu dom de me roubar sorrisos e até mesmo lágrimas boas. é muito especial pra mim estar aqui hoje, junto de ti. por tudo isso que a gente vive, até mesmo os desencontros, sei que faria mil vezes e mais ainda se fosse preciso. desde o início, confesso que não pensei 2 vezes. pelo contrário, fiz 2 vezes antes de pensar. e não me arrependo sequer um segundo. porque és daquelas pessoas que tê cheiro de passarinho quando canta, de sol quando acorda, de flor que ri. preferia não ter relógio, muito menos agenda. hoje eu sei que amar e ser amado quase o mesmo tanto de volta é possível. tenho certeza disto. a prova disso és ti, a minha realidade agora." Tua ultima declaração. 25 de junho de 2009

Não te esqueças de mim...

domingo, 21 de março de 2010

Lights will guide you home...


Sempre temos nossos dias de escuridão. Mas podemos sobreviver e, sobrevivemos. Se não, o que seriam de todas as músicas escritas em momentos de puro abismo? Músicas nas quais fazem sinônimo de tristeza e decepção. Mas são cantadas, certo? São compostas por alguém, alguém no qual passou por momentos de puro abismo interior e, nas finais, escreveu alguma melodia para ver se coloria sua vida tão preta e branca. Como se fosse aqueles desenhos que quando éramos menores, nos davam para colorir, sabes? Como se esta melodia, ficasse no lugar dos lápis de cores e, sua vida, substituísse o papel de colorir. E, se este escreveu, foi porque de alguma maneira retirou algum tipo de força além do que se vê, algum tipo de força no qual nem nós próprios sabemos que temos e escreve o que seu coração está cheio. Logo, está vivo. Não estou associando a escrita com algo no qual te salve, mas sim, este sobreviveu aos seus momentos sombrios. Porque nós não sobreviveríamos? Não temos algo no qual nos indique que uma pessoa é mais forte do que nós, ou que nós somos mais forte do que esta. Mas sim, vale de cada um.
Vai passar, tu sabes que vai passar, como diz o Caio Fernando Abreu. Pode demorar um, dois, ou três dias. Um mês, uma hora, um segundo, um século, mas vai passar. As coisas são assim mesmo, Zé. Um dia de dia e um dia de noite, se é que me entendes. Voltarás, logo que esta tua fase down passar, a ver o pôr-do-sol outra vez. Já paraste para pensar nisso? Eu acho engraçado e ao mesmo tempo esplêndido o sol. Tão independente, de luz própria, ajuda a lua, e tão generoso em dar seu lugar para outro corpo brilhar. Me responde quem, nesses dias de super-modernismo, faria isso por alguém? Hoje, seria mais fácil alguém matar seu próximo para poder ganhar o brilho. Mas se perceberes, o sol continua nascendo e se pondo. Nas mesmas orientações e direções, nunca aumenta ou diminui. As vezes podíamos parar para pensar que, mesmo com toda chuva, nuvem, tempestade, ventos e geadas, o sol continua a pino. Mesmo que seja por trás das nuvens, este não sente necessidade em ser contemplado, mas sim, sentir-se bem consigo mesmo.
Saindo do sol e entrando na lua, talvez se fôssemos mais independentes, não só de pai e mãe, dinheiro, ou coisa assim, mas independente interiormente, brilhar sem ajuda de outros. Não conte totalmente com a ajuda destes, as pessoas sempre nos decepcionam e, é isto que faz quase cem por cento das pessoas tristes. Aprendi que nem tudo podemos falar. Sabes, quando falamos algo, ou um sonho nosso, uma vontade, um desejo, ou algo, para alguém, parece que esta coisa no qual tanto almejamos não chega. Logo, conclui: desejos e sonhos são coisas que devem ser caladas. Centradas. São coisas que não se fala para ninguém, não é pela falta de confiança ou egoísmo, mas sim, por serem coisas particulares. Algo do interior. E quando damos liberdade demais para outras pessoas, em questão do que acontece dentro de nós, nos decepcionamos.
És sábio o suficiente para poderes ti próprio auto ajudar-se. Se consegues dar conselhos ou cuidar de outras pessoas, faça primeiro consigo. Porque, se não cuidares de ti e dos teus campos, quem irá cuidar? Os outros?

sábado, 20 de março de 2010

Feito por: Isabela Mattos


Vicente. Alto, muito alto. 20 anos, estudante da faculdade de artes. Possui barba. Não se apaixona facilmente. Poeta e músico nas horas vagas. Toca violão, e acabou de sair da casa dos pais. Decidiu assumir a responsabilidade de morar sozinho. Até que Vicente era bem responsável. Seu único vício era Caetano Veloso. Louco por chá, e apaixonado por Carolina.

Carolina. Baixinha, muito baixinha. 17 anos, estudante. Cabelos longos e pretos. Se apaixona facilmente, e de tanto se apaixonar, acabou desacreditada no amor. Toca violão e adora cantar. Mora com os pais. Tem muitos amigos, mas as vezes se sente só.. Tímida. Louca por fotografia e apaixonada por Vicente.




