terça-feira, 6 de abril de 2010

Que é pra ver se você volta...


Sentados na mesa, um de frente para o outro, ambos apreensivos com a reação ou com o que o outro irá dizer, onde o nervosismo estava à flor da pele, e o coração dos dois pulsando como uma bomba pronta para explodir a qualquer momento.
- Ora, quebre este silêncio e diga-me logo o que tens para dizer! Não faça tantos rodeios, parece que não me conheces... anda, qual foi o motivo em que me trouxeste aqui?
Ela dizia quase sem ar, como se o ar estivesse denso demais para esta respirar, ela via através de teus olhos que havia algo errado, e seu nervosismo foi todo para suas mãos, mexendo-as aleatóriamente.
Com um gesto quase bruto, tomou suas mãos e prendeu-as com as dele. Queria sentir sua pele junto com a dele um pouco mais, só mais um instante, ele sabia que isso não iria acontecer mais. Olhou-a nos olhos e, tomou uma respiração profunda e disse:
- Estou aqui para dizer que, primeiro de tudo, és maravilhosa. Ensinaste-me a amar e a me amar, antes que meu ônibus parta, queria deixar-te ciente de que, meu coração nunca foi tão bem cuidado como foi cuidado por ti, e agradeço-lhe desde já, pois todos aqueles machucados que ele possuía quando te conheci, sumiram junto com minha amargura, pois fostes tu quem conseguiste tirar cada ferida desse orgão que durante muito tempo, só pulsou por ti. Conhecer-te foi o que a vida me trouxe de mais esplêndido, foi um presente no qual eu não merecia, tu és uma pessoa no qual pouca gente merece, e sinto-me honrado por te ter. E antes que eu levante-me daqui, saibas de que, acordar e ver de primeira o teu rosto, todo início de manhã, não possui preço. Se eu acordo antes mesmo de ti, como sempre reclamavas pois as vezes eu acordava-te sem querer, era só pra ver-te dormir, me trazia paz de certo modo. Tu me traz paz. Sempre trouxe, e sempre irás trazer ao lembrar-me de ti. Tu me fizeste ver a minha vida de um outro ângulo, onde eu, tão cheio de pompas e orgulho forte, e um coração no qual ninguém jamais penetrou, fostes tu pela primeira vez, que conseguiu tudo isso. Eu cheguei a humilhação em confessar para outra pessoa feito eu, que necessito desta para viver. E eras tu. E és tu. Deixei no nosso antigo armário, que agora será só seu, minha camisa no qual tanto gostavas, e eu adoro como ela fica em ti, portanto, deixo-te com ela, para lembrares toda vez que vestires, a cara que eu fazia quando a colocavas, tu sabias exatamente como me deixar louco, mesmo sem jeito. Realmente, Lua, tu não sabes seduzir. Quando te conheci, ria tanto contigo, tens esse teu jeito tão... calmo e ao mesmo tempo agitada, tão desligada e, vindo de outras pessoas, isso é comparado a idiotice, mas vindo de ti, é tão...lindo. Adoro como te confundes ao tentar explicar algo e acabas se enrolando mais ainda, e adorava o teu orgulho, mas as vezes me tirava do sério, nunca vi tanto gênio assim em só uma pessoa, mas ao mesmo tempo, adoro tua humildade, como tu consegues ser tão pura e ter tanto amor assim, me ensinas, vai? És mais do que um grande amor, és um orgulho, és uma meta de vida para mim mesmo, ser que nem ti. Mas voltando aos teus defeitos que são qualidades, tu és engraçada demais tentando me provocar, por favor, não faça isso com seu próximo marido, certo? Não quero que ele vá embora com medo de ti. Mas também se ele for, não ligues. Pois ele não era suficiente e tu mereces alguém tão grande como ti. E ah, esqueci de mencionar teu sono quase inatingível? Não és muito de noite, e tive que me acostumar estando contigo, acho que irá ser difícil para mim ao me chamarem para ir para um boate. Não sei se irei ou se chorarei com saudades de ti, meu amor. Eu adorava te pegar no colo e te colocar na cama, porque sempre acabavas dormindo em um canto inesperado, como o sofá da sala, ou tu dormias na casa da tua avó, ou na casa daquele nossos amigos de Santa Catarina, e eu sempre tinha que te carregar no colo, porque se te acordassem, tu ficarias toda enjoada e acabaríamos brigando e como sempre tu colocando toda a culpa em cima de mim. E eu ficava furioso e batia a porta na sua cara, e depois tu se arrependias e abria a porta com aquela sua cara de cachorro-sem-dono e eu não resistia e te cobria de beijos, e tu ficavas toda manhosa ao meu lado e eu achava a coisa mais linda, ainda acho. E porque tu não sabes dançar também e, quando tu danças animada, é capaz de expulsar todas as pessoas da pista. E eu irritava-te dizendo que as outras meninas dançam bem melhor e tu ficavas toda bravinha comigo, e com aquele teu bico que só tu sabes fazer. E ficavas calada o resto da noite toda, e quando ias dormir, dormias a um metro de distância