domingo, 11 de abril de 2010
O inventário do Irremediável
O que dizer? Que te amo, que te espero, que te aguardo todos os dias a noite mesmo sabendo que não vens, que ainda te espero do mesmo jeito em que te vi partir de mim, que ainda encontro-te mesmo sendo em meus sonhos e acordo com a sensação de que passaste por lá e fostes embora pela manhã logo cedo, assim como quando a lua se vai para dar lugar ao sol. E nisto, tu se vais junto com esta, e parece que só me apareces quando o sol já está abaixo, e aí me bate aquela melancolia de fim de dia, aquela lamúria de como-eu-era-feliz-e-nunca-soube-disso, e escuto Maria Bethânia até o dia raiar com um copo de vinho na mão, e as almofadas jogadas ao chão. Acho que não seria recomendável dizer que minha porta estará sempre aberta para ti mas sim, perguntar se a tua estará aberta para mim. Eu sei que estou meio atrasada e ando meio desligada em meio a nossa (ex)relação, mas quero lhe informar de que, eu espero que o tempo ainda me sirva para dizer-te que eu sei que andava errada e a tua ida nunca foi uma surpresa para mim. Aliás, tu nunca fostes uma surpresa para mim. Nem eu para ti. Nós nunca fomos nada um do outro mas ao mesmo tempo fomos tudo. Não me aches louca, estou sendo breve e curta, tentando não rodear tanto por entre meus rodeios e devaneios frenéticos que sempre tenho pela noite. Mas como eu estava mencionando, meu vinho sempre acabara lá pelas cinco da manhã e eu inventava de ligar para alguém e dizer olha-eu-estou-tão-sozinha-vamos-ver-o-nascer-do-sol-no-arpoador. Eu sei, meu bem, não adianta. Nunca irá adiantar os esforços que eu faço para preencher algo no qual só eu mesma poderei fazer.
Não queira me entender, apenas me entenda. Mas dentre tantas idas e vindas, deixa eu te dizer de que tu perdeste uma parte da minha vida, ou uma fase. Não sabes mais de nada sobre mim. Muito menos eu de ti. Não sei se ainda continuas gripando no inverno e usando esse seu casaco de lã que eu sempre dizia que era isto que te dava alergia, e não sei se ainda ficas com o nariz vermelho de tanto espirrar. Não sei se ainda tens essa voz meio rouca na qual ficara mais rouca ainda ao acordar, e me acordar com a tua boca na minha orelha fria repetindo que está tudo, tudo bem. Assim como tu não sabes mais nada sobre mim. Tu não sabes de que meu aperto no peito diminuiu e, de que, aprendi a tocar violão. Tu não sabes de que fostes tu quem me incentivastes a escrever em segunda pessoa do singular e de que fostes tu quem me ensinaste a ser romântica, junto com teu romantismo medieval. Tu nem imaginas de que estou fazendo pinturas para mim mesma e me socializando junto comigo. No quesito, digo que ando mais eu-comigo mesma. Acho que estou seguindo teus passos quando tu eras presente. Sempre gostei da tua singularidade e do quanto tu te tornavas responsável por tanto carisma em pouco tempo. Tenho achado viver tão bonito, meu caro. Tão bonito. Ando com uma felicidade meio louca, como eu queria que estivesses aqui! Tirar de ti essa imagem de menina deprimida, na qual tu me conheceste. Viver me enlouquece! Acho que estamos em um constante Pinel a cada dia que passa-se. As pessoas são loucas, lunáticas, umas com uma cabeça longe outras perto. Umas conseguem ser distantes e irremediáveis. Outras sonhadoras, outras realistas... Deves perguntar-se o que teria me dado para uma troca de opinião tão rápida assim. A resposta, meu amigo, está em ti mesmo. No meu caso, só estou tentando ver as coisas um pouco mais bonitas, mais arrumadas, mais memoráveis. Eu não iria conseguir expressar nenhum sentimento com a minha falta de sentir. Eu não sentia mais nada a um bom tempo, meu amor. Era uma coisa oca, dentro e fora. Movimentava-me meio sem rumo, meu olhar andava perdido, ainda anda, mas isso nós resolvemos depois. Muitas pessoas acham que sabem tudo sobre mim, acho isso tão gozado! Pois nem eu mesma me compreendo. As vezes, nem eu mesma me suporto. Mas estou peixe, afinal, o que há depois? Vivo um dia de cada vez, o amanhã, quem sabe o que me trará, por enquanto estou resgatando-me, para depois resgatar-te. Deixa eu te ensinar como viver é bom... Pode ser bom, as vezes. Não digo sempre. Sempre pinta algumas desavenças, uns poços aqui outros ali, mas é só pular, certo? Fomos presenteados com um belo par de pernas no qual nos leva além do que achamos que somos levados. Até mesmo para as estrelas, mas aí já é demais. Claro que não! Nunca é demais. A vida foi feita para ser explorada e não para viver em uma imaginação limitada. Quem tem uma mente pequena, possui um mundo limitado diante de seus olhos. Vivemos de realidade todos os dias. Desde da hora em que acordamos até a hora em que nos recolhemos para dormir. Uns acham um jeito de sair desta realidade na música, televisão, arte, lua, e outros mais. Porém outros fogem da realidade na escrita, onde tudo podes realizar. Onde tu és o autor da tua própria história, assim como faço. Escrever é colocar para fora tudo aquilo que pensas sem seres questionado. Tá, as vezes és. Mas é o que pensas. Podem tirar tudo de ti. Tudo. Mas nunca conseguirão te tirar aquilo que tens aqui ó, na cuca. Escrever é nascer para dentro, meu amado. É onde tu podes fazer acontecer.
Gosto de falar que nasci em nenhum lugar, mas sim pelo mundo. Ou dentro de mim mesma. Nascer todo mundo nasce. Difícil é viver. Assim como querer morrer, quando a coisa está preta, todo mundo quer. Achando que assim é uma fuga para tudo, mas vai enfrentar teus próprios medos e vencê-los, que terá vitória. Não moro no Rio de Janeiro. Não moro no Brasil. Não faço parte da América. Não pertenço ao ocidental. Não faço parte do planeta Terra. Faço parte de mim mesma. Não tenho tribo. Minha tribo, sou eu.
Mas ah! Como eu estava lhe dizendo... permita-me perguntar-te uma coisa: tu ainda cogitas a possibilidade de poder voltar?
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