Num belo dia, Carolina foi a um museu, tirar fotos e se destrair. Acabou esbarrando em Vicente, e sempre muito tímida, pediu literalmente mil desculpas. Vicente teve a impressão de que conheçia Carolina de algum lugar, mas não sabia de onde.. ele então ignorou a sensação estranha e começou a conversar com Carolina. Ficaram encantados um com o outro, mas ambos eram recatados demais pra demonstrar um mínimo de interesse..
7 horas. Carolina tinha que ir embora. Tirou sua Polaroid da mochila e bateu uma foto de Vicente. Ela queria se lembrar dele. E Carolina foi embora. Só quando ela partiu, que Vicente percebeu que tinha esqueçido de perguntar o mais importante: o nome da única garota que conseguiu mexer com ele. Vicente também foi embora. Os dois chegaram em casa, quase na mesma hora. Um pensando no outro, durante muito tempo.. Vicente não percebeu que estava finalmente começando a se apaixonar, e Carolina, desacreditada no amor, concluiu que nunca mais iria vê-lô. Mas para a surpresa dos dois, eles se esbarraram. De novo. No mesmo local onde tomaram o primeiro chá juntos. Conversaram mais ainda, e, dessa vez, trocaram e-mails, telefones.. E foram para casa. Um pensando no outro. Novamente. Carolina, pessimista como sempre, achou que Vicente nunca iria nem sequer lembrar dela, quanto mais ligar e.. Ele ligou. Foi pouco tempo de conversa, mas o suficiente para marcarem um próximo encontro: ir ao teatro, ver Sonhos de Uma Noite de Verão.
E chegou o dia do encontro. Carolina usava um vestido rosa bem claro, quase coral, uma sapatilha, e decidiu deixar o cabelo solto, preso apenas com uma fita branca. Vicente vestia uma calça jeans, blusa polo, jaqueta, e seu all star branco de sempre.
Fim da peça. Chuva forte, muito forte. Carolina não podia voltar pra casa com aquela tempestade. E então, Vicente a convidou para ficar no apartamento dele, enquanto a chuva não parava.. Chegando lá, conversaram mais ainda, até que aconteceu. O primeiro beijo, e a primeira noite de amor. Dormiram abraçados um com o outro, e parecia que eles se conheçiam de muito tempo, alguns diziam até que era um amor antigo.. Foi ali que o amor começou, naquele apartamento bagunçado e repleto de quadros pintados por Vicente, - um deles inclusive, era o rosto de Carolina -.
Desde esse dia, passaram-se um ano e dois meses. Um ano e dois meses de muitas conversas, muitos beijos e abraços trocados, muito amor, e é claro, muitas fotografias e pinturas. Vicente tinha acabado a faculdade, e Carolina começaria a dela. Foi então que, ele recebeu um convite, para expor suas pinturas em uma galeria de artes, em Paris. Vicente não aceitou o convite de imediato. Primeiro, foi falar com Carolina, que, ao mesmo tempo ficou orgulhosa pelo namorado, mas também ficou triste em saber que eles teriam que se separar.. Mas ela não sabia que Vicente pretendia levá-la junto com ele. E Vicente então falou uma frase que Carolina jamais vai esqueçer..: " Se é pra ir sem você, eu não vou. Prefiro desistir do meu sonho do que desistir de você. " Carolina ficou em choque. Sem reação. Mas depois de algum tempo, ela aceitou o convite. Os dois iriam para Paris. Juntos.
Chegando em Paris, compraram um apartamento. Pequeno, mas aconchegante. Com uma belíssima vista para a Torre Eiffel - que ficavam admirando por horas, todos os dias -. O apartamento não tinha muita coisa, somente uma geladeira, um microondas, a cama do casal, e um sofá enorme, coberto com a manta verde que Carolina adorava, e como sempre, muitas fotos e pinturas.
Vicente decidiu então pintar o apartamento, e é claro, com a ajuda de Carolina. Eles encheram várias bexigas com cores diferente, e jogaram na parede branca - agora nem tão branca assim -. No fim, eles assinaram seus nomes e a data no rodapé da parede.
Passaram-se mais algumas semanas, e em um dia de frio e neve em Paris, Vicente e Carolina completavam um ano e meio de namoro. Carolina tentou fazer um bolo, e digamos que não deu muito certo. Vicente saiu mais cedo da galeria, com orquídeas na mão. Ele pensava que rosas eram comuns demais, e para ele, Carolina não era alguém comum. Os dois sentaram no sofá, e trocaram os presentes. Carolina deu para Vicente um álbum com todas as fotos que eles tiraram desde que se conheçeram, e cada uma delas com uma frase de amor diferente. Vicente comprou para Carolina um medalhão de ouro branco em formato de coração. Em um lado do medalhão, estava uma foto dos dois, a primeira que eles tiraram juntos. E do outro, uma frase: " Eu te conheçia dos meus sonhos. ", em Francês.
E então, eles viveram felizes. Não para sempre, porque nenhum deles sabia o que o futuro traria, mas viveram felizes. Juntos e apaixonados.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Wake up, Alice


"Não estamos mais no país das maravilhas."
Isso sempre me acontece quando caio da cama e acordo com a voz safada do Tyler cantando-me Crazy. Para lhe dizer a verdade, meu caro, já estou irritada com a música, vou até trocar hoje à noite. Quero acordar com bossa nova agora. Um Vinícius, Tom, Toquinho... quero algo suave em meus ouvidos ao acordar. Sabes? Algo que me faça despertar como se eu ainda estivesse dormindo.
Mas o que me impressiona tanto, é a capacidade de um aparelho de criação humana conseguir nos tirar tão fácil de nosso próprio mundo ao dormirmos. Como se estes tivessem o poder de nos arrancar sem nem pedir licença ou até mesmo algo como posso-te-acordar-tá-na-hora. Penso logo que, é injusto o modo no qual a maioria de nós acordamos. Seja para trabalhar, estudar, ou até mesmo porque marcou tal hora em tal canto e precisas ir sem atraso. Usamos geralmente estes aparelhos eletrônicos para realmente nos acordar com brutalidade, que, no qual, nos dê aquela vontade imensa de quebrar aquela coisa tão pequena na parede ou então até mesmo conversar com ele e pedir para ficar mais uns cinco minutos deitada(o) na cama, a espera do inesperado. Ou até mesmo a espera de voltar ao sonho no qual fostes interrompida(o) e era tão bom.
A verdade é que, sem sombra de dúvidas, para mim ultimamente, meu melhor momento no dia é aquele no qual eu tomo um banho geladíssimo e coloco meu pijama e, me encontro em meus sonhos. Dormir para mim, vem sendo sinônimo de esquecer problemas. Até mesmo me esquecer. É fácil se esquecer ao dormir. É como se, fostes comparado a algo no qual tenha bateria, e à noite, é o único momento que podes recarregar. Mas parece que minha bateria vive sempre carente.
Meu coração é o mendigo mais faminto e miserável da esquina. Possuo a necessidade de, em cada sonho ou em cada sono, alimentá-lo. Pois sei bem que ao acordar, ele estará pulsando em meu peito à procura de migalhas para matar sua fome. Como se, todo o tempo, eu precisasse renovar o sangue no qual ele espalha pelo meu corpo, senão, é como se este fosse pulsando cada vez mais rápido ao ponto de eu mesma não suportá-lo e querer arrancá-lo de mim.
As vezes é mais fácil viver sem.

