
E ele que me contemplava no silêncio, passava a mão sobre a minha cabeça, sorria-me um sorriso de paz, e sempre dispensava as palavras ao chegar-me. Não esperava uma atitude minha. Ele fora sempre tão dentro de si e dentro de mim, que de alguma maneira, falávamos entre as línguas, algo no qual ninguém entendera, apenas nós dois. Era um certo tipo de linguagem criada para a fala de duas pessoas vítimas de algo abominável e ao mesmo tempo, tão singelo. Suas mãos sempre foram grandes demais para assegurar-me em seu peito, e longas demais para afastar-me com um impulso vital. Nunca sentia sua ausência por entre meus lábios, e ele muito menos. Tínhamos um ao outro, o que mais poderíamos ter? Que se acabe o mundo, que a conta de luz venha o dobro da que era, corte nosso telefone, tire nosso apartamento, expulse-nos. Só não corte meu único laço umbilical que liga-me ainda neste mundo de gigantes. Sua presença era reluzente sobre meu dia, até o momento em que, ao chegar, ficou imóvel, apenas com aqueles olhos pretos fixos em mim, esperando um certo tipo de aproximação, ou atitude. E ali eu começara a sentir sua falta por entre meus braços, e minhas mãos tornaram-se ásperas pela espera dele vir em minha direção e tirar-me da inércia, puxando-me para um longo e forte abraço onde as palavras são descartadas. E ali me dei conta, sua ausência nunca foi tão dolorida como naquele momento. E o vi como eu nunca o tinha visto antes, e eu o desejei como se eu nunca tivesse o tido dentro de mim. Quebrei a distância dando um passo para frente e largando-me em seus braços, e ele, que sempre esteve ali, para mim era como se só tivesse presente, naquele instante.
Parabéns pelo dom da escrita que você possui
ResponderExcluircontinue postando,não paraaaa, aguardo ansiosamente pelo seus textos
beijo de uma grande leitora!
Perfeito!
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