sábado, 1 de maio de 2010

Guarde-me sempre contigo, e leve-me aonde tu fores...


Era sábado a noite. Havia muitas pessoas, transitando de um lado para o outro, como verdadeiras perdidas, rumo ao nada. Música alta. Sorrisos demais. Alegria (falsa) demais. Bebidas demais. Cigarros demais. Tudo demais. Ela logo sentou-se. Estava sozinha, e não fazia questão de companhia. Isso era o que esta dizia para si própria, quando na verdade seu coração era um órgão carnívoro, como se precisasse de alguém 24hrs do dia para ela. Ficou bem. Seguiu em direção à janela, como se necessitasse de ar puro, novamente. Tinha claustrofobia. Ficou por lá uns instantes observando as estrelas, o céu do equador, e tentando traçar rotas e destinos para seus planos que borbulhavam dentro dela. Começou a falar sozinha por impulso próprio, não tinha ninguém, começou a inventar.
Aproximou-se então, um rapaz alto, magro, com um cabelo que movimentava-se de acordo com o vento, parecia que eles dançavam uma melodia tão bela, em uma harmonia...
- Gosta de estrelas? - perguntou ele.
- Gosto, mas elas nunca estão a favor de mim - respondeu ela soltando em seguida um riso leve, quase como a brisa.
- Ora, mas porque não? Uma moça com tantos mistérios em seus olhos, as estrelas encantam-se com isto. - respondeu ele, admirado com sua franqueza.
(Silêncio)
- Mas quem és tu? - indagou em seguida, como quem quisesse livrar-se da monotonia da conversa.
- Sou isto aqui, o que estás vendo neste exato momento. - disse ela, com uma de suas mãos ajeitando seus cabelos.
- Então se não definiu a ti própria, creio que poderei tirar minhas conclusões. És tu então, uma garota como todas as outras preocupada em ajeitar o seus cabelos. Ou podes ser tu, uma moça no qual habita um mistério em seus olhos tão profundos, que, ao encarar-te, vemos um certo tipo de labirinto no qual dá diretamente ao seu coração. Certos caminhos tortuosos, ventos, tempestades, fúrias... És um liquidificador de sentimentos, no qual posso sentir daqui as suas pernas trêmulas, ao me veres falando tudo isto. - silenciou-se.
Demorou um pouco a digerir o quem sou eu traçado, então, no perfil deste homem, no qual ela nem conhece, apenas por três minutos, um homem no qual veio falar com ela perguntando sobre estrelas, e terminando em seu íntimo. Mas fora o único que, para ela, perdeu o tempo tentando decifrar o que esconde em seus olhos, escuros como um abismo para quem conhece, e claro como sol para os que nem sequer dão-se o trabalho.
- Não irei definir ao meu ser, se não tenho conclusões exatas. Assim como fizeste comigo, poderei fazer contigo. Dizendo-lhe quem és tu, ao meu ponto de vista. - tomou fôlego e logo prosseguiu - És um homem cujo interesse está em buscar algo no qual nem ti mesmo sabes o que é, e teu coração está tão quebrado e pisado, que tentas o reviver todos os dias, dando-o um certo tipo de impulso vital, algo como choque. Mas tu te deparas com um problema no qual não há médico que resolva. Teus sentimentos tão maltrapilhos, que tens vergonha de dizer o que passas, com medo de ser repreendido pelas pessoas que o cercam. Nunca estás sem ninguém. Mas sempre estás sozinho. - parou em seguida, e fitou-o por um momento.
(Silêncio)
- Eu procurei-te por todas as ruas, esquinas, travessas, cruzadas. Depois de tantos naufrágios, te procurei em minha cama, em meus sonhos. E nunca estivestes em meus braços, mas é como se fostes tu quem fazia ausência entre eles. - ele vomitara seus sentimentos para fora, sua busca tão vã em encontrar algo perdido.
- Eu andei perdida este tempo todo até tu vires ao meu encontro nesta noite, nesta janela, diante destas estrelas nas quais nunca foram a favor de mim. - respondeu ela.
- Como se, as coisas existissem de um jeito amplo porque tu sabes da existência delas. Mas se tu não estás por aqui, parece que tudo fica sem som, até o tempo arrasta-se de tão cansado ao ver-me procurando-te em cada canto da minha vida. Agora se tu vens, as coisas ficam mais bonitas. Os jardins florescem. As flores se abrem. A primavera bate na porta... Ai! Já enfrentei tantos invernos sem fim, com tua ausência... - prosseguiu.
O tempo era rápido. O tempo devorava em fração de segundos o encontro de duas almas perdidas. Levando sempre ao fim, algo com dificuldade para construir-se.
Ela riu consigo mesma, mas não achando graça do que este a dizia, mas achando graça da peça no qual o acaso ou destino a pregou, sem nem mesmo desconfiar.
- Quem diria tu estás no meio de tanta gente chata, sem nenhum conteúdo, no meio disto tudo, você... Irei ter que partir. Mas levo um pedaço de ti para a saudade não apertar-me mais do que já estou. Levarei tua presença para que ao partir, eu nunca esteja indo mas sim voltando. E cravarei teu nome na lua para que esta, conduza-me e ao voltar, traga-me a ti novamente. Ao aconchego do teu peito, no qual encontrei um abrigo. E que, sempre ao olhar para esta, verei nela o teu sorriso, e tua face dizendo-me o que dizes, assim, bem como tu falas... - respondeu ele com pressa, como quem precisa ir embora, mesmo sem querer.
- Eu insistirei em cultivar tua presença mesmo sem saberes. E procurarei o teu perfume, sem encontrar. Pois parece que ele existe apenas em ti, ou será que tu existes apenas para mim? - perguntou ela, com um olhar triste e distante, como quem não encontrava-se mais ali.
- Se minha existência é apenas para ti, sorria. Pois ao acordar, lembrarás que existe um guri no qual tu conheceste em uma festa inexistente, que existe só dentro de ti. De ti, do teu coração. Ao sentir saudades, procure um jeito de avisar-me, levando suas palavras as estrelas, estas que hoje a noite, ficaram a favor de ti, e que acompanharam-me todo este tempo enquanto eu a procurava. Ao cair da noite, voltarei para ti, para contar-te sobre os lugares no qual freqüentei e aonde tu te fizeste presente, bem ao lado da minha cama. E o teu sorriso será como o meu caminho iluminado no qual eu irei seguir para que um dia eu possa voltar para ti. - encostava uma de suas mãos sobre a face dela, como quem toca em uma jóia rara.
- Eu estarei te esperando. Sobre a presença das estrelas. - disse ela, com uma voz que mal saía.
- Agora terei de ir. Te cuidas, por favor, te cuidas bem. Eu voltarei para te buscar, e levarei a ti comigo. Aonde eu for. Agora, sustenta-te. E levanta-te. Irei te cuidar bem, quando eu, novamente, estiver contigo. Algum dia. - disse ele, já desviando seu corpo em direção a multidão que ali encontrava-se, e perdendo-se entre eles.
Ela já não o via mais. E disse consigo, só para ela escutar, e a noite que ali lhe fazia companhia: - Volte logo...por favor.

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