Querido despertador, me permites voltar a dormir agora?

terça-feira, 16 de março de 2010

Anônimo


Era uma tarde de exposição artística do pintor Salvador Dali. Não achava-se muito adequada para o lugar.
Era como se ela sentisse a arte em suas veias, pulando, pulsando sangue para todo o corpo. Como se de algum jeito, ela e a arte, seja lá qual for a forma de arte, fossem traçadas, algo que ela conseguisse se achar, entre tantas pessoas e opções, entre tantos amores e desamores, entre tantas idas e vindas, a arte a conseguisse preencher melhor, até aquele momento.
Andava por todo o salão, parando nas mais famosas obras e analisando cada traço, cada mistura, cada espessura de tinta em tela. Foi quando, diante da mais famosa e conhecida obra do autor "A persistência da Memória" percebeu-se que não estava sozinha. Continuou com os olhos fixos à distância, neste momento não estava mais olhando para nenhuma obra mas sim para dentro de si mesma. Percebeu então, que foi interrompida com um toque em suas mãos de surpresa, e virando-se deparou-se com um rapaz no qual não parecia estranho, não para ela. Ele ainda não encarando-a, continuou com seus olhos postos nos quadros ao seu redor e, sutilmente explicou-a como quem não quer nada, a história da obra que a viu olhando. Sem entender, continuou olhando-o e soltou uma risada docemente para si mesma, como se fosse escapada. Foi quando o rapaz olhou-a diretamente em teus olhos profundos onde revelam-o tanta dor ao mesmo tempo tanto amor, tanta paz e tantos naufrágios, tantas palavras congestionadas nunca ditas e tanto silêncio e singularidade.
- Vamos comer alguma coisa, me pareces faminta. Disse ele conduzindo-a levemente pela mão em direção à um dos restaurantes que lá encontravam-se. Ela sentou-se de frente para ele, não parando de o olhar uma só vez, tentando desvendar ali, o mistério que este implantou em sua mente. Disfarçou pegando o cardápio e escolhendo o que queria comer. - Vai comer nada? Perguntou-o incrédula. - Uma coca-cola, apenas.
Enquanto esperavam o pedido chegar, ficaram se olhando durante um bom tempo, como se as palavras fossem desnecessárias naquele momento e, apenas pelo gesto de olharem-se, conseguissem se comunicar sem mexer a boca. O silêncio foi quebrado com a chegada da comida. Ajustou o guardanapo em suas pernas e pegou o garfo para começar a comer, enquanto ele a observava tomando sua coca. Ela deu um sorriso enquanto comia. - O que? O perguntou já ficando chateada. Ele deu uma gargalhada gostosa e, deixando seu copo vagarosamente na ponta da mesa a respondeu: - Gosto do jeito como limpas a sua boca. Um enorme silêncio agora quebrado com palavras de um cara no qual esta nunca tinha visto em toda sua vida, porém como se este, fosse de um jeito ou de outro, teu.
- Teus olhos me lembram montes, alguns tipos de cordilheiras, o mel das flores, campos de morangos. Estes me falam de coisas nas quais eu já escutei, em algum lugar, em algum momento...
- Teus lábios me fazem sentir, mesmo sem tocar-te, saudades de algo que eu deixei no passado, em um passado distante, como se, alguma coisa me impulsionasse a vir aqui nesta exposição e, te puxar para perto de mim como se já estivesses distante o suficiente todo esse tempo, mas esse tempo no qual eu não calculei, pois começa do infinito e acaba neste próprio.
- De onde eu te conheci? Me dás uma leve impressão de que já o amei, ou ainda o amo, e como se o tempo me trouxesse de volta um amor no qual nunca tive e, sim, todas as minhas tentativas em vão de me aproximar de alguém e não conseguir, foram de certo modo, porque tu já estavas em meu caminho, de um jeito ou de outro, ias me aparecer e pegar em minha mão e então, agora, neste exato momento, o longe se fez perto, tão perto que posso escutar a batida do teu coração que eu nem sabia que tinhas. Porque eu não sabia que existias...
- Algumas pessoas se conhecem desde sempre.
(Silêncio)
- Casa comigo.
- Caso.






"E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas tortas que, se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado."

