terça-feira, 20 de abril de 2010
Paralelos que se encontram no infinito...
O vento carregava consigo um certo tipo de lembrança dolorida e ao mesmo tempo gostosa de sentir-se, para ela. Como se de alguma forma, ele resgatasse o menino que o acaso levou para longe desta, e assim, trazendo em seu leve balanço, os beijos perdidos que um dia este a mandou, de tão longe. Ao cair da noite, colocava a rede ao lado de fora de sua casa e deitava ali, sozinha, aliás... com a presença dele. Que para muitos que a viam, era só. Nunca foi de inventar estórinhas, contos para si mesma, mas passou a fazer isto. Só assim saciava de certo modo e a fazia acreditar um pouco mais, que um dia, quem sabe, na calada da noite, ouvirá outra vez a porta encostar-se suavemente, sendo acompanhada de passos suaves em direção a sua cama, sentido novamente a presença de teu guri, ao chegar do trabalho.
Não parou de viver. Ainda vive. Coração pelas tabelas, rasgado, perfurado, apertado, pequeno, mas vive. Já passaram-se cinco meses e para ela parece mais 5 dias. Ou cinco horas. Não acostumou-se. Não iria acostumar-se assim, tão depressa, tão de repente, tão recentemente.
Ao mover-se pela casa, ainda podia assistir a cenas passadas em cada canto, em momentos utópicos onde encontrava-se embalada, coberta e de certo modo protegida, pelo seu amante, amor, marido, homem, menino. Sentou-se no sofá no qual era tão gigante só para ela, e riu de si mesma, ali, tão patética, burra, alienada, vivendo de passado, ou não conseguindo enxergar o presente. Mais antes o passado do que o presente.
Ele prometeu-a voltar. Acreditou. Acredita. Acreditará. Enquanto espera pela sua volta, estará bem onde ele a deixou. Com o coração na mão. Toda noite deixando a porta encostada para que o vento possa o trazer novamente para seus braços, e assim, antes do sol vir a aparecer, vê-lo ali, bem em seus braços para nunca mais sair. E em noites de frio, o cobertor não será o suficiente para cobrir-la, tendo assim necessidade do calor humano daquele que um dia a ensinou a dormir como ninguém. E no que pensas, o tempo arrasta-se cada dia mais devagar, alimentando-a cada dia com mais esperança, de poder sentir novamente os lábios dele em seus, selando assim o amor tão esperado ou inesperado.
"Espere por mim, morena, espere que eu chego já. O amor por você morena, faz a saudade me apressar..."
25 de janeiro de 1989
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