quinta-feira, 1 de abril de 2010

A bailarina e o Soldado de Chumbo


O dia estava raiando e, suas sapatilhas marcavam caminho em direção ao sofá. Um sofá largo, de cor meio desbotada, bem típico burro-quando-foge. Enquanto dormia, os braços dele a enlaçava como quem enlaça um presente precioso e, distribuía beijos a partir da sua nuca até seus ombros, como quem cuida de uma jóia rara. Não demorou muito, os ponteiros do relógio cravaram as 15:00hrs e ela despertou como quem desperta do sonho da branca de neve com o beijo de seu príncipe. Porém ela não estava em um conto de fadas, mas ele era seu verdadeiro amado. Conheceram-se em uma abertura onde ela apresentou sua dança clássica e este ficou tão admirado que precisava tê-la de algum jeito, e conseguiu. Mesmo que fosse por um dia, dois. Uma hora, um instante, como se a pele dela e a sentir em um só corpo fosse sua cura de tantos outros machucados.
Tentou pará-la, segurando em seus braços e tentando a prender para não ir embora, como se ela já fizesse parte de sua casa e sem esta, a casa ficasse pequenininha e toda a magia daquela noite fosse junto com ela. - Ah... Pensou. - Não me deixe só, o sereno dói.
Ela se assentou do lado dele e o olhou nos olhos, procurando achar algum sentido para tudo aquilo ter acontecido, achou-se fácil demais por ter sido levada para cama em uma noite só, porém tinha algo de muito diferente na história, era como se eles se conhecessem muito antes de saber que iriam conhecer-se ainda. E nisso, ela levou uma de suas mãos ao rosto dele, tão marcado pela expressão de tristeza ao vê-la arrumar suas coisas para partir, e ficou acariciando-o. Durante um largo tempo de silêncio entre ambos. Mais uma vez a fala dos dois fazia-se desnecessária nesse momento. Logo, ele colocou suas mãos sobre a dela, e fechou os olhos como quem não quer acordar, e a beijou. Seus lábios eram como labirintos nos quais estavam dispostos a explorarem cada canto, cada gosto, cada textura. Mas o relógio os interrompeu novamente. Em um minuto vestiu-se, arrumou o cabelo e pegou sua bolsa. Ali, já era tarde demais para contestar qualquer tipo de possibilidade em que esta poderia ficar. Ele apenas ficou parado, naquele apartamento quarto e sala em que suou tanto para conseguir comprá-lo, e durante dias procurava uma razão para não morar sozinho, e encontrou esta razão, porém ela estava indo embora, novamente. Partindo e enquanto partia tentava não olhar para trás, como se fosse um gesto de não deixar nenhuma parte lá dentro. Tentativa em vão. Ao partir, deixou seu perfume e, esqueceu-se de levar suas sapatilhas de ballet. No mesmo momento, pensou em correr atrás dela, mas logo percebeu que tinha esquecido seu nome. Mas para ele, ela era Bailarina. Não tinha como confundir-se com outra. Era a sua menina na qual ele tanto esperava ao passar dos meses. E a encontrou. Porém, a teve que deixar ir, pois a amava. E tudo no qual amamos devemos deixar livres, para que estes possam sempre voltar um dia. Pode demorar, não digo que seja rápido, mas se realmente for seu, tem volta. E ele a aguardava ali, naquele pequeno apartamento onde se fez menor ainda com a ida dela. E ele a espera voltar, do mesmo jeito em que a esperou entrar...


Baseado em: Juliana Marvila

2 comentários:

  1. você é maravilhosa amiga ! amei o seu texto mais que tudo ..

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  2. muito lindo !!!! essas palavras!!

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