domingo, 14 de março de 2010

Devolva-me


Passaram-se dois meses. Dois meses levantando-se e dormindo, como se nada mudasse. Realmente, nada mudou. Os dias apenas movimentaram-se, as noites caíram, o sol subiu, fez chuva, fez sol e, aquele teu jardim no qual plantavas a melhor das rosas, ressecou. Durante dois meses rasguei todas tuas cartas, quebrei todos teus discos, cortei todas tuas blusas, joguei fora teus perfumes, teus lençóis, teus beijos, teus abraços. Fiz uma reforma em nosso apartamento, quer dizer, meu agora. É tão estranho falar "eu" ou apenas "meu" pra quem só dizia "nosso" ou "nós". Aquela parede amarela, pintei de vermelho, tirei a cama de casal e dei para aquele vizinho no qual detestavas. Sim, tudo o que odiavas eu passei a amar. Passei a freqüentar aquele Piano Bar, onde tu falavas que só tinha velhos. Passei a viver mais para dentro em vez para fora. Passei a me acostumar a me arrumar sozinha, diante do espelho, sem ter aquela segunda pessoa atrás de mim perturbando-me dizendo que era para eu largar tudo e ficar contigo naquele sofá que, inclusive, o vendi. Pelo preço mais miserável, mas vendi. Venderia até por um real. Incrível como tu cravaste ali, teu cheiro. Ao fechar meus olhos eu ainda podia sentir teu hálito de hortelã falando ao meu ouvido. Coloquei três relógios em casa, comprei 2 cachorros, 1 peixe, 2 passarinhos e uma tartaruga. Estava tudo muito vazio. Muito sem cor. Muito sem vida. Eu mesma quem fiz a pintura das paredes, viu, reclamavas tanto de que eu era baixinha ou muito fraca para pintar todas aquelas paredes e precisaria de ti para fazer isto. Mas a verdade é que não quero mais precisar de ninguém. Posso demorar o tempo que for da minha maneira, mas será minha maneira. Quero ser mais eu-comigo-mesma do que eu-com-alguém. Nunca precisei de ninguém para ser completa. Nunca precisei de ninguém fazendo-me o café da manhã, nunca precisei de ninguém dizendo o que devo ou não fazer, eu faço. É incrível como mesmo dizendo que nunca-precisei-de-alguém, eu preciso. Joguei fora tua rede verde abacate. Por qual motivo eu manteria qualquer indício teu? Assim como espero que aqueles meus versos no qual eu lhe entreguei, sim, aqueles mesmo, naquela manhã de sábado, rasgue. Por favor, rasgue-os, queime-os, faça o que quiser, mas faça alguma coisa. E ao passar por mim na rua, e eu por ti, fingiremos ser um rosto desconhecido um para o outro, um rosto desconhecido no qual dormimos em uma noite utópica. E devagar nossas faces vão confundindo-se com as outras e, tornamo-nos figurante da nossa própria história inacabada ou nunca começada.

sábado, 13 de março de 2010

Longe, longe, longe, aqui do lado... Paradoxo: nada nos separa.


Sempre fui muito repulsa à distância. Para mim, sentir saudades era um martírio, um ato crucial, como se tirassem seu coração sem nenhuma dó nem piedade e, o colocasse em sua mão, para sentires este bater. Mas o coração não bate sem sangue. Ou pode haver uma controvérsia entre a ciência e o ato poético. Em particular, gosto muito mais do ajuste poético, acho que este deixa as coisas um pouco mais... floridas, me entendes? A ciência é muito nua e crua, muito real e para que quero algo real, se eu já vivo na realidade? Agora me lembrou uma música do Leoni no qual dizia "A ciência confirma os fatos que o coração descobriu. Nos seus braços sempre me esqueço de tempo, espaço...". O coração pode até parar de bater sem o sangue, mas tenho dito que, se me entendes mesmo, ele não parará de bater de imediato. Pode demorar, uma quinzena, uma semana, um dia, uma hora. No caso, o sangue, seria a pessoa/coisa/objeto/lugar/fotografia/cheiro/beijo no qual sentes saudade e sem isso, é como se seu coração tornasse a bater cada vez mais lento, pois tu sabes como ninguém, que este teu orgão tão (in)voluntário precisa destas coisas no qual mencionei, para bater como batia antes. E é assim que a maioria das vezes todos se sentem. Agora não venha me dizer que sou deprimente, melancólica, depressiva, doente, por favor, me deixa ser feliz, cara! Não é deprimente sentir saudade, não é deprimente se entristecer, não é deprimente se apaixonar, não é deprimente seu coração parar de bater aos poucos e tu lentamente morreres sem ninguém perceber, porque perdeste algo no qual tu gostas. Eu não digo que perdi algo, eu digo que nunca tive esse algo. Mas eu já disse isso em antigos posts. Como diz meu grande Caio Fernando: "Não sou pedaço, mas também não me basto." Esse algo resseca-me a palma das minhas mãos já tão acostumadas ao nada, ou ao tudo. Mas eu quero o meio termo eu acho. Eu quero algo que não esteja nem em cima nem embaixo. Nem em uma extremidade nem à outra. Nem oito, nem oitenta. Algo nem tão pop nem tão heavy. Mas entre o pop e o heavy eu prefiro o heavy. Por favor, odeio coisas que me façam dormir, só em casos extremos. Se bem que as vezes me atrai. Mas voltando a falar do coração, do sangue, e da batida... É como se eu estivesse de frente para ele, o vendo ali, parado em minha mão, tão lambuzada de sangue, assistindo ao meu próprio meio de vida, lentamente morrer. Mas a ciência ganhou um ponto, ainda existe transplante de coração.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Vocês que fazem parte dessa massa...