de mim e eu adorava rir dessa situação. Mas ao acordar, já estavas toda linda com esse seu sorriso capaz de iluminar até mesmo a lua, Lua. E tu iluminavas meus dias, meu trabalho, eras minha motivação, não preciso dizer que meus quadros todos foram pintados baseados em ti, né? Tem até um que está aqui comigo, que irei te dar para pregares naquela parede que eu acho horrível que tu pintaste, tu és tão sem jeito, Lua... ele é uma foto tua, dormindo. E concluindo nossa conversa, porque o relógio está quase com os ponteiros em 18:00hrs, o que eu queria te dizer era isso. Não sabias que eu iria viajar, eu sei, mas me perdoa, não queria te machucar. Eu te prometi nunca te deixar, mas acho que somos grandes suficientes para saber que nossas vidas são feitas de imprevistos e agora, eu fui vítima de um deles. Espero que um dia possas me perdoar, era a minha última intenção te magoar...
(Silêncio)
Com os olhos presos ao horizonte, ela não disse nada. Seus olhos pareciam se encher e se esvaziar de lágrimas, mas foi forte. Nesse ponto, seu orgulho era um mérito.
- Tudo bem. Vai. As pessoas sempre prometem o que não pode cumprir-se, e elas simulam uma conversa super bem-bolada e despeja palavras de amor ao mesmo tempo esclarecendo as coisas, em cima de ti, porque já sabes que não poderei fazer algo para fazer-te ficar. Mas voltando ao assunto, era isso que tinhas para me dizer, certo? O que esperavas que eu pudesse dizer? Ah-meu-amor-não-se-vá-preciso-de-ti-todos-os-dias-da-minha-vida-estou-perdida-sem-ti-blá-blá-blá-. Não te preocupes quanto ao quadro, irei quebrar. E espero que tenhas uma ótima viagem. Estou-me indo.
Levantou-se como quem carrega um peso em seu coração, mas ninguém vendo, tranquilizou-se e, saiu tão depressa que esqueceu-se de seu casaco.
Ele continuou sentado, olhando-a ir embora, sem nem um último beijo, e perguntava-se como iria conseguir partir sem a sua menina. Levantou-se também e, notou que esta esqueceu-se de levar seu casaco. Pegou para ele. Encostou-o em sua pele do rosto e fechou os olhos, podendo sentir o cheiro de sua amada. A vontade de ficar apertou.
Não viajou. Ficou. Ficou pois quem deixa algo, precisa ficar para resgatar esse algo, e no caso, era ela. Percebeu que não podia viajar sem ela.
No dia seguinte, resolveu ir até seu apartamento. Bateu uma vez na porta. Bateu duas. bateu três. Notou que não tinha ninguém em casa. Sentou-se na frente da porta, com sua mochila de viagem, e dormiu. Acordou com o barulho da porta do elevador abrindo e a viu. Ela por sua vez, ainda não o tinha visto, estava meio desastrada como sempre tentando procurar as chaves em que ela jurava ter colocado em sua bolsa. Deixou esta cair. Ele logo se apressou e pegou para ela. - Obrigada - Disse com um meio sorriso, ainda estava abatida pensando ter perdido para sempre seu amor. - De nada - Respondeu.
Ficou estagnada. Conhecia aquela voz, aquele perfume... Olhou para cima e o viu, não acreditou, continuou olhando, encarando, tentando achar significados e tentando acreditar que aquele era ele, ou não. Não queria iludir-se novamente, depois de tudo que ele a disse no dia anterior, ele não ficaria. - Ele não ficaria - Repetiu para si mesma, como quem fala sozinha. Ele aproximou-se dela por trás e falou em voz baixa, só para ela escutar. - Fiquei só por ti.
Logo, deixou seu orgulho, dores, rancores, mágoas, tristezas, lágrimas, chaves, bolsas, compras e ali, o abraçou tão forte, o mais forte que podia, fazendo este sentir seu coração já tão ferido de amar, mas reconstituído pela sua volta. Ele levantou-a vagarosamente, e apanhou as chaves que havia caído, entrou pela porta onde saiu e deixou as chaves em cima da mesa. Colocou-a na cama e logo se assentou ao seu lado. Vendo-a ali, tão linda, tão bela, tão pura, tão dele. Estendeu uma de suas mãos para tocar sua pele que parecia mais porcelana, e a olhando disse: - "Ser assim? Eu não. Prefiro com você, assim, juntinho, sem caber de imaginar..."
Aproximou sua boca da dela e, falando entre um beijo ela o perguntou: - Não me faças ter que ficar sem ti... E ele a respondeu cuidadosamente com suas palavras: - Agora eu te prometo, até que a morte nos separe.

4 comentários:

  1. Lindo lindo demais Carol...até chorei lendo!!!
    Parabéns!!

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  2. LINDO LINDO LINDO AMIGA!
    você é maravilhosa..
    chorei horrores lendo, você é deusa!
    o meu preferido até agora!

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  3. Parabéns, o texto é lindo.
    Continue escrevendo..

    ps: sou amiga da vickie, ela sempre fala do seus muito bem de você hahah

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