Chegas em casa, em um calor de 40º no Rio de Janeiro, entra em teu quarto e liga o ar condicionado e fica ali, estagnado, de mau humor por conta do imenso calor e da onda de ar quente estacionada em seu estado, e ficas torcendo para chover, chover muito. Enquanto reclamas do calor ou se o seu ar condicionado não gela e que estás desanimado para estudares ou trabalhares porque o ar está tão quente que consegues nem respirar, tu esqueces de lembrar de que pelo menos tens um lugar cômodo, um ar condicionado e, uma localização não tão ruim assim. Ou literalmente não-ruim. Enquanto ficas estagnado, bufando de raiva, lá no sertão, ou até mesmo no teu estado, existem pessoas no qual não param de trabalhar um minuto sequer, debaixo de sol ou chuva. E aí te pergunto: porque? Sabes a resposta, provavelmente deves ter estudado em geografia, sim, aquela aula no qual deve te dar sono ou então ficas tentando dar um de engraçado para sua turma, em vez de prestar atenção no que lhe é dado, pois são raras as pessoas com a oportunidade de estar em uma sala de aula. A população que trabalha na área rural, os trabalhadores rurais, não escolhem estar ali. Não escolhem o que devem ou não fazer. Apenas fazem, no silêncio, porque sabem que se reclamarem, nem aquilo podem ter mais. O que seria uma catástrofe para estes, pois necessitam do pouco dinheiro que lhes é dado para trabalhar naquele local inapropriado ou até mesmo desumano. Se assemelham ao gado, onde são conduzidos por homens que dizem ser ou ter grande posse e, ao contrário deles, ter uma grande conta bancária. - Acho que deves saber o sistema do nosso país e do mundo inteiro, as pessoas se preocupam mais com sua conta bancária, com o que tens, do que pelo que és. Nas entrelinhas, seria: ter para ser. - E por estes 'donos' terem uma conta bancária triplicada ou quadruplicada, acham que podem mandar ou dar ordens às pessoas que nada disso possuem? Para que? Para produzir mais dinheiro e ir mais cédulas com valores imensos para seus bolsos nos quais eles devem gastar todo fim de semana com bebidas das mais caras ou até mesmo em uma roda de amigos comendo do bom e do melhor enquanto aqueles seus trabalhadores, que não têm nem sequer um par de roupas direito para vestir-se, passam fome. Isso é Brasil. Mas não é só no Brasil não, meu caro. Isso acontece com o mundo inteiro, desde a eclosão do pensamento capitalista.
Sabes por quais mãos passaram o leite que tomas pela manhã? Ou a carne que comes no almoço, teve que passar por algum processamento ou até mesmo aquele boi no qual morreu, teve que ser cuidado por alguém. E ainda desprezas as pessoas que te alimentam? Sim, porque são esses trabalhadores miseráveis, que a maioria das vezes não tem um pão para comer e vai trabalhar faminto, que te alimenta. E mesmo assim você ainda teima em dar valor ao homem com grande posse, sendo que, são os homens com o salário negativo que tem uma extrema importância. Esse Brasil que vivemos é resultado do suor das classes baixas, ou nem baixas, das classes miseráveis, que seus patrões ainda enchem o peito para falar que estes são seus subordinados. Na verdade, subordinados são eles, que não conseguem fazer o trabalho que estes outros povos podem. Eles não têm a capacidade de cortar a cana para obter o seu próprio açúcar, e para isso necessita de alguém, e ainda se dizem ser auto suficientes só porque possuem uma Mercedes em sua garagem. Mas esquecem-se de que, para poderem ter o que têm, precisam passar por cima dos seus princípios, se é que têm princípios. Enquanto têm idosos dando seu sangue para ter um balde de água em sua casa no meio do sertão nordestino, estes a jogam pelo ralo.
Quem esses seres humanos que se acham superiores pensam que são para destratar sua raça? Não pode ter compaixão um pelo outro nem um segundo, porque um segundo para eles é dinheiro. Tempo se resume a dinheiro. Então, dão de ombros para aqueles que se machucam no trabalho canavial, ou até mesmo morrem com algum tipo de insolação no trabalho agrícola, para eles é fácil, só substituir. Mas agora me diz, será que estes que sofreram tais danos, irão poder ser substituídos para a família? E aqueles filhos destas gentes que os aguardam ao chegar em casa, na esperança de ter um quilo de feijão ou até mesmo um quilo de farinha para enganar o estômago da fome? Me explica, como deve ser para essas pessoas passar dias com a água escassa e, suportar aquele calor de mais de 40º. Me explica, como deve ser para um pai trabalhador rural, chegar em casa sem um centavo no bolso para o filho, sem poder dar o que o filho queria, porque não pode ou porque não tem. Porque na verdade, seu patrão o paga covardemente mal, para trabalhar o dia inteiro, e chegar no fim da noite com o suor no rosto e ainda com o brilho nos olhos de ter a esperança de um dia poder dar ao filho um estudo adequado ou até mesmo uma bola de futebol que ele nunca teve. Me explica, como deve ser para mãe de uma família, ir trabalhar e deixar seus três filhos em casa, sendo a mais velha ter 7 anos de idade, porque tem que dar o sustento para estes. Mesmo o sustento sendo 5 reais por dia ou 20. O que seria 20 reais para uma família sem ter nem onde dormir direito? E as pessoas ainda têm coragem de abrir suas bocas para falarem de direitos iguais, sendo que elas próprias não olham para o próprio umbigo, e não percebem que seu mundo não se resume à apenas sua academia, seu colégio de classe média alta, e suas festas de socialite. Mas sim, por esse Brasil afora, possui um número gigantesco de pessoas que não possuem nem um par de sapatos para irem trabalhar. Onde os idosos não possuem direitos. Onde as crianças são escravizadas até hoje para produzir o tênis que você usa para jogar futebol. Um país, ou os países, onde a democracia é apenas uma válvula de escape e, a poeira é toda debaixo do tapete.
Agora eu me pergunto todos os dias: quando é que vão dar uma faxina? Ah, me esqueci! estão ocupados pedindo uma pizza.

domingo, 7 de março de 2010

Muito prazer, meu nome é otário.


Se for por amor às causas perdidas. Se bem que, eu ando mais perdida do que você, do que eu, do que nós dois juntos. E não é só aqui não ó, na matéria física, o maior problema está aqui na cuca. Meu caso perdido é o que mais dá vontade de encontrar. É um belo paradoxo, mas dentro do contexto essas duas palavras interligam-se, pelo menos é de acordo com o que eu quero dizer. Mas eu quero te dizer que, realmente, existe um traço no infinito no qual se assemelha as lanternas dos helicópteros à procura de sobreviventes causado por um naufrágio. Naufrágio, essa é a palavra certa. Sofri um naufrágio e estou em um daqueles botes salva-vida. Por favor, não queira juntar-se à mim, se eu não sou nem capaz de suportar as minhas próprias dores, como irei suportar o dobro? Então, se conselho fosse bom, seria vendido. Portanto, te digo com toda a minha alma, você precisa perder-se para poder encontrar-se, porque senão, o que resta? Vai viver que nem comercial de sabão em pó? Risos distribuídos, abraços a cada um minuto, gargalhadas (na maioria das vezes falsa) e assim pretendes levar sua vida? Tentando mostrar para outro ser igual a você que és feliz quase sempre. Ou sempre. Mas a minha conclusão não me diz isso, pelo contrário, existem momentos felizes, porém a maioria da nossa vida se constrói em cima de grandes lutas e batalhas. Não estou dizendo-te para tirar teu sorriso do rosto, mas sim pra não teres medo da melancolia, ou até mesmo daquela dor perfurada aí dentro do seu peito. Porque todos temos.
Um dia eu estava conversando com um amigo, e comecei a observá-lo, até que ele me perguntou o que aconteceu e, o respondi que eu estava tentando decifrar se dentro dele faltava algo, este me respondeu que sim. E foi uma resposta bem pensada. Sim. Sempre falta alguma coisa, seja lá o que for, sempre vai faltar. Resta apenas você para tentar descobrir ou encontrar essa tal coisa no qual te necessitas desvendar. Podemos até dizer que esta coisa serve até mesmo para te desvendar. Tenho em mente de que, somos feitos por pedacinhos espalhados por esse mundo no qual vivemos, que nem nós mesmos conseguimos achar. Preste atenção, não és feito apenas de um grande amor, não és feito apenas daquela sua alma gêmea no qual acreditas ter. Eu também acredito nessas teorias-sobre-o-amor-não-encontrado. Mas não que eu sou feita apenas dele. Somos feitos das coisas mais inusitadas que podemos imaginar. A maior parte do tempo, somos feitos de buscas insaciáveis, lutas na maioria das vezes difíceis, vitórias com sabor de quero-mais, o beijo do namorado ou da namorada, o coração partido, o choro no colo da mãe, o carinho do irmão(a), a palavra agarrada em nossa mente, até mesmo pelas pessoas desconhecidas no qual vemos todos os dias, seja andando à caminho do colégio, no ônibus para faculdade, em seu trabalho, em um banco, lojas, shoppings... olhe bem para o seu lado, nunca mais irás ver aquelas pessoas, pelo menos a maioria delas, como se fossem para você, passageiros de sua vida. Assim como você também torna-te passageiro para eles. E é assim que somos formados. Por pequenas partículas perdidas, desencontradas, ambíguas... chames lá do que for.
As pessoas não são feitas de sorrisos e momentos de extrema felicidade, o tempo todo. O mais gostoso de viver, é saber aproveitar os momentos de estar só com você mesmo, seria um jeito de se conhecer melhor, para conhecer os outros. E assim, estar em constante alegria tanto com você mesmo, quanto com os outros e a sociedade à sua volta. Você precisa perder-se, para conhecer-se. Mas sozinho. Porque é nos momentos de solidão, que nossa mente enxerga de outro ponto de vista, do que quando estamos com pessoas a nossa volta. Muitas vezes, somos aquilo que a sociedade nos torna, e não aquilo no qual gostaríamos de ser. Em vez de dizer tantos 'eu amo você', repita para ti mesmo ou cole no espelho: eu amo você.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Astrounauta, diz pra mim...cadê você?


Toda carta de amor é ridícula. Se não fosse ridícula, não seria carta de amor, como já dizia Fernando Pessoa.
Calma aí, me ouça, eu quero te dizer, antes de pegares esse avião, que meus dias têm sido melhor. Eu tenho gostado mais de mim, para aprender a gostar mais de ti, espera um pouco, não quer tomar um capuccino? Poderíamos conversar sobre isso melhor, e não aqui nesse portão de embarque. Essa moça falando toda hora que seu avião está partindo daqui a uns minutos está me enlouquecendo. Mas deixa eu concluir, já estou terminando, te juro. Presta atenção, minha dor no peito melhorou muito desde que te conheci. Eu tenho visto as coisas de um jeito diferente, sabes? Eu ando vendendo amor, o amor que tu me deste, e eu queria te dar mais. Lembra daquela pedra que eu tinha dito pra ti antes de nos conhecermos? Então, ela quebrou-se. Não digo que tenha sido quebrada sozinha, mas sim, tu quebraste ela. Antes eu me via como uma enorme iceberg sem previsão para derreter-se, e aí veio ti, com teu calor, derreter-me. Agora me diz, tens mesmo necessidade de ir? Deves estar agoniado dentro dessa sua jaqueta de couro, a minha favorita claro, e deves estar com aquele All Star surrado já. Acho que estás esquecendo-se de alguma coisa que estás levando contigo por engano. - Por engano? Não. Mas do mesmo jeito, devolva-me meu coração no qual carregaste contigo para essa sala fria em que esperas para pegar seu vôo às 20hrs rumo à lugar nenhum. Quisera eu que ele fosse rumo ao meu coração. De volta. Irei voltar para casa com as mãos no bolso da minha calça, sim aquela calça destroçada na qual amas. E irei sentar-me na cama, e lembrar de todos os gestos, e carícias que trocamos durante sua curta duração ao meu lado. Ainda tens que ir? Ainda tem os teus dedos finos deslizando-se sobre a minha cintura, enquanto me dedilhas parecendo que sou seu violão. Boy, tu és meu acorde mais bonito. Nossa casinha de cobertor, nossa luz de cada manhã, seus beijos ao pé do meu ouvido, cantando uma melodia gostosa de se ouvir, sim! Aquela música que tu amas, e sempre dizias que lembrava de mim ao escuta-la, era aquela assim: é, morena, tá tudo bem. Sereno é quem tem a paz de estar em par com Deus. Pode rir agora que o fio da maldade se enrola. E repetias no meu ouvido sempre ao acordar, com ênfase: para nós, todo amor do mundo, para eles, o outro lado (...) Ser assim, eu não. Prefiro assim com você, juntinho, sem caber de imaginar, até o fim raiar. E no fim dessas palavras encontrar teus braços que enlaçam os meus, e apertavam-me contra ti em um gesto de não querer largar-me mais. E tua camisa de botões, me servindo de pijama, e lembro que sempre implicavas, dizendo que eu era muito pequena. E eu fazia um bico deste tamanho, sentada na cama, e logo com esse teu sorriso, chegavas perto de mim e me roubava milhões de selinhos seguidos, e abraçava-me, meu Deus! Me diz como vou ficar sem teu abraço capaz de tornar para mim um abrigo? Um refúgio dentro dos teus braços.
Nossos dias de preguiça, onde ficar em casa era sempre a melhor opção. E enquanto eu arrumava o quarto, ficavas sentado com aquela tua bermuda que eu detestava, tocando violão, e sempre acabavas na mesma música, e repetia com esses teus olhos de jabuticaba, fixos em mim: do nosso amor, a gente é quem sabe, pequena! E ao mesmo tempo em que eu ria, ficava emburrada também, porque não parecias se importar com nada, eu sei, eu sempre reclamava da bagunça, da sujeira, e tu me vinhas e me puxava para dentro de ti, do teu ser, e me acalmava, e me apertava, e me beijava, e me repetia o que eu estava cansada de saber. - Mas acredite, eu nunca cansei das suas repetições. Lembras daquele dia em que fomos dançar? Eu nunca fui boa em passos, já ao contrário de ti, que era ótimo. Lembro que ficamos sentados um fazendo careta pra cara do outro, até que cismastes em querer dançar e me perturbaste durante séculos de horas para te fazer companhia, até que desististes e fostes dançar com uma moça de cabelos cacheados e super bonita. Me Distorci de raiva. Ao término da música, estendeste a mão para mim e, com um olhar de ciúmes, peguei-a. Me conduzistes até o centro da pista, e disseste bem baixinho só para eu ouvir que eu ficava linda com raiva. Eu nunca gostei do poder que tinhas sobre mim. Mas confesso que eu no fundo amava. Amava como sabias me decifrar, amava o jeito que me olhavas, o jeito em que me tocavas, amava a nossa música, nossos beijos em dia de frio, nossos banhos de chuva, nossa cama sempre desarrumada, nossos lençóis brancos, seus beijos de bom dia, seu abraço de boa noite. Seu lugar ao meu lado. Que, agora, não é mais.
Mas, eu vou me adaptar. De algum jeito, nem que eu cometa um ato de morte, não te preocupes, eu ficarei bem. Bem, com a alma rasgada. Bem. Agora, me prometas uma coisa: não te esqueces de mim?
Agora as linhas estão acabando, e provavelmente teu avião estará decolando uma hora dessas. Boa viagem. Prometas se cuidar e ligue-me, se quiseres. Meu celular continua o mesmo. Nosso plano de fundo também. Ligue-me até quando não quiseres ligar, só o teu silêncio do outro lado da linha me fará contente.
E ah! Antes que eu me esqueça, eu adorei dançar com você...
Te beijo. Te espero. Te cuido.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Dos versos meus, tão seus


Era domingo. As gotas de chuva caíam bravamente pelas janelas, arrastando-se mais devagar para suas extremidades.
O desespero tomava-me por completa, enquanto me afundava nos papéis para entregar no dia seguinte, para um trabalho anual. E já eram seis da tarde.
Coloquei Gonzaguinha para tocar na minha vitrola, e me assentei sobre a almofada jogada no chão da sala. Enquanto escutava a batida da música, ao meu ouvido Gonzaguinha me recordava de um certo tipo de amor perdido, "espere por mim, morena, espere que eu chego já, o amor por você morena, faz a saudade me apressar. Tire um sono na rede, deixa a porta encostada, que o vento da madrugada, já me leva pra você...". Me levantei em direção ao quarto, cantando sozinha. Me agasalhei e saí. Qualquer lugar era melhor do que ficar em casa, naquele momento. Não gostava das recordações, parecia que, em algum momento, ou em todos os momentos, o cheiro dele ainda estava impregnado em um dos meus melhores livros, ou até mesmo ao lado esquerdo da minha cama, onde ele costumava dormir.
Bati a porta. A rua parecia calma. Ao contrário de mim. Por fora, intacta. Por dentro, aos cacos. Entrei em uma das inúmeras cafeterias e pedi um mocha, grande, com pouco açúcar. Temos que cuidar da saúde, pensei. Sentei-me ao lado da janela, na qual dava para um parque. Parque deserto. Café deserto. Rua deserta. Eu, deserta.
Minhas mãos agitaram-se pela demora do meu pedido e, em um gesto aleatório, levei-as ao outro lado da mesa em que estava sentada, tocando devagar a ausência inexistente naquela parte, sem ninguém. Me ajustei. Ora, convenhamos, quem nunca perdeu um amor? Seja lá o que perdemos, se for realmente nosso, volta. Sempre volta. Tu sabes. Ou não.
A porta da cafeteria mexeu-se, entrando um rapaz alto, digo, mais alto que eu. Tinha um olhar distante, poderia jurar que o conhecia de algum lugar. Sentou-se na mesa ao lado e, nas mãos, trazia um livro. Fiquei curiosa. Eu o conhecia, tinha certeza disso. Aquele seu sorriso tão indeciso me matava por dentro. Levantei-me e, decidi: vou até ele. Passei uma das minhas mãos pelas suas costas, me movimentando rápido para sua frente, arrastei a cadeira e sentei-me. Pude notar que seus olhos me fitavam com medo, espanto e, uma dor. Fiquei calada. Ficamos calados. Calados um tempo enorme, decorando cada detalhe um do rosto do outro, procurando algo que, ali pudesse explicar tantas palavras perdidas ao longo dos anos. Minha boca movimentou-se - Quanto tempo dormindo do mesmo jeito desde do dia em que fostes por aquela porta... e, com um sorriso no canto de seus lábios me respondeu, pegando em minha mão levemente - Desde daquele dia, meu maior desejo todas as manhãs, foi de voltar a acordar e te ver sorrindo para mim.
Silêncio. Meu café esfriou. A cafeteria esvaziou. E, de repente, a moça do caixa toca em mim, dizendo: - Senhora? Estamos fechando, gostaríamos de saber se queres mais algo. Foi quando me despertei. E assustada olhei para a minha frente, na vã tentativa de achar de volta aquele sorriso que derretia cada pedaço do meu coração. Não estava lá. Não está lá. Nunca esteve lá. Nunca estará lá.
Ele existe apenas dentro de mim. De mais ninguém. Mas uma coisa eu estava convicta: seu sorriso era o mais bonito e o mais iluminado, de todos os que eu já tinha visto.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Senta-te ao sol. Abdica.


O sinal toca. As crianças organizam-se em filas para o início das aulas rotineiras. E de repente, fico sendo espectadora da minha própria vida. Logo, penso: mais uma vez o Caio estava certo, é cada dia mais difícil tornar-se adulto, ou até mesmo estar em fase de transição. Digo isto porque, a cada dia em que se passa, cada batida do relógio, é como se fosse mortal. De repente nos vemos na direção de nossas próprias vidas, no comando das situações que, antes, eram lideradas por nossos pais. Hoje, o problema com aquele amigo, a palavra cravada no peito como uma faca, não é mais retirada por uma palavra do nosso pai ou nossa mãe, mas sim de nós mesmo. Um dia que, aquela pessoa que achavas que nunca iria te decepcionar, te desaponta, não vai ser sua mãe quem vai tomar as dores e falar olha-só-você-machucou-meu-filhinho, mas sim você mesmo. Não é que nem quando tínhamos cinco ou seis anos que, por não ganharmos algo no qual queríamos, ficávamos com um bico deste tamanho, e só melhorávamos quando ganhássemos aquilo no qual nós tanto ansiamos. Não é diferente na transição pra vida adulta. A unica diferença é que não podemos ficar com bico, nem fazendo birra muito menos chegar em casa e chorar deitado na cama, esperando acontecer o que queremos. Quando crescemos, nos ensinam a lutar pelo que queremos. Não temos armas, as armas são nossos corações. Nossa vontade. Nosso desejo. Mas por mais incrível que seja, é a luta mais difícil que existe! Nem sempre temos vitórias. Nem sempre lutamos por aquilo que queremos, seja por algo que nos aconteceu antes, por uma tristeza, trauma, ferida aberta, exposta. Ou pode ser pelo simples fato de não termos aprendido a lidar com o 'crescer'. Eu tenho que crescer, para dentro e para fora.
Ao crescer, trocamos a mochila de rodinhas por uma 'dentro da moda' jovem. Trocamos o beijo do pai, pelo do namorado. Trocamos as canetas de cheiro, por perfumes caros. Trocamos os lápis coloridos, por esmaltes. Trocamos o pique-esconde, pelas famosas boates. Trocamos o colo da mãe, pelo das amigas. No lugar daqueles penteados diferentes em que nossa mãe sempre fazia, ficam os cabelos de ultima geração. No lugar dos gibis, ficam os livros grandes de química e física recheados de questões de vestibular. E, o nervosismo da primeira prova de matemática, é trocado pela tensão da faculdade. Estamos fazendo escolha a cada minuto que se passa. Abdicar. Sinto falta do jantar pronto, da minha mãe checando minha agenda, do beijo de boa noite do meu pai, de, no meio da madrugada, me ingressar entre meu pai e minha mãe, e fazer dali, um refúgio. Tenho saudades dos meus medos que, comparados com o de hoje em dia, eram nada. O sinal toca pela segunda vez e, lentamente os passos das crianças subindo pela escada, vão ficando cada vez mais baixos e, inconscientemente desperto para dentro. Viver torna-se complicado, penso.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Deixa o vento soprar...



"Sapatos mais confortáveis para mais sossego." Era o que estava escrito na camisa de um rapaz no qual estava com a sua namorada - era namorada? provavelmente, pois de acordo com a minha memória tão congestionada, seu braço estava em volta dela, um gesto meio protetor, como se tivesse abraçando-a, em diferente cadeiras.
Sossego. Essa palavra me chamou atenção. Me instiguei durante uns cinco minutos e concluí: sossego.
Saí repetindo sete vezes a mesma palavra para ver se me daria sorte, qualquer coisa que emane esperança, eu estava carente, desesperada, perdida, assustada (...) Aquela sorte colorida, sabe? Bem aquele tipo de desenho animado ou pode ser sentido figurado mesmo, aquele trevo de quatro folhas, pé de coelho, dente de leite, imagine a sorte que for, contanto que seja algo semelhante a esperança, acordar de manhã como se tivesse algo à minha espera. Um beijo, um café, um abraço, uma palavra, um toque, uma ação. Minha sorte é diferente. Minha sorte é um parto de uma criança, sofrimento no início e um certo tipo de êxtase ao acabar.
Meus dias ultimamente vêm sido comparados com a previsão do tempo: sol forte quase o dia todo e pancadas de chuva à noite. Alguém por favor pergunta à moça que trabalha no jornal, se eu posso mudar? Eu quero optar por sol forte o dia todo, mesmo não sendo fã do verão. Mas é o que eu preciso. Preciso muito. Preciso demais. Verão me traz sorrisos, amores repentinos, realização, reconciliação, verão por ser claro, me abre os caminhos. Mas acho que devo tender ao inverno. Não me preocupo, deixo ser. Como já dizia o grande Lennon, let it be...